21 agosto, 2012

JOGOS OLÍMPICOS E NACIONALISMO


Os Jogos Olímpicos de Londres proporcionaram-nos múltiplas celebrações. A óbvia celebração dos feitos desportivos de que Michael Phelps foi novamente o expoente máximo. A celebração da festa, do convívio, da alegria, extensível a atletas, acompanhantes, staff da organização, público e espectadores distantes. Até se poderia referir uma celebração da globalização e da crescente inter-conexão entre povos e países. E foram, também, uma celebração universal do Nacionalismo.

Sim, esse sentimento multisecular, frequentemente vilipendiado na Europa contemporânea, também esteve presente. Esteve presente no desfile das delegações nacionais precedidas pelos porta-estandarte exibindo as cores nacionais, no orgulho de ver subir a bandeira nacional (dos 80 países medalhados), do frémito de emoção ao ouvir o hino nacional (dos 50 países que conquistaram medalhas de ouro), do orgulho de atletas e respectivos concidadãos ao fazerem/verem a volta olímpica (de honra) envoltos na respectiva bandeira, na angústia pela chegada da medalha fugidia, na consulta atenta do Medalheiro Olímpico para verificar a posição do nosso país, no exultar com os feitos desportivos e as medalhas de atletas que não conhecemos em modalidades que quase ignoramos, só porque os nossos compatriotas levantaram alto o nome do nosso país.

Este sentimento manifesta-se de forma transversal em todos os continentes e países. É um sentimento de pertença, de comunhão, de identidade que, por muito que custe a alguns, só a nacionalidade partilhada suscita. Felizmente, o Nacionalismo está para durar.



MEDALHEIRO OLÍMPICO

O Medalheiro Olímpico mostra-nos que as tradicionais potências político-militares e económicas também dominam no desporto. Significativamente, o Top 12 é composto exactamente pelos mesmos países de Pequim 2008 e em relação a Sidney 2000, a grandes diferenças são a inclusão de Cuba e Holanda nos 10 primeiros, mas todos os 13 aqui refenciados ficaram então nos 15 melhores. Saliente-se o novo triunfo dos EUA e a notável performance da Grã-Bretanha. Será que há uma correlação entre a Geopolítica e o Desporto? Seja como for, certo é que as grandes potências se empenham em brilhar e reforçar o seu prestígio nos Jogos Olímpicos.

Ao contrário do que é comum fazer nos media que privilegiam as medalhas de ouro (o que pode resultar na colocação de um país com 1 medalha de ouro à frente de outro com 5 medalhas de prata e 5 de bronze), aqui atribui-se 3, 2 e 1 pontos às medalhas de ouro, prata e bronze, respectivamente. O ranking é feito em função dos pontos.




COUNT/MED
GOLD
SILVER
BRONZE
TOTAL
POINTS
USA
46
29
29
104
225
CHINA
38
27
22
87
186
RUSSIA
24
25
33
82
155
GREAT BRITAIN
29
17
19
65
137
GERMANY
11
19
14
44
85
FRANCE
11
11
12
34
67
JAPAN
7
14
17
38
66
AUSTRALIA
7
16
12
35
65
SOUTH KOREA
13
8
7
28
62
10º
ITALY
8
9
11
28
53
11º
HOLLAND
6
6
8
20
38
12º
HUNGARY
8
4
5
17
37
13º
UKRAINE
6
5
9
20
37



NOTA 1: Quando se refere o “nosso” país/bandeira/atleta, é de forma abstracta, aplicável a qualquer país e não especificamente ao meu.

NOTA 2: Neste texto faz-se a apologia do Nacionalismo e do patriotismo, mas não de nacionalismo agressivos, expansionistas, ou belicistas. O Nacionalismo não é sinónimo de III Reich.

8 comentários:

Defreitas disse...

O nacionalismo é um vestígio tribal que o ser humano parece ser incapaz de abandonar.
Se ser nacionalista consiste em ser orgulhoso das origens, amar a língua, a historia, os cantos, as tradições, as paisagens, então sou nacionalista.
São estes laços intangíveis que permitem a um exilado ou um emigrante de conservar intacta a ideia da Pátria onde nasceu.
Mas o uso abusivo do termo “nacional” acorda em mim memórias trágicas. Nasci e vivi a minha juventude num pais, Portugal, onde este termo significava o fascismo , mesmo se aqueles que dominavam a cena política, sob a sigla do partido único, nacional, se consideravam detentores da alma da nação.
Não são os partidos políticos que são capazes de suscitar o amor da Pátria, o prazer de falar, de cantar e de chorar em português.
Sei por experiência que o nacionalismo pode facilmente cair nos abusos da estupidez, da intolerância e mesmo da violência. Basta relembrar alguns desafios internacionais de futebol. Nenhum nacionalismo está exempto de tais derrapagens. Tudo depende das circunstâncias.
O chauvinismo, por exemplo, é um nacionalismo excessivo.
As doutrinas políticas nacionalistas , os seus fundadores e os seus actores, estiveram na origem de guerras terríveis.
O nacionalismo é, sem duvida, a guerra.
Por isso faço a diferença entre patriotismo e nacionalismo. O patriotismo é amar o seu pais. O nacionalismo é odiar o dos outros.

Freitas Pereira

PS) Tenho a impressão que o meu comentário sobre os Jogos Olímpicos se extraviou. Envio-o de novo.

Defreitas disse...

Os Jogos de Londres acabaram ! Vivam os Jogos do Rio !
Jogos que viram militares britânicos, heróis dos massacres das guerras longínquas do Afeganistão, Iraque e Líbia, hastear a bandeira da paz, a bandeira dos cincos anéis! Eu teria preferido jovens das escolas do Reino Unido ou “velhos campeões” doutros jogos!
Jogos que viram representantes da Union Carbide , culpados dos 20.000 mortos e 500.000 afectados , de Bhopal, na Índia, envenenados pela fuga de 42 toneladas de isocianato de metilo, e da British Petroleum culpados da maré negra do golfo do México, correr com o facho olímpico entre Kensington e Chelsea, os prestigiosos bairros “chic” de Londres! Mas eram “sponsors” dos atletas e do Comité Olimpico ! E isso é o “espirito olimpico” dos tempos que correm!
Todos os quatro anos, o fervor popular mondialisado, considera os Jogos como um grande momento de verdade para o desporto planetário , num lugar qualquer do globo, afim de estabelecer um novo recorde. Mais alto, mais forte, mais longe, como proclamava o fundador dos Jogos modernos o famoso Barão de Coubertin.
Entretanto, aqui, como em muitas outras actividades humanas dignas de interesse, por traz da cena , agitam-se nos bastidores, dissimulados ao publico absorvido pela festa, outros valores que não o da beleza do desporto.
O contexto duma época fornece o pretexto raramente confessado : ontem, o racismo (Jess Owens e Hitler, em Berlim), o colonialismo, o fascismo ou o eugenismo; hoje, o MERCADO totalitário e os seus abusos político-económicos. E amanha?
O cidadão esclarecido não se satisfaz da única verdade do desporto, verdade aliás por vezes maltratada pelas formas modernas de estimulação dos corpos; Ah as atletas da Alemanha do Leste, anos atrás, que ganhavam mais medalhas que as dos países ditos democráticos !
Sendo Português, não me custa nada fazer o processo do Francês Pierre de Coubertin! Ao lado da verdade desportiva, a verdade histórica contém alguma fealdade!
Ah, este Barão, que era Presidente de Honra do Comité Olímpico Internacional quando este atribuiu à Republica de Weimar a organização dos Jogos de 1936 em Berlim. Com Hitler no poder!
O choque, em seguida, quando se soube que foi o dignitário nazi, Karl Diem, que inventou a ideia do facho percorrendo a distância entre Olimpia, na Grécia ( estive lá há um mês e pensei nisso!) e o pais onde se desenrolavam os Jogos, e que Coubertin declarou na cerimonia de abertura:” Que o povo alemão e o seu chefe sejam agradecidos pelo que aqui realizaram” . Que herança!
O culto que o barão dedicava à força física tem raízes profundas menos anódinas que a “gloriosa incerteza do desporto” ! Coubertin considerava o desporto como o melhor meio de preparar a juventude para a guerra: “ O jovem desportivo sente-se evidentemente mais bem preparado a partir para a guerra que não o foram os seus pais”. E quando se está preparado para alguma coisa, faz-se melhor e com mais vontade” ! Bravo!
Ah, este Coubertin, que participou à “Filosofia do Homem Novo” e as teorias raciais da época. Leiam Alexis Carrel, fervente promotor do eugenismo cientifico (chamavam-lhe “viricultura” !) e Francis Galton, primo de Darwin, para quem o modelo da criação selectiva dos animais deviam ser aplicadas à espécie humana.
De Coubertin : “ As raças são de valor diferente e a raça branca, sendo de essência superior,todas as outras lhe devem vassalagem” ! O humanismo de Coubertin é um mito!


Por isso pensei o outro dia em Olímpia, na Grécia, que um dia, para libertar os Jogos de toda a poluição mercantil actual, seria bom de transferir definitivamente os Jogos para Olímpia, que é um sitio maravilhoso! Sob a protecção de Zeus!



Cumprimentos
Freitas Pereira

Anónimo disse...

Boa noite Doutor Rui Miguel

Não sei se existe um elo comum entre as variáveis que apresentou, mas li os 2 comentários que lhe fizeram e, sinceramente, não tenho bagagem nem gabarito para lhe tecer algo tão profundo. Os meus conhecimentos em termos históricos, sociais e filosóficos são parcos.
O léxico é perceptível; as citações merecem-me estudo.
No entanto, felicito os atletas que tão arduamente lutaram para chegar ao podium. O maior nº de medalhas foi ganho pelas superpotências. Será porque os meios económicos variam na razão directa das vitórias? Sabemos que grande parte dos atletas são profissionais e têm apoios financeiros que se traduzem em proventos incalculáveis. É um negócio. E depois? Nem por isso deixaram de ter de provar o seu mérito, porque quem dá também tira impiedosamente.
As empresas portuguesas SA bem que podiam ser mecenas dos atletas portugueses mais prometedores. Quando visse a nossa bandeira
hasteada e ouvisse o nosso lindíssimo hino, garanto que me arrepiava e chorava sem qualquer vergonha. Estava no Algarve quando o Carlos Lopes ganhou a medalha de ouro e comecei a chorar em plena rua. Que comoção! Patriotismo? Nacionalismo? Não consigo distinguir. Mas sei que, na generalidade, o que é português é bom. Até os ladrões! São tão bons que a justiça nem lhes belisca. Se fosse aceite como modalidade nos jogos olímpicos, alguém duvida que trazíamos de lá o ouro? Querem o nome de alguns "atletas"?

Beijinhos
EStella

PVM disse...

Rui:
Isto do nacionalismo tem tanto que se lhe diga, que em vez de escrever aqui um longo comentário fiz a réplica no sítio que tu conheces.
Um abraço
Paulo

Rui Miguel Ribeiro disse...

Caro Sr. Freitas Pereira,

Também rejeito o uso do Nacionalismo para fins espúrios como referi no post. Citou o exemplo do Estado Novo, eu referi o do III Reich que é infinitamente pior. Contudo, não vou abandonar uma ideia só porque há quem faça mau uso dela. Aliás, o que não falta são ideários bons maltratados e subvertidos.
Quanto às claques violentas, qualquer pretexto lhes serve para desenacdear a violência.
Finalmente os partidos: completamente de acordo consigo. Mais depressa achincalham a ideia de Pátria e o orgulho de a ela pertencer que o seu contrário.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Sr. Freitas Pereira,

De facto o seu comentário sobre os JO não surgiu. Tomei a liberdade de "transferi-lo" para o post ao qual estava destinado.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Estella,

Sim, o poder económico tem um papel importante, embora haja países mais pobres que têm mais medalhas que outro mais abastados. Também depende do empenho que se coloca no projecto.

Eu também me emociono quando "Portugal" sobe ao pódio. Quando Carlos Lopes ganhou o ouro em Los Angeles, estava em Delft, na Holanda e "obriguei" o meu anfitrião a ficar acordado mais uma hora (penso que já eram 3h ou 4h da madrugada) para ver a cerim´nia de entrega das medalhas. Afinal era o "nosso" priemiro ouro!!!

Rui Miguel Ribeiro disse...

Caro Paulo,

Primeiro, tenho que agradecer as tuas simpáticas palavras. Embora toldadas pela amizade, têm muito significado para mim.

Em segundo lugar, devo confessar que pensei em ti quando escrevia o post: "Se o Paulo ler isto, vai atirar-se ao texto como gato a bofe!" Afinal, até foste suave :-)

Relativamente às divergências:

1- Admito que o Nacionalismo é incutido. Contudo, é algo que se sente. Ou não. Eu sinto. Tu não. O facto de não brotar espontaneamente dentro de nós, não exclui que o indivíduo o sinta, mesmo que na origem exista um condicionamento. Finalmente, a pertença a um grupo, neste caso nacional, não temn que ter u cunho totalitário. É óbvio que constrange a liberdade o que é algo que decorre da integração social, seja nacional ou outra, mas num país demo-liberal, o indivíduo retém ampla margem de liberdade.

2- Sim, há pessoas que não ficam contentes "com a nacionalidade que calhou em [...] sorte" , mas nesses casos pode existir um opting-out... Quanto aos atletas, discordo, porque há muitos que ficam visivelmente emocionados ao ouvir o hino e ver a bandeira e esta está omnipresente nas celebrações.

3- Eu sei que há mais História para além da nação, mas convenhamos que 400 anos são bem mais do que "uma vírgula". Não, não acredito no determinismo histórico, nem tenho dons de adivinho. A frase final "Felizmente, o Nacionalismo está para durar." significa uma previsão, an educated guess, baseada na minha análise do presente e da forma como vejo a evolução das RI. Vale o que vale, admito que não valha muito, mas é o que eu penso.

Um grande abraço.