06 agosto, 2014

A Grande Guerra - Os Efeitos


A GRANDE GUERRA
OS EFEITOS



A Grande Guerra marca o princípio do fim da hegemonia europeia, longa de 5 séculos. O fim, esse chegaria ¼ de século mais tarde, após a II Guerra Mundial ter arrasado o continente, exaurido as suas potências e determinado o fim dos seus impérios coloniais. 


ANTES: a Europa em 1913.

O fim começou às 11 horas do dia 11, do mês 11 do ano de 1918. Nesse dia acabou a I Guerra Mundial e começou uma paz incerta, agitada, perigosa e pouco duradoura.


Destituídos da clarividência dos negociadores de Viena em 1815, os estadistas de Paris em 1919 lançaram-se na empreitada de redesenhar o mapa da Europa Central e Oriental baseados em dois princípios: o desmantelamento de 4 Impérios que dominavam a região e a criação de novos estados baseados na auto-determinação e na nacionalidade (estados-nação). Diga-se em abono da verdade que um desses impérios, o Russo, já tinha sido espatifado pela Alemanha e outro, o Otomano, se encontrava numa longa e lenta agonia.


Aquele manteve-se ocupado por uns anos com uma guerra fraticida e reencarnaria numa nova forma (URSS), mais sólida e coesa e notoriamente mais perigosa. Já este, sofreu o seu golpe de misericórdia na Guerra e a teve a certidão de óbito lavrada no Tratado de Sèvres.


Restavam os Impérios Germânicos: a Alemanha e a Áustria.


Multinacional por excelência (Austríacos, Húngaros, Checos, Eslovacos, Polacos, Croatas, Sérvios, Eslovenos, Bósnios, Ucranianos e Romenos compunham o mosaico de nacionalidades), o Império Austro-Húngaro despendeu o último quartel do século XIX e os primeiros anos do século XX contra a sua aparente obsolescência e contra o destino Otomano. Para tal, tentou travar o declínio otomano, tentou travar o avanço russo no Sudeste Europeu, tentou travar a ascensão de novos Estados-Nação como a Sérvia e a Bulgária, tudo para tentar travar a explosão nacionalista no seu seio. Quando despoletou a Guerra, o Império já tem os discos dos travões gastos e, sem ABS, estampou-se literalmente. A sua prestação militar, entre o mediano e o medíocre, foi insuficiente para ajudar a Alemanha a vencer a Grande Guerra, condição sine qua non para a sobrevivência do vetusto Império Habsburgo. A derrota significou o seu fim. Os seus vastos domínios foram distribuídos por 7 países novos, renascidos, ou recauchutados.


O resultado não foi famoso: a instabilidade, os nacionalismos radicais e mesmo os ódios, não desapareceram, bem pelo contrário. A II Guerra Mundial seria palco de muita violência e atrocidades perpetradas por outros além dos Alemães: Croatas, Sérvios, Húngaros, Ucranianos, aproveitaram o gigantesco conflito para promover os seus interesses e acertar as suas contas. Se nos anos 30 e 40 foi a guerra que deu aso a estes conflitos, meio século mais tarde foi o fim de outra (Guerra Fria) que proporcionou a oportunidade para o regresso dos velhos demónios, principalmente mas não apenas, na Jugoslávia.


E o mapa da Europa Central e Oriental mudou novamente. Não é, pois, demasiado surpreendente que esteja a mudar outra vez, no século XXI.


A Alemanha manteve-se após a I Guerra Mundial, mas sofreu um downgrade de Império (II Reich) para República (de Weimar), pagou em territórios, em continuidade geográfica e em dinheiro, sofreu limitações à sua soberania e levou o carimbo de “Guilty” atribuído pelas potências vencedoras.


Por solucionar, mais uma vez, ficou o acomodar do gigante germânico no centro da Europa, proporcionando-lhe conforto sem provocar o desassossego da vizinhança. Descontente, fustigada por reveses diversos (políticos e económicos), eis que a Alemanha estrebucha, esperneia, sofre uma metamorfose, torna-se no III Reich e lança-se num renovado ímpeto conquistador, uma mescla de poder e eficácia militar e de hedionda bestialidade.


DEPOIS: a Europa em 1937.

Após 4 anos de combates inclementes e 20 milhões de mortos (8 milhões militares), a “Guerra para acabar com as guerras” previsivelmente não atinge esse utópico desiderato. Pior do que isso, a paz negociada em Paria, da qual brotaram 5 Tratados de Paz (Versailles com a Alemanha, Saint-Germain com a Áustria, Trianon com a Hungria, Sèvres com o Império Otomano e Neuilly com a Bulgária), não deixou a Europa mais pacífica, nem mais segura, nem sequer logrou resolver os problemas das fronteiras e das nacionalidades.


A Grande Guerra foi há 100 anos, mas muitos dos problemas, patentes ou latentes, permanecem.




2 comentários:

João Pulido disse...

Ao ler os seus posts, nomeadamente, estes 2 últimos, sinto-me (de novo) sentado numa das suas aulas.

Muito obrigado, meu caro PROFESSOR.

Abraço.

João Pulido

Rui Miguel Ribeiro disse...

Caro João Pulido,

Fico muito contente por te "ver" por aqui e sinto-me gratificado (e orgulhoso) pelo teu comentário.

Bem hajas!