21 julho, 2013

Justiça e Racismo

JUSTIÇA E RACISMO

 

Os Estados Unidos vivem dias de agitação inflamada por causa do veredicto do caso Trayvon Martin – George Zimmerman, julgamento da morte daquele por este. Como é sabido, o tribunal inocentou Zimmerman que terá actuado em legítima defesa. A acusação não conseguiu provar o contrário.

A reacção de vários políticos, media e organizações não-governamentais saíram a público fazendo declarações espantosas e promovendo manifestações e fazendo pressão para que o inocentado fosse considerado culpado.

Um deles foi o lamentável Barack Obama com duas declarações: “If I had a son, he’d look like Trayvon,” (in Washington Post em http://www.washingtonpost.com/opinions/charles-krauthammer-the-zimmerman-case--a-touch-of-sanity/2013/07/18/35f30c00-efdd-11e2-a1f9-ea873b7e0424_print.html) e mais tarde: “Trayvon Martin could have been me 35 years ago,” (in Washington Post em http://www.washingtonpost.com/blogs/post-politics/wp/2013/07/19/obama-on-trayvon-martin-historical-context-important/?wpisrc=nl_pmpol), intervenções que, intencionalmente ou desastradamente, questionam uma decisão judicial contra a qual não se conseguiu suscitar objecções substantivas.

A realidade que subjaz ao furor à volta da sentença é a do preconceito racial. Grande parte da comunidade negra norte-americana acredita e/ou foi levada a acreditar que Zimmerman foi absolvido por ser branco e por a vítima ser negra e nada os convencerá do contrário, da mesma forma que não se manifestariam se os papéis fossem invertidos.

Infelizmente, as estatísticas do crime mostram que, por exemplo, em New York, 78% dos suspeitos em incidentes envolvendo armas de fogo são negros, dos quais, a esmagadora maioria jovens e do sexo masculino. Ora isto não é racismo, é um facto estatístico. Que pode ter muitas explicações sociais, económicas, ou políticas, mas quando se trata de combater o crime, ou de fazer criminal profiling, os motivos profundos não são relevantes, as probabilidades são.

O mais lamentável, para além da vida que se perdeu, é o aproveitamento que personalidades incendiárias e oportunistas como Al Sharpton fazem do sucedido, tentando crucificar em praça pública quem foi inocentado num processo judicial legítimo. Também é lamentável que uma televisão como a NBC adultere factos de forma deliberada para “realçar a tensão racial da hsitória” (in Expresso em http://expresso.sapo.pt/nbc-acusada-de-fabricar-racismo-de-george-zimmerman=f820575). Inaceitável é haver responsáveis políticos que afirmem que Zimmerman é um criminoso, quando acaba de ser considerado inocente por um tribunal. E não estamos a falar de um mafioso que eliminou testemunhas e subornou polícias para não ser condenado.

As pessoas que se promovem através de uma campanha de ódio, assente em falsos racismos estão a pôr em cheque a possibilidade de Zimmerman levar uma vida normal. Estarão mesmo a pôr a sua vida em risco. Mas para esses, se Zimmerman vier a ser abatido, talvez tenha pouco importância: afinal ele é apenas um branco.

8 comentários:

Estella disse...

O racismo é uma forma de discriminanação e esta deve ser tão antiga como a mais antiga profissão do mundo. Sempre houve um grupo dominador e outro dominado, embora variasse nas cambiantes: estatuto social e/ou económico, cor, etnia, etc.. Pelos mais variados motivos, a raça humana (a mais predadora à face da Terra), sempre sentiu necessidade de oprimir alguém. Nesta era digital e tecnológica era suposto determinados preconceitos estarem ultrapassados. Puro engano. Hobbes é que os conhecia. A situação torna-se tanto pior quando o acesso às tecnologias pode ser utilizado para a manipulação de massas, as quais muitas vezes parecem não ter "massa" para discernir quando está a ser "empurrada".
A vida podia ser bela se o homem não desse cabo dela.

Estella disse...

Este fim de semana deu-me para "dar uma vista de olhos" à CRP. Quantos atropelos!No Artigo
9º relativo às Tarefas Fundamentais do Estado, por exemplo,qual daquelas alíneas é cumprida efectivamente pelo Estado? E a igualdade de direitos do Artigo 13º? E a independência entre os poderes legislativo e judicial (em Portugal não podia ser mais promíscua)? O nº3 do Artigo 202º alude à coadjuvação dos tribunais por outras autoridades. O PR pode ser uma delas. Se calhar, nos EUA Baraka Obama apenas quis coadjuvar a justiça por a considerar incompetente. Não foi intromissão, não senhor! Puro exercício e exemplo de cidadania. Quando as Constituições "falham", lá estão a AR ou Senado e os Presidentes para defender a democracia. Foi o caso. Incitação ao racismo? Nã! Isso é apenas um ponto de vista e os portugueses há muito que têm miragens.

Joaquim de Freitas disse...

Conheço bastante bem os EUA por aí ter trabalhado, a partir da França, e viajado durante 25 anos. Visitei as industrias, particularmente, e vi a separação existente entre os Negros e as outras raças.
Como muito bem sabe, a América é heterogênea por razoes historicas: Índios, imigrantes brancos e escravos negros trazidos à força para trabalhar gratuitamente. Em três séculos, os 3 milhões de negros "importados" contribuíram como ninguém para a riqueza e o poder que os USA detêm hoje . A divida é colossal! .
Por isso mesmo a população do Novo Mundo procurou vários meios para constituir um corpo social e político. Sejamos honestos: a exclusão racial foi o principio de homogeneização que os brancos adoptaram.
Assim, a historia da América é a historia da exclusão. O massacre dos Índios foi uma primeira etapa na elaboração da exclusao socio-etnica.
O percurso dos Negros americanos constituiu uma etapa, digamos, mais elaborada do conceito.
Porque eram necessários e exploráveis no plano econômico, os Africanos da América não foram destruídos como os Índios.
Comparo, por vezes, os Negros e os Judeus medievais. Estes ultimos, transformaram-se em "híbridos culturais", evoluindo num contexto social ambivalente. Acomodaram-se a um mundo diferente ( penso nos "marranes" que se estabeleceram na região da Covilhã, fugindo à Inquisição espanhola), procurando sempre guardar as suas tradições e religião. E mesmo se os Portugueses os aceitaram, ou os ignoraram, noutros países europeus foram perseguidos por preconceitos raciais e religiosos. Mas os Judeus ficaram fieis à sua cultura e modo de vida.

Quando a escravatura foi abolida e que permitiram ao Negro americano de participar à vida cultural , este encontrou-se à margem de duas culturas e de duas sociedades (americana e africana) das quais a fusão nunca se realizou. Tinha perdido as suas raízes e misturou o que lhe restava da sua cultura com os elementos culturais ocidentais. Também ele se transformou num "híbrido cultural", e a partir daí , a "diferença" era-lhes chamada à atenção permanentemente : a cor da pele!
O tratamento desigual que teve de suportar e a sua exclusão racial são as marcas da sociedade americana.

Os mecanismos de exclusão continuam a ser "afinados" mesmo hoje. Eu reconhecia-o em pequenos incidentes nas fábricas onde vendia os meus "robots"!
Os três estatutos da historia dos Negros : escravos primeiro, libertados mas mantidos até aos anos 70 do XX° século fora da vida econômica, política e cultural graças ao arsenal dos adeptos da segregação do Alabama e de além, vitimas do KKK, com a policia sempre às costas, confinados nos "downtowns, apesar de terem os mesmos direitos que os brancos.

Enfim, Caro Dr. Miguel Ribeiro : Se as estatísticas do crime são justas, as do desemprego são gritantes : o dobro dos brancos ! E quando se vive num "downtown" as "chances" de ocupar um emprego fora da zona "tribal" é nula! Um Negro é, em principio, sempre culpado! Por precaução!
E sejamos justos: Afim de demonstrar a natureza infra humana dos Negros , os racistas usaram todas armas:
Os Negros não têm Historia! Os Negros são passivos! Os Negros só são bons para as criações culturais especificas do povo negro americano.

A convicção racista duma superioridade dos Brancos está tão profundamente ancorada na trama da sociedade que ela marca todo o funcionamento do subconsciente nacional. A América é assim mesmo.

Freitas Pereira

Anónimo disse...

Olá Rui,

Li este post hoje de manhã e estive até agora para encontrar um adjectivo: Potente!

Potente, este Post. Muito Bom.

Abr,
Fernando

Rui Miguel Ribeiro disse...

Estella 1 (se me permite),

Magnífico comentário!!! Gostei imenso. Especialmente do final poético!
Bjs

Rui Miguel Ribeiro disse...

Estella 2,

Eu não sou o maior dos adeptos da CRP, mas ela existe. Para a comandita governativa ela é um estorvo que importa, ignorar, atropelar, exterminar. É talvez o maior obstáculo que têm pela frente para levar a cabo as suas políticas espúrias.
Quando a Obama, não concordo. Tomou partido e violou a separação de poderes. É outro que tem poucos escrúpulos.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Sr. Freitas Pereira,

Eu não tenho o seu conhecimento in loco. Infelizmente só visitei os EUA uma vez e em circunstâncias específicas (visita oficial).
DE qualquer forma, sem recuar à escravatura, que não é de todo um exclusivo da América, nem aos índios (a formação de estados por conquista teve normalmente subjacente o massacre de boa parte da população anterior, sempre digo que a emancipação dos negros nos EUA percorreu um longo caminho desde Luther King até hoje.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Olá Fernando,

É bom ver-te repetente nos comentários ;-)

Agradeço o adjectivo, na presunção que expressa com exuberância um sentimento positivo!!!