RULE BRITANNIA
Great Britain heading into the storm.
in “The Economist”
As sucessivas cimeiras do nosso descontentamento tiveram o seu clímax na última realizada em Dezembro. Com a enésima cimeira europeia no horizonte e após a realização da 456ª cimeira do Reno, este post e os seguintes visa fazer uma breve análise das motivações e resultados dos principais protagonistas: a Alemanha, o Reino Unido, a França e os outros.
No final da última cimeira, o Reino Unido fez lembrar o Portugal de Salazar: orgulhosamente só. Como era de esperar, o Reino Unido recusou entrar no comboio federalista, mais a mais com a subserviência a Bruxelas substituída pelo domínio de Berlim e o controlo de Frankfurt. Como também era de esperar, Londres escandalizou os continentais com a sua traição.
Eu penso que David Cameron esteve bem. Fez o que Merkel fez pela Alemanha: defendeu os interesses do Reino Unido, que é algo de que muitos outros não se podem gabar. O Reino Unido não faz parte do euro e não vai fazer tão cedo (ou nunca); o cepticismo em relação à EU é prevalecente entre os Britânicos e a sobre-regulação que se adivinha não serve os interesses da economia britânica.
Porquê então o escândalo? Porque grande parte da Europa continental está há muito conformada com a ditadura franco-alemã, A dissidência à autoridade do eixo é visto como uma heresia sem perdão. Relembro que houve quem defendesse a expulsão da Dinamarca da CE quando os Dinamarqueses votaram contra o Tratado de Maastricht.
Durante a primeira metade da década passada houve um interregno na prepotência do Novo Eixo: a adesão de 8 estados da Europa Central com uma forte pulsar transatlântico por razões de segurança e defesa e as Guerras no Afeganistão e, especialmente, no Iraque, remeteram Paris e Berlim para um relativo segundo plano e catapultaram o Reino Unido para alguma proeminência. Esse era o tempo da Nova Europa e da Velha Europa, mas esse tempo já passou.
Hoje o tempo é de diferentes dicotomias. A que nos tentam vender é a dicotomia entre o Reino Unido e os outros. Na realidade, há visões diferentes sobre o grau de integração até onde a EU deve ir, o modelo económico a adoptar, a defesa de um módico razoável de soberania e autonomia. O Reino Unido entende que a integração já foi longe de mais. Eu subscrevo este ponto de vista. O Reino Unido também percepciona que um novo fôlego integrador será feito nos moldes prescritos pela Alemanha e sob a sua tutela e entende que tal é lesivo dos seus interesses. É óbvio. O Reino Unido tem a coragem de dizer não, tem a dimensão para sustentar essa decisão e tem um Governo com capacidade para resistir à pressão dos seus pares e fugir ao unanimismo. Finalmente, tem uma população que maioritariamente sustenta esta posição.
É evidente que o Rule Britannia que titula este post tem muito pouco a ver com o século XIX. Hoje, modestamente, significa a manutenção de alguma autonomia, de auto-governo, de resistência a uma certa forma de soft imperialism.
O sucesso desta opção, dependerá fundamentalmente da capacidade de o Reino Unido voltar a crescer e a prosperar estando na periferia da EU e, também, da comparação que se fizer entre os seus resultados e os da Europa Continental.
P.S. Aguardo com curiosidade o tempo em que os Europeus precisem novamente de recorrer aos seus meios militares e façam as contas às capacidades que existem do lado de cá do English Channel. Nessa altura, vão olhar para as que existem do lado de lá e perceber melhor as suas limitações.
3 comentários:
Rui:
Sem entrar na substancia do teu texto (haveria tanto para discordar...), só quero afirmar o seguinte: pois eu espero, como toda a força, que os europeus não precisem de recorrer aos seus meios militares. É cenário que não aguardo com curiosidade alguma.
Paulo,
Eu nem quero imaginar o teu rol de discordâncias...
Quanto ao post-scriptum, ainda hoje me disseram que eu desejava a guerra na Europa. Nada disso. Nem desejo, nem prevejo qualquer guerra na Europa Ocidental, Setentrional ou Central. Na realidade, sem pensar em nenhum confronto em particular, pensava em intervenções out-of-area, do tipo do Afeganistão, Iraque, ou Líbia. E mesmo assim, não o estava a desejar. Pretendia salientar uma área importante da actividade dos Estados e das RI em que a participação do Reino Unido é vital na escala europeia. No máximo, seria uma curiosidade académica.
Dear Miguel,
Thank you once again for including me in your mailing list. Google Translate did its best for me so I was able to enjoy reading your blogs. It’s not a perfect translation but I more or less get the drift of what you are saying.
With specific reference to “Rule Britannia”, as we are already aware, we sit on a similar sides of the political spectrum. I am much relieved that as a Brit, I am delighted not to be in The Euro. As with many Brits on all sides of the political divide, being British extends way beyond politics. Most Brits do not consider themselves to be European, simply British. That seems to have been our saving grace in the resistance to be incorporated into the Euro melting pot. And thank God for that! Being the oddly shaped group of islands on the periphery of the European continental mass may have saved our neck once again – albeit in the short-term. We have been equally spared from becoming an annexed state of federal European countries such as Germany and France.
Elaine
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