A GRANDE GUERRA
OS EFEITOS
A Grande Guerra marca
o princípio do fim da hegemonia europeia, longa de 5 séculos. O fim, esse
chegaria ¼ de século mais tarde, após a II Guerra Mundial ter arrasado o
continente, exaurido as suas potências e determinado o fim dos seus impérios
coloniais.
ANTES: a Europa em 1913.
Destituídos da
clarividência dos negociadores de Viena em 1815, os estadistas de Paris em 1919
lançaram-se na empreitada de redesenhar o mapa da Europa Central e Oriental
baseados em dois princípios: o desmantelamento de 4 Impérios que dominavam a
região e a criação de novos estados baseados na auto-determinação e na
nacionalidade (estados-nação). Diga-se em abono da verdade que um desses
impérios, o Russo, já tinha sido espatifado pela Alemanha e outro, o Otomano,
se encontrava numa longa e lenta agonia.
Aquele manteve-se
ocupado por uns anos com uma guerra fraticida e reencarnaria numa nova forma (URSS),
mais sólida e coesa e notoriamente mais perigosa. Já este, sofreu o seu golpe
de misericórdia na Guerra e a teve a certidão de óbito lavrada no Tratado de
Sèvres.
Restavam os
Impérios Germânicos: a Alemanha e a Áustria.
Multinacional por
excelência (Austríacos,
Húngaros, Checos, Eslovacos, Polacos, Croatas, Sérvios, Eslovenos, Bósnios,
Ucranianos e Romenos compunham o mosaico de nacionalidades), o Império Austro-Húngaro despendeu o último
quartel do século XIX e os primeiros anos do século XX contra a sua aparente
obsolescência e contra o destino Otomano. Para tal, tentou
travar o declínio otomano, tentou travar o avanço russo no Sudeste Europeu,
tentou travar a ascensão de novos Estados-Nação como a Sérvia e a Bulgária,
tudo para tentar travar a explosão nacionalista no seu seio. Quando despoletou
a Guerra, o Império já tem os discos dos
travões gastos e, sem ABS, estampou-se literalmente. A sua prestação
militar, entre o mediano e o medíocre, foi insuficiente para ajudar a Alemanha a vencer a Grande Guerra,
condição sine qua non para a sobrevivência do vetusto Império Habsburgo. A
derrota significou o seu fim. Os seus vastos domínios foram distribuídos por 7
países novos, renascidos, ou recauchutados.
O resultado
não foi famoso: a instabilidade, os nacionalismos radicais e mesmo os ódios,
não desapareceram, bem pelo contrário. A II Guerra Mundial seria palco de muita
violência e atrocidades perpetradas por outros além dos Alemães: Croatas,
Sérvios, Húngaros, Ucranianos, aproveitaram o gigantesco conflito para promover
os seus interesses e acertar as suas contas. Se nos anos 30 e 40 foi a guerra
que deu aso a estes conflitos, meio século mais tarde foi o fim de outra
(Guerra Fria) que proporcionou a oportunidade para o regresso dos velhos
demónios, principalmente mas não apenas, na Jugoslávia.
E o mapa da Europa Central e Oriental mudou novamente. Não é,
pois, demasiado surpreendente que esteja a mudar outra vez, no século XXI.
A Alemanha manteve-se
após a I Guerra Mundial, mas sofreu um downgrade
de Império (II Reich) para República (de Weimar), pagou em territórios, em
continuidade geográfica e em dinheiro, sofreu limitações à sua soberania e
levou o carimbo de “Guilty” atribuído pelas potências vencedoras.
Por solucionar, mais
uma vez, ficou o acomodar do gigante germânico no centro da Europa,
proporcionando-lhe conforto sem provocar o desassossego da vizinhança. Descontente, fustigada
por reveses diversos (políticos e económicos), eis que a Alemanha estrebucha,
esperneia, sofre uma metamorfose, torna-se no III Reich e lança-se num renovado
ímpeto conquistador, uma mescla de poder e eficácia militar e de hedionda
bestialidade.
DEPOIS: a Europa em 1937.
Após 4 anos de combates
inclementes e 20 milhões de mortos (8 milhões militares), a “Guerra para acabar
com as guerras” previsivelmente não atinge esse utópico desiderato. Pior do que
isso, a paz negociada em Paria, da qual brotaram 5 Tratados de Paz (Versailles com a
Alemanha, Saint-Germain com a Áustria, Trianon com a Hungria, Sèvres com o
Império Otomano e Neuilly com a Bulgária), não
deixou a Europa mais pacífica, nem mais segura, nem sequer logrou resolver os
problemas das fronteiras e das nacionalidades.
A Grande Guerra foi há 100 anos, mas muitos dos problemas,
patentes ou latentes, permanecem.
2 comentários:
Ao ler os seus posts, nomeadamente, estes 2 últimos, sinto-me (de novo) sentado numa das suas aulas.
Muito obrigado, meu caro PROFESSOR.
Abraço.
João Pulido
Caro João Pulido,
Fico muito contente por te "ver" por aqui e sinto-me gratificado (e orgulhoso) pelo teu comentário.
Bem hajas!
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