ESTADO ISLÂMICO ≠ AL -QAEDA
Sabemos que o ISIL (Islamic State for Syria and the Levant), a anterior
designação do Estado Islâmico, integrava o conglomerado da Al-Qaeda. É sabido
que o então ISIL (também chamado ISIS) rompeu com a Al-Qaeda no início deste
ano. O que parece que nem todos sabem é
que a o Estado Islâmico é bastante diferente da Al-Qaeda.
A
Al-Qaeda é (ou era) fundamentalmente uma organização terrorista cuja actividade
principal é praticar actos de violência, frequentemente contra soft-targets e
preferencialmente alvos ocidentais, fosse no Ocidente (Estados Unidos, Reino
Unido, Espanha), ou em países islâmicos (Afeganistão, Paquistão, Arábia
Saudita, Iémen, Indonésia).
O
objectivo último da Al-Qaeda era a constituição do Califado do Hindu Kush até
ao Al Andaluz e a destruição de Israel figurava em lugar de destaque na sua agenda.
Já o
Estado Islâmico é hoje mais um grupo insurgente do que simplesmente uma
organização terrorista.
Os alvos e a metodologia do Estado
Islâmico também diferem dos da Al-Qaeda, embora coincidam no estabelecimento do
Califado Islâmico. O Estado Islâmico é
uma milícia armada, até mesmo com características de exército, que ataca,
conquista, ocupa e administra território, algo que a Al-Qaeda nunca foi e nunca
fez.
Um carro de combate do Estado Islâmico. Um
símbolo das diferenças entre o Estado Islâmico (que tem este tipo de armamento
pesado) e a Al-Qaeda, que nunca o teve.
Enquanto Osama Bin Laden e Aiman Al-Zawahiri se deleitavam com
high-profile attacks no Ocidente, com inúmeras vítimas e espectacularidade
gráfica (de que os ataques de 11 de Setembro 2001 são o modelo), Abu Bakr Al-Baghdadi tem a sua acção
claramente focada na Mesopotâmia e no Levante.
Igualmente relevante é o facto de, até agora, o Estado Islâmico não ter
demonstrado a mínima vontade, apetência, competência, ou sequer capacidade,
para conceber, planear e executar ataques terroristas de alguma dimensão na Europa
ou, ainda menos, na América do Norte.
O
objectivo do Estado Islâmico é, claramente, estabelecer um domínio territorial
no Médio Oriente, consolidando o Califado. Os seus inimigos privilegiados têm sido
os Estados pré-estabelecidos (Síria e Iraque), os Xiitas e os não-Muçulmanos. Ou
seja, inimigos locais ou regionais.
Esta realidade desmonta a tese da Casa Branca que o Estado Islâmico é uma
ameaça fundamental para os Estados Unidos. Isso é conversa para iludir os
incautos. O factor despoletador da intervenção armada no Iraque e na Síria é a
degola de dois Norte-Americanos (seguida da de um Britânico). Por muito
macabras e bárbaras que tenham sido as execuções, ninguém vai para a guerra
porque mataram dois compatriotas.
Obama foi para a SUA war of choice (ironia do
destino) no Médio Oriente (outra ironia) porque não aguentou as pressões e
acusações dos Republicanos e dos intervencionistas liberais do Partido
Democrata; aqueles acusavam-no de fraco e indeciso e estes atacavam-no por ele
ser indiferente ao sofrimento e à tirania. A sua cedência foi a prova da sua
fraqueza.
Resumindo, o Estado Islâmico não é a Al-Qaeda. A war of choice de Obama não
é uma guerra, é uma coisa. Com muitos aliados e associados, é claro. A guerra, a sério, no terreno, será um
teste à eficácia dos EUA e de seus compagnons de route, será um teste à resiliência
e solidez da coligação e será um teste à força e resistência do Estado
Islâmico. O resultado destes 3 testes, dir-nos-á, muito provavelmente, o
resultado de mais esta guerra.
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