OS AUTOCRATAS
A vocação comunitária para cilindrar a Democracia.
in "The Economist” (legenda minha)
A vocação comunitária para cilindrar a Democracia.
in "The Economist” (legenda minha)
E pronto! Como diz o povo, cada cavadela, uma minhoca! Neste caso, cada referendo, novo NÃO! E já lá vão 3 consecutivos: França, Holanda e, agora, Irlanda.
Em condições normais, o Tratado Constitucional/Tratado de Lisboa, já devia estar morto e enterrado e os Estados-Membros da União Europeia estariam concentrados na resolução dos problemas reais dos seus países e respectivas populações.
Previsivelmente, as coisas não aconteceram assim. Revoltados com esta nova desfeita do eleitorado, os políticos europeus reagiram com redobrados tiques autocratas. Angela Merkel quer que o infeliz Primeiro-Ministro da Irlanda explique aos outros 26 líderes porque é que os Irlandeses votaram Não (talvez porque desconfiam do Tratado). Outros, como Wolfgang Schauble (Ministro do Interior da Alemanha) resmungam que 4 milhões não podem decidir por 495 milhões, ignorando o pormenor de os outros 491 milhões não terem tido oportunidade de se pronunciar sobre o assunto. Muitos, como o MNE Português Luís Amado, afirmam que os Irlandeses terão de votar novamente (possivelmente na esperança de que à 72ª tentativa digam Sim).
É profundamente lamentável que representantes de países médios ou pequenos apouquem desta forma a vontade democraticamente manifestada por cidadãos de outros pequenos Estados-Membros da EU. Luís Amado presta um mau serviço a Portugal, quando embarca na onda de menosprezar o referendo porque a Irlanda (ou a Dinamarca noutros tempos) é um país pequeno, porque está a reduzir a margem de manobra futura e o poder de todos os Estados mais pequenos, incluindo Portugal.
Finalmente, constato, sem surpresa, que a EU continua imparável numa deriva autocrática. As 27 pessoas que têm assento no Conselho Europeu persistem em ignorar e desprezar a vontade democraticamente expressa dos cidadãos, fogem o mais que podem de os consultar e impões a sua vontade a bem ou a mal. Inebriados pelo seu poder, vão descambando em autocratas. Reafirmo: desta forma, a EU vai por maus caminhos.