30 janeiro, 2012

O Lugar-Tenente

O LUGAR-TENENTE


Sarkozy a abrir caminho ao Panzer alemão.

As sucessivas cimeiras do nosso descontentamento tiveram o seu clímax na última realizada em Dezembro. Com a enésima cimeira europeia em curso e após a realização da 456ª cimeira cimeira do Reno, este post, tal como dois anteriores e o seguinte, visa fazer uma breve análise das motivações e resultados dos principais protagonistas: a Alemanha, o Reino Unido, a França e os outros.

A Comunidade Europeia, entre outos benefícios, permitiu à França ostentar os louros da liderança política da Europa, alicerçada no poderio económico da República Federal da Alemanha e na sua impossibilidade e incapacidade de afirmação como uma entidade política inteiramente soberana. A ocupação pelas potências vencedoras da II Guerra Mundial e pela França, as limitações constitucionais, a camisa de forças da Guerra Fria e a cruz da culpa do Holocausto, relegaram a RFA para o papel de um actor político menor.

Essa era terminou. Passada a década de 1990, durante a qual a RFA esteve a fazer a longa e penosa digestão da RDA, a Alemanha reunificada foi-se tornando cada vez mais assertiva. Como já aqui expressámos (http://tempos-interessantes.blogspot.com/2012/01/deutschland-uber-alles-germany-and.html ), a crise económica e financeira de Europa apresentaram a Berlim uma oportunidade de ouro para firmar a sua hegemonia sobre a Europa Continental.
Para a França, tal representou um choque. A importância internacional da França assentava em 3 pilares: o assento permanente e o poder de veto no Conselho de Segurança da ONU; a Force de Frappe, o arsenal nuclear que garantia a Paris um módico de autonomia estratégica e de dissuasão face a potências maiores, como a URSS; e o Eixo Franco-Alemão que tem sido a trave-mestra da construção do projecto europeu e que alavancava o protagonismo francês na Comunidade e na Europa.
O drama com que a França se debate é que o Eixo Franco-Alemão foi evoluindo de PARIS-Bonn, para Paris-Berlim, até chegar ao actual BERLIM-Paris.

Perante isto, Paris tinha três opções: promover uma solução alternativa à germânica, tentando arregimentar apoios na Europa do Sul; tentar ressuscitar a Entente Cordiale com o Reino Unido e bipolarizar a EU entre um Eixo Londres-Paris e Berlim; ou alinhar com a Alemanha e tentar navegar a onda de Berlim.

A primeira hipótese tornou-se pouco viável à medida que se tornou claro que a Europa Meridional estava na bancarrota e que enfrentar a Alemanha com o apoio da Itália e da Espanha, significava que a frança ficaria com o encargo insustentável de financiar os seus compagnons de route.

A segunda hipótese poderia vingar, se a distância entre a visão sócio-económica do Reino Unido e da França não fosse tão grande.

Restava pois, a terceira, que Sarkozy agarrou com ambas as mãos. Tem várias vantagens, desde logo, estar com os vencedores, o que é bom, embora seja bem diferente de ser um dos vencedores, como a França verificou no final da II Guerra Mundial; significa também ser um parceiro com influência, até porque a Alemanha também tem interesse em não parecer estar sozinha a comandar a Europa.
Contudo, esta opção representa reduzir a França a um papel de Lugar-Tenente da Alemanha na liderança da União Europeia. Tant pis pour les rêves de grandeur….

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