DE CÓCORAS
Já se sabia que o
país está de cócoras, ou melhor, que os governos de Portugal (o actual e o anterior)
se tinham posto de cócoras. Era, contudo, escusado fazê-lo de forma tão
acintosa.
Ciente de que a despesa pública tem de ser cortada, nem vou
discutir aqui e agora os méritos e deméritos da receita do FMI.
Agora pergunto, que espécie
de governo é este que recebe recados, instruções, indicações e palpites de
tudo quanto é funcionário e burocrata de 1ª, 2ª e 3ª linha de instituições
internacionais?
Por alma de quem é
que este governo miserável precisa de se rebaixar ainda mais e pedir ao FMI que
lhe dê a cartilha dos cortes?
Para que servem os políticos e os funcionários indígenas, se têm
que ser uns técnicos estrangeiros a discernir quanto é que deve/pode ganhar um
coronel ou um cirurgião?
Para que servem os órgãos de soberania e a administração pública se
são organizações internacionais que vêm dizer que se corte x% na educação, y%
na segurança social e z% na administração interna?
Q: Quem são, então estes
políticos e estadistas que nos governam?
R: Ah! Não são políticos. Tampouco são estadistas.
Q: Insisto, quem são? Tenho direito de saber!
R: Se não sabes, eu digo-te.
Não têm coluna vertebral. Não fazem ideia do que é o interesse nacional.
Ignoram o sentido de estado. Desconhecem o conceito de bem comum. Agem como
marionetas. Rapinam as carteiras e devoram as almas. Vivem de cócoras para o
exterior. Mas espezinham os cidadãos.
Q: Mas que seres
desprezíveis são esses?
R: São vermes. São uns meros
vermes.
5 comentários:
Rui, Rui...olha que tu, com a profissão que tens, a qualquer altura podes estar na posição destes funcionários. Se fores contratado para uma organização destas, e se te pedirem uma analise destas (ok, concedo, o relatório é burocrático porque é, tecnicamente falando, feito por economistas). De resto, quantas vezes as decisões difíceis têm de ser tomadas pelos outros, quando por cá não temos gente e calibre (ou de coragem) para as tomar?
Dito isto, que fique bem claro que não me revejo totalmente no relatório (que acabei de ler há ns minutos). Alias, se fores ao blogue de um historiador económico chamado Pedro Lains, que nos últimos tempos milita num frenético ativismo keynesiano, verás que afinal o relatório foi feito pela ente de cá...
Lê aqui: http://pedrolains.typepad.com/pedrolains/2013/01/já-li.html
Um abraço
De todos os aspectos que envolvem a crise actual, na qual muitas facetas da nossa maneira de ser se mostraram à luz do dia, aquela que mais me exaspera, vista cá de longe , separado pelos cinquenta anos de ausência no estrangeiro, é sem dúvida a demissão das nossas elites, dos nossos partidos políticos e dos órgãos soberanos .
Tudo deixando parecer que não há outra solução que não seja a de receber instruções, dos outros, perante estes bandos de técnicos e especialistas das organizações internacionais, auto encarregados de organizar os sectores e as áreas de actividade, trazendo consigo grandes ideias experimentadas noutros "chantiers" de reconstrução (!), mas destituídos de conhecimento, de sensibilidade e de contacto directo.
Quando se esqueceu de governar com os cidadãos, as empresas e as instituições, como foi o caso há muitos anos para cá, é evidente que não se partilharam os problemas nem as soluções, e que as medidas tomadas apareceram assim mais como assaltos contra as populações que como acções de governo esperadas e necessárias.
Como não disseram nada antes, nem durante e só depois, perderam a oportunidade de fazer participar todos aqueles que poderiam ter uma opinião sobre os factores de crise, que poderiam orientar nas situações difíceis, que poderiam ajudar a procurar soluções razoáveis, mesmo constringentes, mesmo difíceis a fazer aceitar.
Quem sabe quantos erros de análise, previsão e cálculo poderiam ter sido evitados, com um melhor conhecimento da realidade ?
Lamentável que não tenham sabido evitar o ponto a que chegámos, por falta de consenso, certo, por espírito partidário, mas sobretudo por défice de democracia.
E não são estes técnicos importados que vão convencer a população e vão associá-la ao esforço comum. E de saber que as autoridades legítimas, porque eleitas, perderam de há muito a confiança dos cidadãos, arrastados para o fosso da descrença em percentagens jamais atingidas, não é de molde a pressagiar um futuro tranquilo.
Sem a confiança dos cidadãos na política, nos políticos, nas instituições e nas administrações públicas, a democracia e o país estão em perigoso declínio.
Freitas Pereira
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Caro Paulo,
O problema não é dos funcionários dessas organizações, mas sim dos governantes que os chamam para nos dar a prescrição. Eu como funcionário de uma organização faria os relatórios. Eu, na condição de governante não os pediria.
Dito isto, eu sou favorável à diminuição do peso e papel do Estado, mas feito com critérios políticos e sensibilidade social, não com um espírito técnico-contabilístico que é o que prevalece no governo.
Abraço
Sr. Freitas Pereira,
Subscrevo o que escreveu de princípio ao fim. O brigado pelo seu comentário sagaz.
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