30 outubro, 2020

Míssil Colossal

 

MÍSSIL COLOSSAL

 

A parada.

in “BBC News” em https://www.bbc.com/news  

 Depois de uma longa ausência, o inefável Kim Jong Un e a sua peculiar Coreia do Norte ressurgem nas páginas de Tempos Interessantes (post anterior em 5 de Maio: “Doente, Vegetal, Morto e…Vivo Outra Vez” http://tempos-interessantes.blogspot.com/2020/05/doente-vegetal-morto-evivo-outra-vez.html ).

 No início de Outubro realizou-se uma grande parada militar para celebrar o 75º aniversário do Partido dos Trabalhadores. Além da coreografia sempre laboriosamente ensaiada, o que cativou mais a atenção dos observadores mais ligados ao aço e ao chumbo do que às lantejoulas, foi um novo e, até então desconhecido, míssil de dimensão colossal. Trata-se de um ICBM (Intercontinental Ballistic Missile).

 

O Míssil.

in “BBC News” em https://www.bbc.com/news  

Este míssil, de designação desconhecida e ainda não testado, não obstante, gerou preocupação nos Estados-Maiores de diversos países com os Estados Unidos à cabeça.

A Coreia do Norte já testou dois ICBM’s, o Hwasong-14 com um alcance de 10.000km e o Hwasong-15 com um alcance de 13.000km, distâncias viáveis se o míssil transportar apenas uma ogiva nuclear.

Ora, tendo em conta a dimensão do novo míssil (mais longo e com maior diâmetro) e a potência que parece ter, tudo indica que Kim Jong Un está a subir a parada nuclear com mísseis capazes de carregar múltiplas ogivas nucleares, designadas por MIRV (Multiple Independent Re-entry Vehicle), o que significa que a dada altura o míssil larga as ogivas e cada uma dirige-se ao respectivo alvo, assim multiplicando a destruição no país atacado.

Resta saber se este míssil estará mesmo operacional, o que implica testes bem sucedidos. Esta novidade deverá ser o último passo de Kim Jong Un na edificação do seu arsenal nuclear, a consagração de um objectivo que é o de uma capacidade nuclear abrangente: mísseis de curto, médio, intermédio e longo alcance, somando a introdução do MIRV nos ICBM e ainda mísseis lançados de submarinos.

Completar o naipe de opções nucleares da Coreia do Norte, transmitirá ao regime o conforto da protecção que o arsenal nuclear teoricamente proporcionará. Porém há sempre incógnitas:

Os mísseis responderão como Pyongyang espera?

Os potenciais adversários retrair-se-ão perante a ameaça nuclear norte-coreana?

Resta aguardar para ver o que o novo míssil vale e a reacção dos potenciais adversários da Coreia do Norte.

 

28 outubro, 2020

Filhos e Enteados da COVID-19

 

FILHOS E ENTEADOS DA COVID-19

 

O combate à covid-19 em Portugal tem conhecido avanços e recuos e zig-zags também, o que se pode compreender à luz dos desenvolvimentos que se vão fazendo no estudo do conhecimento do coronavírus. Além disso, há frequentemente uma comunicação confusa, pouca clara, que gera dúvidas nos cidadãos, dúvidas essas que, por sua vez, geram medos, normais em quem se vê perante uma pandemia grave com um impacto e abrangência sem precedentes.

Outro aspecto negativo reporta-se às decisões nas quais parece patente o tratamento de filhos e enteados.

Eventos políticos, especialmente aqueles que são mais sensíveis à esquerda (1 de Maio, Avante) são intocáveis. Se se tratar da Páscoa, ou do 13 de Maio, já são proibidos. Estrategicamente, temos o confinamento concelhio no período dos dias de Todos os Santos e dos Fiéis Defuntos, com o alegado receio que turbas ululantes invadam os cemitérios. E já ouvimos ameaças relativamente ao Natal. É uma coincidência dos diabos (literalmente) que eventos relevantes do calendário cristão, momentos da maior relevância para os católicos, sejam invariavelmente banidos.

Por outro lado, assistimos no Aeroporto de Faro a centenas de pessoas embarriladas e vimos, no Aeroporto de Lisboa, cerca de 1500 de viajantes entupindo um longo corredor, com muitas pessoas cruzando-se em sentido contrário. Mas, nada se previne, nada se pune, nada acontece.

Até no desporto existe discriminação. Os grandes prémios de Fórmula 1 e de Moto GP em Portimão foram aprovados com uma assistência, no caso da F1, de 46.000 espectadores (depois cortada para 27.500). No futebol, quase sempre zero. Há 1000 pessoas aqui, 2500 ali, estádios basicamente desertos. Esta semana, em provas da UEFA, o Benfica terá na Luz cerca de 5.000 espectadores (lotação de 65.000) e o Porto teve cerca de 3800 (lotação 50.000). Nestes casos, uns míseros 7.5% da lotação dos recintos. Ridículo.

O certo é que a DGS (e o governo também) têm dois pesos e duas medidas. Há os eventos aprovados liminarmente, há os que são liminarmente vedados à população e há aqueles para os quais se utiliza a abordagem do adiamento, da negação, enfim do não encapotado. Bem vindo ao Animal Farm da DGS.

 

Post Scriptum: Várias Câmaras municipais fecham os cemitérios no fim-de-semana de Todos os Santos e dos Fiéis Defuntos. Trata-se de mais uma miserável agressão às pessoas, ignorando os sentimentos e sensibilidades destas, especialmente numa época em que muitos já sofreram demais com a perda de entes queridos

Acidentalmente, vi o Regulamento de acesso aos cemitérios gizado pela Câmara Municipal de Celorico da Beira. Simples, conciso e eficaz, em menos de 2 páginas: horário alargado de acesso, entradas e permanência no recinto limitadas, acesso controlado, distanciamento e máscaras obrigatórias e cada um usa o material que levou e usa-o em exclusividade. Não é muito difícil, pois não? Mas como não é um comício ou uma festa…

 

 

21 outubro, 2020

Regresso a Beirute

 REGRESSO A BEIRUTE

 

A sequência das explosões que semearam a destruição na capital do Líbano.

 in “Asia Times” em https://asiatimes.com/2020/08/nh4-nitrate-lurked-years-before-shattering-beirut/

A estrondosa explosão de Beirute ocorreu há dois meses e meio e, naturalmente, já há bastante tempo que desapareceu dos radares dos mass media.

Volto ao tema devido a um texto publicado pela BBC acerca de um estudo sobre a potência da explosão, realizado pela Sheffield University.

A estimativa apurada da potência está entre as 500 toneladas de TNT e as 1.100 toneladas de TNT (1.1 kilotoneladas). A bomba atómica lançada em Hiroshima gerou uma explosão a ordem das 13-15 kilotoneladas de TNT, o que significa que a explosão das 2.750 toneladas de nitrato de amónio equivaleram a cerca de 5% da que eclodiu no Japão em 6 de Agosto de 1945.

O Dr. Sam Rigby da Sheffield’s Blast and Impact Engineering Research Group coloca a explosão de Beirute numa espécie de “no-man’s land” entre as armas convencionais e as armas nucleares, sendo que foi 10 vezes mais potente do que aquelas e 10 a 20 mais fraca do que estas.

A explosão de Beirute ficará na História como um episódio record, no Top 10 das mais poderosas explosões acidentais causadas pelo homem e como a maior explosão não-nuclear do século XXI. Do presente, fica um tremendo rasto de morte, vítimas, destruição e miséria.