14 julho, 2016

Bombas de Mosul e Raqqa



BOMBAS DE MOSUL E RAQQA

 
Bombardeamento da Universidade de Mosul pela aviação dos EUA.
in Vice News at https://news.vice.com/  

Temos vivido o período das Bombas de Bruxelas. Fala-se menos nas Bombas de Mosul e de Raqqa. Enfim, fala-se dos bombardeamentos americanos (sempre bem sucedidos) no Iraque e na Síria, mas pouco sobre a causa e as consequências das coisas.

Porque é que as bombas americanas caem em Mosul e Raqqa, em Fallujjah e Palmira? Que relação têm estas com as de Bruxelas? Tinha que ser assim?

Os Estados Unidos bombardeiam o Estado Islâmico (IS) no Iraque e na Síria porque têm de intervir em (quase) todo o lado, porque são assertivos na exibição do seu poder e porque têm medo. Estes factores fazem com que intervenham muito e frequentemente mal.

Há duas correntes fanaticamente intervencionistas nos EUA:

1- A direita belicista que acha que os EUA devem impor a sua vontade e o seu poder em todos os azimutes, sempre em defesa dos interesses norte-americanos, mesmo que eles não existam ou não estejam em cheque.

2- A esquerda liberal, que defende que os EUA têm o dever moral de acudir a todas as crises para salvar todas as vítimas e, caso não o façam, são responsáveis pelo destino dessas vítimas; isto independentemente de a intervenção salvífica americana poder não salvar ninguém, ou que até piore as coisas.

Comum às duas correntes é o excepcionalismo dos EUA que lhes confere o poder de castigar (para uns) e de salvar (para outros), direito esse que eles podem exercer. O medo deriva da aparente convicção de que existem ameaças constantemente à espreita de uma oportunidade para atingir os EUA. Daí, quando dois Americanos foram degolados no deserto pelo IS, Barack Obama não pôde mais resistir à pressão de intervir no Médio Oriente. Pouco importa que, desde que a intervenção começou, muitos mais Americanos morreram às mãos do Estado Islâmico do que os dois infelizes executados no Verão de 2014.

Contudo, o principal erro dos EUA ao intervirem militarmente pela enésima vez no Médio Oriente, foi de ordem geopolítica.

Com efeito, com a intervenção contra o Estado Islâmico no Iraque, na Síria e, cada vez mais, na Líbia, os EUA foram tomar por suas as dores de terceiros.

No Iraque, salvar o regime do colapso era um ónus que teria de ser assumido pelo patrono de Bagdad: o Irão. Isto porque a importância estratégica do Iraque para o Irão é demasiado grande para este deixar o regime xiita em Bagdad ser arrastado pela vaga do Estado Islâmico.

Na Síria, as potências interessadas em derrubar ou em salvar o regime de Al Assad eram a Turquia e o Irão, respectivamente. Não intervir, levaria Ancara e Teerão a terem de lidar com a batata quente síria e ainda haveria o bónus de a Rússia provavelmente já não intervir directamente na guerra.

Entretanto, o IS continuaria a combater contra tudo e contra todos, mas o mais certo seria continuar embrenhado no Médio Oriente e não estar empenhado em planear, executar, ou incentivar atentados na França, na Bélgica, ou nos Estados Unidos. É evidente que nada garante que o IS não mudasse a agulha posteriormente, mas a realidade é que as acções do IS em 2013/14 e a sua doutrina apontam (apontavam) para uma estratégia centrada no Médio Oriente, na destruição do legado de Sykes-Picot, no combate ao Xiismo e outras “heresias” e na construção do Califado.

Mas depois foram as Bombas de Mosul e Raqqa. E depois vieram as Bombas de Bruxelas…


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