04 outubro, 2012

Imparcialidade Perigosa

IMPARCIALIDADE PERIGOSA


Na Política e nas Relações Internacionais não costuma haver grande margem para imparcialidades. Em regra há interesses, compromissos, rivalidades em jogo que impedem ou desaconselham a imparcialidade. Quando não existem esses factores, normalmente a distância e o poder do actor em relação à disputa tornam a sua imparcialidade (ou falta dela) irrelevante. Se se tratar de uma Superpotência, a questão da irrelevância não se coloca, portanto uma eventual imparcialidade só pode derivar do desinteresse, leia-se, da falta de interesses relevantes na área.

Como já referi noutro post publicado a 30/08/2012 (Senkaku & Takeshima em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2012/08/senkaku-takeshima.html , a China tem múltiplas disputas marítimas (delimitação de águas territoriais com 6 países asiáticos. Em 2010, Hillary Clinton fez uma declaração relativa ao Mar do Sul da China repudiando acções unilaterais, apelando a um código de conduta, à resolução das disputas  de acordo com o Direito Internacional, à garantia da liberdade de navegação e distanciando os Estados Unidos destes conflitos.

 O Mar do Sul da China (South China Sea) e as pretensões marítimas da China e de Taiwan (a vermelho) e do Vietname (a amarelo).
in STRATFOR em www.stratfor.com

Este Verão, porem, o Departamento de Estado criticou a China por escalar o conflito. Logo se levantaram vozes críticas nos EUA (e na China obviamente) contra esta atitude. Por exemplo, Douglas Paal (investigador do Carnegie Endowment) escreveu que “[….] Washington will need to protect its position of impartiality and avoid repetition of the misconceived State Department press statement.”

Embora se trate apenas do remate de um artigo (http://carnegieendowment.org/2012/08/11/dangerous-shoals-u.s.-policy-in-south-china-sea/dc0c), este tipo de posição enferma de vários problemas:

1-    O receio de enfrentar a China e os interesses chineses, mesmo quando estes afectam as potências ocidentais. Tal atitude (ou a falta dela), facilitou a rápida ascensão política, económica e militar da China nas últimas décadas. Isso não é intrinsecamente negativo, excepto quando é feito com prejuízo de terceiros, como é frequentemente o caso.

2-    O Mar do Sul da China é uma região de elevado interesse estratégico global, especialmente para os estados ribeirinhos e para o Japão, as Coreias, os Estados Unidos e a Rússia. Não é, portanto, uma área em relação à qual Washington se possa dar ao luxo da indiferença. Tanto assim é, que os EUA têm investido crescentemente politica e militarmente na mega-região da Ásia-Pacífico.

3-    Quando os poderes e a dimensão dos actores em jogo são tão díspares, como acontece com a China e os restantes 4 interessados no Mar do Sul da China (Vietname, Filipinas, Malásia, Taiwan e Brunei), uma atitude de imparcialidade equivale a um apoio tácito a Pequim, o que é absolutamente contrário aos interesses de Washington.

Paal aduz ainda que no Mar do Sul da China ainda não se atingiu “the Sudetenland moment”, numa referência à Conferência de Munique de 1938 que, para todos os efeitos, deixou a Checoslováquia à mercê do III Reich. Pois não, não estamos de facto num “Sudetenland moment”. O problema reside em retirar conforto desse facto. Se estivermos à espera do “Sudetenland moment”, então será demasiado tarde. Nesse momento, restarão duas opções aos EUA:

·         O appeasement, que será uma capitulação e a entrega da região ao domínio chinês.

·         Ou a guerra, que poderá bem ser a III.

Como nenhum destes desenlaces se afigura agradável, bom será que os EUA sejam proactivos nesta matéria para prevenir males maiores.

9 comentários:

freitas pereira disse...

Excelente, como de costume! Segundo parece, os Japoneses vão comprar estas ilhas aos proprietários ... japoneses, uma família privada. Fala-se de 20 mil 400 milhões de euros!

Claro que é possível ir procurar nos livros de história muitos motivos de ressentimento dos Chineses contra os Japoneses. A primeira guerra sino-japonesa, que permitiu ao Japão de ocupar a Manchúria, e provocou a perda de Taiwan, a invasão da China e os massacres de Nankin durante a última guerra, etc.

Também é verdade que os Chineses nunca invadiram o Japão , ao passo que este invadiu todos os países asiáticos. E de que maneira! E que estas ilhas litigiosas, Diaoyu (Senkaku) anexadas por Tokyo em 1895, precisamente no fim da guerra já citada, postas sob tutela americana em 1945 e oferecidas aos Japoneses em seguida, pelos americanos, para se encontrarem agora nas mãos duma rica família japonesa,
O imperialismo japonês não é um mito.

Mas também é verdade que a China é o novo imperialismo da zona. A China quer o "seu" mar inteiramente. Ora este vai longe, muito longe, até Sumatra, Malásia e às Filipinas! A China apalpa o pulso de cada um! Os vizinhos tremem!

Mas pensar numa nova guerra, sessenta anos depois, parece-me improvável, mesmo se o "The Economist" parece pensar o contrário.
Porque, temos de pensar nos 340 mil milhões de dólares de buziness entre os dois países, nos investimentos maciços do Japão na China, 11 fábricas de automóveis (!),a fabricação da maioria dos computadores japoneses deslocalizada na China, a China primeiro fornecedor do Japão, etc., etc.

Enfim, 1 bilião 400 milhões de Chineses contra 130 milhões de japoneses ? E a dissuasão nuclear chinesa?
Creio que alguém vai procurar evitar isso. Mesmo se muitos Chineses, cedendo a um nacionalismo feroz, gostariam fazer pagar aos Japoneses a factura da ultima guerra.

A lição "servida" ao Mac Arthur na Coreia em 1950, também não foi esquecida pelos Americanos, que não têm nenhum interesse numa guerra contra a China, mesmo se o tratado com o Japão os obriga a proteger o aliado.
O único beneficio que os Americanos retirariam duma guerra contra a China, seria de eliminar o maior credor de sempre ! Mas seria preciso ganhar! E seria necessário muito dinheiro... que eles não têm. Basta a guerra do Vietname que os pôs de rastos e da qual ainda pagam hoje os efeitos.

Freitas Pereira

Anónimo disse...

Ok!Vou falar com o Obama...ou com o outro??? É melhor esperar.

Ana

Anónimo disse...

Agree agree agree!!!! The only thing I didn’t understand was about Viva a monarquia....

We’re thinking about escaping the country...

Txxx

Anónimo disse...

Excelente!!!! é bom podermos continaur a ter "aulas". Beijinhos

Helena Alexandra

Rui Miguel Ribeiro disse...

Sr. Freitas Pereira,

Excelente comentário! Por acaso a China já invadiu o Japão, mas é preciso recuar ao século XIV, se a memória não me falha.
O que disse do Japãp é verdade, como é verdade quando diz que o imperialismo actual é o chinês e as suas pretansões amrítimas são a expressão mais viva dessa sede hegemónica de Pequim. Também acredito que não haja guerra, embora seja para mim evidente que se houvesse, os EUA teriam de combater ao lado do Japão (mudam-se os tempos...) e que ganhariam. Os custos seriam enormes para todos, principalmente para a China.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Ana,
Também acho melhor esperar. Romney é o "outro" ;-)

Rui Miguel Ribeiro disse...

Teresa,
Tks. Well, I just happen to think that Monarchy is the best system.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Helena Alexandra,

Isso é que era mesmo bom!!!

Bjs

Anónimo disse...

I couldn't resist commenting. Perfectly written!
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