E SE ACABÁSSEMOS
COM AS REFORMAS?
Ponto prévio 1: as reformas são algo a que temos
direito. Descontamos toda uma vida de
trabalho e temos direito a elas. Pouco importa se o dinheiro das nossas
reformas advém dos nossos descontos, dos nossos pais ou dos nossos filhos.
Descontamos, ponto.
Ponto prévio 2: os descontos e, consequentemente, as
reformas, não são escolha nossa. São-nos impostos pelo Estado. O montante, a forma e a consequência, tudo resulta do
exercício do poder coercivo do Estado.
Ponto prévio 3: está claro aos olhos de todos que o
Estado não pode e não quer pagar e não paga mesmo as reformas a que os reformados actuais têm direito. E fá-lo no
exercício unilateral e arbitrário do seu império.
O que resulta desta análise prévia?
Resulta que:
1-
Descontamos para que nós, os nossos familiares, os nossos
concidadãos possam usufruir de um conjunto de apoios sociais, maxime as
reformas.
2- O
Estado, que nos obriga a fazer esses descontos, não quer ou não pode cumprir a
sua parte do pressuposto do desconto que é a posterior compensação.
3-
Fazemos figura de otários, pagando por algo que cada vez menos recebemos até ao
ponto em que deixaremos de receber.
4-
Ainda somos maltratados por um energúmeno que lidera (?) o governo e que ataca verbalmente os
pensionistas como se eles roubassem o Estado e como se receber uma reforma de
1350 ou 2000 euros fosse uma ofensa e um absurdo.
Perante este cenário, pergunto:
Não seria melhor abdicarmos de receber as reformas que
porventura nunca receberemos?
Não seria melhor deixarmos de descontar e ficarmos
entregues a nós próprios neste âmbito?
Vantagens:
1- Teríamos
mais rendimento disponível mensalmente.
2- Deixaríamos de atirar tanto do dinheiro ganho com o
nosso esforço para esse sorvedouro sem fundo que é o Estado.
3- O
governo ficava livre desse encargo com as reformas. Teria, é claro, o inconveniente de passar a ter menos
oportunidades de roubar os cidadãos.
4- O
governo poderia aliviar substancialmente a máquina burocrática estatal e, consequentemente, a prazo, a despesa.
5- Cada um
poderia planear e dimensionar a sua reforma como lhe aprouvesse, ciente de que
o seu futuro dependeria da sua competência a executar tal tarefa.
6-
Todos faríamos um pequeno desconto
para a Segurança Social (2%/3%) para que o Estado pudesse dar apoio àqueles
mais desprotegidos e vulneráveis que não tivessem comprovadamente meios para o
fazer por si mesmos.
Et voilá!
Mais dinheiro na carteira.
Mais responsabilidade.
Menos interferência/incompetência/irresponsabilidade/má-fé
estatal. Mais certeza e escolha sobre o que, o quando e o como receberemos.
Sem Reformas. Sem Descontos.
11 comentários:
Dos políticos sim e já.
Dos trabalhadores porquê ?
Se forem geridas pelos próprios (e bem) como penso que já foram não vejo razão para acabarem.
Rui,
Não me parece que a abolição total de descontos para a reforma seja uma solução.
Repara: numa situação em que não haja descontos, o que me leva a crer que o meu vizinho pega no valor que descontava até agora e o coloca no banco ou debaixo do colchão, para precaver a idade da reforma? E se, realmente não o fizer? Os 2%/3% de que falas não chegam para toda a gente.
A meu ver, o problema passa por repensar todo o sistema de empregabilidade (nomeadamente o que cada cidadão é capaz de realizar em cada faixa etária) e pela idade de reforma (tendo em conta a esperança de vida actual). Por exemplo, um cidadão poderia optar pelo número de horas que pretende ou pode trabalhar e seria remunerado consoante essas horas.
Por outro lado, e pegando na tua ideia, poderia haver um sistema misto, em que o cidadão desconta uma percentagem para o Estado e uma outra para um sistema privado, escolhido pelo próprio.
Olá Doutor Rui Miguel
Como não sei se gravei o comentário, aqui vai ele:
Dada a situação de falência, descontrole e falta de transparência na despesa pública, estou de acordo que devemos ser nós os guardiões do que é nosso e da sua aplicação, cientes de que colheremos o que semearmos (lembro-me da história da galinha que trabalhou a terra, semeou, colheu, cozinhou, sempre só, mas quando foi para usufruir do fruto do seu trabalho, todos queriam uma parte.
Pior que o governo não faremos certamente. De uma maneira geral, todos (sou da década dos 50) fomos habituados a não gastar mais que aquilo que dispomos e ainda a fazer uma provisão para a velhice. Os nossos descontos diluem-se num rio que ninguém percebe onde vai desaguar. Dadas as provas de incompetência e desonestidade dos consecutivos governos, está na altura de mudar o sistema e cada um gerir os seus descontos, contribuindo com um pouco para aqueles a quem o infortúnio impediu de fazer o mesmo.
Como só domino a economia doméstica, gostava que alguém me respondesse a algo que não entendo e que me levanta uma grande dúvida: como é que um país vende uma empresa que tem sempre lucros fabulosos (EDP), quando podia distribuir esse rendimento pelos seus cidadãos, especialmente os mais desvavorecidos? Alguém mata a galinha que dá ovos de ouro? Porquê que só distribui por nós os prejuízos daquelas que são mal geridas e que abusivamente remunera os seus dirigentes? Tanta "coisa pública" mal...
Beijinhos
Estella
Rui: seria lindo, seria... tu, e eu, (e mais quantos?) pouparíamos (não viveríamos acima das nossa posses) e teríamos a NOSSA reforma (suadinha, honesta, limpinha). Mas ao nosso lado está um paspalho, um cabrão, um energúmeno, que em novo andou a dar umas voltas com umas gajas, engravidou uma, depois increveu-se numa "J" qualquer, fez pandilha com um bandalhos, trafulhou, etc. etc. - poupo-te ao detalhes - e, no ocaso da vida, está falido, pobre, miserável (não sabia onde ficavam as Caimão, porque em puto na escola foi um calaceiro do catano...) e a morre de frio, de fome e de caganeira. E agora? é deixar o pobre esticar o pernil à porta do hospital? eu sei, eu sei, a ideia é atractiva... mas caramba, "não se faz nem a um cão" (principalmente a um cão). Por isso, meu caro, seríamos os otários, na mesma, sempre e sempre.
Sinto uma profunda tristeza por tudo aquilo que leio nestes últimos tempos sobre a nossa Terra. Eu sabia que os Portugueses tinham e têm muitas qualidades humanas, indesmentíveis, e a História demonstra-o. Éramos pequeninos e tivemos muita coragem nos séculos passados para fazer coisas incríveis. Em condições normais, somos capazes de rivalizar com não importa qual outra nacionalidade, no trabalho bem feito, na aplicação e na imaginação para criar oportunidades. Somos mesmo capazes de sofrer para atingir os resultados esperados. Mas não sabia que um dia chegaríamos lá, onde estamos hoje. E sobretudo não sabia que Portugal podia albergar tantos criminosos económicos e tantos aldrabões políticos de todas as cores . Ainda bem que há alguns que procuram acordar-nos da letargia profunda na qual mergulhamos.Mas quantos ? A massa amorfa é imensa e sem bases, incapaz de formular uma ideia ou simplesmente pensar.Pagamos por meio século esbanjado em falsos valores de sociedade, sem ver que o mundo acelerava para outros objectivos. Sem estructuras , vai ser dificil reconstruir.
Caro Anónimo,
Não, não são geridas nem pelos próprios, nem bem.
João Carlos,
A tua preocupação tem razão de ser. A resposta passaria pela responsabilização individual. Se o teu vizinho é crescidinho, pode votar, conduzir, trabalhar, casar, ter filhos, poderá capacitar-se que colherá o que semeou.
Tenho consciência de que nos depararíamos com um contingente de irresponsáveis, com 70 anos e sem $$$ para mandar cantar um cego. Não seria fácil ferir essa situação.
O sistema misto seria uma melhoria em relação ao que temos hoje, bem como contas individuais, que permitissem a cada um ter a todo o momento ter a percepção de quanto é que tem direito a receber.
Cara Estella,
Subscrevo o seu ponto de vista.
Quanto à EDP, nós só somos "accionistas" quando se trata de pagar. É um péssimo negócio ser "accionista" do Estado Português. É como aquelas empresas cujos administradores se auto-cumulam com bónus chorudos...
Caro Sérgio,
Pois a ideia seria que o desenlace "atractivo" da tua narrativa servisse de dissuasão para os descarrilados. Agora a nossa sociedade não tem frieza para tal, mas se esses indivíduos ficassem cingidos a uma pensão de subsistência, suficiente para não "esticar o pernil" mas escassa para "fazer flores", poderia ser uma consequência razoavelmente severa e económica.
Caro Sr. Freitas Pereira,
A sua análise tem tanto de deprimente como de realista, sóbria e correcta. É o estrebuchar da III República...
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