29 setembro, 2014

Estado Islâmico ≠ Al-Qaeda


ESTADO ISLÂMICO ≠ AL -QAEDA 


A origem do mítico Califado: os três Califados reais, do século VIII ao século XIII.

in “STRATFOR” em www.stratfor.com


Sabemos que o ISIL (Islamic State for Syria and the Levant), a anterior designação do Estado Islâmico, integrava o conglomerado da Al-Qaeda. É sabido que o então ISIL (também chamado ISIS) rompeu com a Al-Qaeda no início deste ano. O que parece que nem todos sabem é que a o Estado Islâmico é bastante diferente da Al-Qaeda.


A Al-Qaeda é (ou era) fundamentalmente uma organização terrorista cuja actividade principal é praticar actos de violência, frequentemente contra soft-targets e preferencialmente alvos ocidentais, fosse no Ocidente (Estados Unidos, Reino Unido, Espanha), ou em países islâmicos (Afeganistão, Paquistão, Arábia Saudita, Iémen, Indonésia).


O objectivo último da Al-Qaeda era a constituição do Califado do Hindu Kush até ao Al Andaluz e a destruição de Israel figurava em lugar de destaque na sua agenda.


Já o Estado Islâmico é hoje mais um grupo insurgente do que simplesmente uma organização terrorista.


Os alvos e a metodologia do Estado Islâmico também diferem dos da Al-Qaeda, embora coincidam no estabelecimento do Califado Islâmico. O Estado Islâmico é uma milícia armada, até mesmo com características de exército, que ataca, conquista, ocupa e administra território, algo que a Al-Qaeda nunca foi e nunca fez.


Um carro de combate do Estado Islâmico. Um símbolo das diferenças entre o Estado Islâmico (que tem este tipo de armamento pesado) e a Al-Qaeda, que nunca o teve.

in “STRATFOR” em www.stratfor.com


Enquanto Osama Bin Laden e Aiman Al-Zawahiri se deleitavam com high-profile attacks no Ocidente, com inúmeras vítimas e espectacularidade gráfica (de que os ataques de 11 de Setembro 2001 são o modelo), Abu Bakr Al-Baghdadi tem a sua acção claramente focada na Mesopotâmia e no Levante.


Igualmente relevante é o facto de, até agora, o Estado Islâmico não ter demonstrado a mínima vontade, apetência, competência, ou sequer capacidade, para conceber, planear e executar ataques terroristas de alguma dimensão na Europa ou, ainda menos, na América do Norte.


O objectivo do Estado Islâmico é, claramente, estabelecer um domínio territorial no Médio Oriente, consolidando o Califado. Os seus inimigos privilegiados têm sido os Estados pré-estabelecidos (Síria e Iraque), os Xiitas e os não-Muçulmanos. Ou seja, inimigos locais ou regionais.


O Califado Islâmico: uma utopia no século XXI.

in “STRATFOR” em www.stratfor.com

Esta realidade desmonta a tese da Casa Branca que o Estado Islâmico é uma ameaça fundamental para os Estados Unidos. Isso é conversa para iludir os incautos. O factor despoletador da intervenção armada no Iraque e na Síria é a degola de dois Norte-Americanos (seguida da de um Britânico). Por muito macabras e bárbaras que tenham sido as execuções, ninguém vai para a guerra porque mataram dois compatriotas.


Obama foi para a SUA war of choice (ironia do destino) no Médio Oriente (outra ironia) porque não aguentou as pressões e acusações dos Republicanos e dos intervencionistas liberais do Partido Democrata; aqueles acusavam-no de fraco e indeciso e estes atacavam-no por ele ser indiferente ao sofrimento e à tirania. A sua cedência foi a prova da sua fraqueza.


Resumindo, o Estado Islâmico não é a Al-Qaeda. A war of choice de Obama não é uma guerra, é uma coisa. Com muitos aliados e associados, é claro. A guerra, a sério, no terreno, será um teste à eficácia dos EUA e de seus compagnons de route, será um teste à resiliência e solidez da coligação e será um teste à força e resistência do Estado Islâmico. O resultado destes 3 testes, dir-nos-á, muito provavelmente, o resultado de mais esta guerra.



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