28 setembro, 2006

The Long Goodbye

THE LONG GOODBYE
 

Tony Blair riding into the Sunset.
in "The Economist", 28 September 2006

Tony Blair é o estadista europeu de maior sucesso da última década. Está no poder há 9 anos, conquistou três vitórias absolutas consecutivas (feito inédito para o Labour) e vai retirar-se pouco depois de completar 10 anos no 10, Downing Street. Melhor do que ele em longevidade, só mesmo Lady Margaret Thatcher.

Para além da longevidade, Blair distinguiu-se por ser um político que destacou do cinzentismo e/ou incompetência de grande parte dos seus contemporâneos: Chirac, Schroeder, Berlusconi, para citar alguns, combinavam oportunismo com incompetência, por vezes roçando a desonestidade. França, Alemanha e Itália, marcaram passo, enquanto que o Reino Unido se destacava da Itália e ultrapassava a França para se tornar na 4ª economia mundial. Acrescente-se que, ao ritmo dos últimos anos, poderá mesmo ultrapassar a Alemanha na segunda metade da próxima década. Mesmo herdando uma economia em recuperação, Blair teve o mérito de manter o caminho das reformas e da liberalização, tornando o Reino Unido numa das poucas excepções de competitividade e crescimento sólido na Europa.

Na política externa e de defesa, pode-se discordar da linha seguida pelo Governo de Londres, mas o certo é que demonstrou coerência, coragem e determinação, que encontraram do outro lado do Canal o eco da tradicional diplomacia palavrosa, espalhafatosa, arrogante, mas inconsequente, sem substância e sem capacidade de agir e ter reais alternativas.

Actualmente, o Reino Unido é um país que tem capacidade de intervenção militar no exterior só superada pelos Estados Unidos, tem a melhor e mais próxima relação com a única Superpotência, é muito menos periférico na Europa, por força do seu sucesso económico e do alargamento, que levou ao enfraquecimento do Eixo Paris-Berlim e a maiores possibilidades de encontrar aliados, como foi patente nas cisões que antecederam a guerra do Iraque.

Curiosamente, os Trabalhistas parecem ansiosos por ver sair o líder mais bem sucedido da sua história. A vontade de se posicionarem para o pós-Blair e garantirem os melhores cargos, parece estar a dominar o pensamento, as emoções e as acções de muitos deputados do Partido. Visto de longe, parece-me um exercício auto-fágico, em que se anseia pela saída de um vencedor, para antecipar a entrada de Gordon Brown, um sucessor que carece do brilho e do carisma de Blair. É um caso raro em que os ratos querem permanecer no navio em dificuldades e urgem o capitão para que saia. Consequentemente, o mais provável é que Tony Blair saia em meados de 2007 pela porta grande e de pés enxutos, enquanto que os ratos gananciosos vão tomar conta do navio e, possivelmente, conduzi-lo ao naufrágio em 2009. Serves them right.

4 comentários:

PVM disse...

Das duas uma: ou te converteste ao socialismo (terá este blog sucumbido a um não anunciado take over rosa?), ou é a cegueira pró-EUA que te leva a elogiar alguém que está no campo adversário.
PVM

Rui Miguel Ribeiro disse...

Nem uma, nem outra. O meu partido de eleição na Grã-Bretanha é o Conservador e, embora goste dos EUA, eu sou mais pró-UK do que pró-USA.
Não obstante, reconheço que Tony Blair teve bastantes méritos na sua governação deixando a milhas outros governantes socialistas europeus recentes, como Schroeder, Jospin, Prodi, Guterres, Zapatero e quejandos.
Acima de tudo, tem uma visão geoestratégica da importância da Aliança Transatlântica que a cegueira e arrogânciaideológicas não deixam outros ver. Mais, tem a coragem de envolver tropas britânicas em importantes missões de risco, enquanto outros arranjam artifícios para esconder a sua cobardia. Finalmente, estou convencido que o post-Blair Labour vai ser muito menos digerível do que o actual.

Anónimo disse...

Está sendo de facto um goodbye very long, mas acho que os Britânicos vão ter saudades de Blair. O Brown parece-me ser um bom barrete.
Cristina

Rui Miguel Ribeiro disse...

Sim Cristina, tudo o indicava. Retrospectivamente confirmou-se: Gordon Brown foi um "barrete". Um flop.