BOMBAS DE MOSUL E RAQQA
Bombardeamento da
Universidade de Mosul pela aviação dos EUA.
Temos vivido o período das
Bombas de Bruxelas. Fala-se menos
nas Bombas de Mosul e de Raqqa. Enfim, fala-se dos bombardeamentos americanos (sempre
bem sucedidos) no Iraque e na Síria,
mas pouco sobre a causa e as consequências das coisas.
Porque é que as
bombas americanas caem em Mosul e Raqqa, em Fallujjah e Palmira? Que relação
têm estas com as de Bruxelas? Tinha que ser assim?
Os Estados Unidos
bombardeiam o Estado Islâmico (IS) no Iraque e na Síria porque têm
de intervir em (quase) todo o lado, porque são assertivos na exibição do seu poder
e porque têm medo. Estes factores fazem com que intervenham muito e
frequentemente mal.
Há duas correntes
fanaticamente intervencionistas nos EUA:
1- A direita
belicista que acha que os EUA devem impor a sua vontade e o seu poder em todos
os azimutes, sempre em defesa dos interesses norte-americanos, mesmo que eles
não existam ou não estejam em cheque.
2- A esquerda
liberal, que defende que os EUA têm o dever moral de acudir a todas as crises
para salvar todas as vítimas e, caso não o façam, são responsáveis pelo destino
dessas vítimas; isto independentemente de a intervenção salvífica americana
poder não salvar ninguém, ou que até piore as coisas.
Comum às duas
correntes é o excepcionalismo dos EUA que lhes confere o poder de castigar
(para uns) e de salvar (para outros), direito esse que só eles podem exercer. O
medo deriva da aparente convicção de que existem ameaças constantemente à
espreita de uma oportunidade para atingir os EUA. Daí, quando dois Americanos
foram degolados no deserto pelo IS, Barack Obama não pôde mais resistir à
pressão de intervir no Médio Oriente. Pouco importa que, desde que a
intervenção começou, muitos mais Americanos morreram às mãos do Estado Islâmico
do que os dois infelizes executados no Verão de 2014.
Contudo, o principal erro dos EUA ao intervirem
militarmente pela enésima vez no Médio Oriente, foi de ordem geopolítica.
Com efeito, com a
intervenção contra o Estado Islâmico no Iraque, na Síria e, cada vez mais, na
Líbia, os EUA foram tomar por suas as dores de terceiros.
No Iraque, salvar o
regime do colapso era um ónus que teria de ser assumido pelo patrono de Bagdad:
o Irão. Isto porque a
importância estratégica do Iraque para o Irão é demasiado grande para este
deixar o regime xiita em Bagdad ser arrastado pela vaga do Estado Islâmico.
Na Síria, as potências
interessadas em derrubar ou em salvar o regime de Al Assad eram a Turquia e o
Irão, respectivamente. Não intervir, levaria Ancara e Teerão a terem de lidar com
a batata quente síria e ainda haveria
o bónus de a Rússia provavelmente já não intervir directamente na guerra.
Entretanto, o IS
continuaria a combater contra tudo e contra todos, mas o mais certo seria
continuar embrenhado no Médio Oriente e não estar empenhado em planear,
executar, ou incentivar atentados na França, na Bélgica, ou nos Estados Unidos.
É evidente que nada garante que o IS não
mudasse a agulha posteriormente, mas a realidade é que as acções do IS em
2013/14 e a sua doutrina apontam (apontavam) para uma estratégia centrada no
Médio Oriente, na destruição do legado de Sykes-Picot, no combate ao Xiismo e
outras “heresias” e na construção do Califado.
Mas depois foram as
Bombas de Mosul e Raqqa. E depois vieram as Bombas de Bruxelas…
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