EUROPA E ÁFRICA
Portugal tem insistido frequentemente na realização de Cimeiras Europa-África, ou melhor, UE-UA. Este ano, o Governo Português porfiou para conseguir essa realização durante o 2º semestre de 2007, durante a Presidência Portuguesa da EU. Esta semana conseguiu-o: a Cimeira terá lugar em Lisboa.
Um dos obstáculos à realização do evento foi a resistência que alguns Estados-Membros, mormente o Reino Unido, puseram à participação de Robert Mugabe, Presidente vitalício do Zimbabwe.
Aliás, a União Europeia tem uma posição comum, que terá de alterar, que veda tais convites a tal criatura. O problema é que vários países africanos não participarão se Mugabe for excluído “em nome da solidariedade entre Africanos.” (DN, 16/12/06; p. 12) Duas notas:
1- EUROPA: Lá se vai a suposta “superioridade” moral dos Europeus; para conseguir realizar uma cimeira, provavelmente inconsequente, tem de ceder aos caprichos de alguns dirigentes africanos e receber um ditador assassino, cleptocrata e racista. É claro que se se tratasse de Pinochet, Alexander Lukashenko, ou Jorg Haider, haveria um tsunami político-mediático condenando a atitude imoral dos líderes europeus. Se for Mugabe ou Fidel Castro, tudo corre bem, pertencem à turma de ditadores aceites pela intelligentsia europeia. Pior ainda, é que além de Mugabe, virá mais uma clique de ditadores mais ou menos sanguinários, mas que nem da lista negra constam.
2- ÁFRICA: “Solidariedade entre Africanos”?!? Seria verdadeiramente hilariante se não fosse tão trágico. Solidariedade entre Sudaneses? Entre Hutus e Tutsis no Ruanda e no Burundi? Entre o Ruanda e o Congo? Entre a Etiópia, a Eritreia e a Somália? Entre Marrocos e a Argélia? Entre o Uganda e a Tanzânia? Entre o Sudão e o Chade? Entre Nigerianos? Entre Liberianos? Na Serra Leoa, ou na Costa do Marfim? Entre a Guiné-Bissau e o Senegal? É claro que alguns dos “solidários” também não terão grande moral para condenar Mugabe, mas isso só vem agravar o problema.
Pelo menos que a Cimeira sirva para deixar cair a máscara de que a UE e/ou os seus Estados-Membros não praticam a Real Politik. Desde que haja interesses envolvidos, nem que seja o da mera vaidade e prestígio de organizar uma grande cimeira internacional, guarda-se os princípios na gaveta por uns dias. It’s business as usual.
8 comentários:
É inadmissível como a UE consegue descer tão baixo, ajoelhando-se a meia dúzia de ditadores que roubam e deixam morrer à fome todos os habitantes dos seus países. E mais incompreensível é a passividade da opinião pública. Será que já se esqueceram de Hitler, e outros? Ou será que África fica do outro lado do mundo e não chegam, à Europa, notícias dos conflitos tribais (ex. Darfur) onde morrem milhares de pessoas todos os dias? Ou, talvez, fugirão estes imigrantes africanos dos seus países, para virem passar férias para a Europa?...
Senhor Rui Miguel Ribeiro
Andei à volta deste “post” durante um certo tempo e finalmente não resisti à tentação de comentar. Porque a África é talvez o continente que mais me impressionou pela sua beleza e a sua natureza selvagem que o filme “Out of África” muito bem ilustrou.
Porque a África é o mais infeliz dos continentes, porque não tendo sido capaz de educar a sua juventude não atrai investidores para ai explorar a possibilidade de salários baixos. O que possibilitou o arranque industrial da Ásia e mesmo da América Latina foi a existência duma juventude devidamente formada pronta a integrar os meios de produção industrial modernos. Basta ir a Bangalore, a Singapura à Indonésia à Tailândia ou às Filipinas para o constatar.
Porque a África é um continente hoje devastado pela Sida.
Porque a África que conta hoje 55 países foi durante séculos a propriedade de Quatro Impérios Europeus , se fizermos abstracção dos efémeros territórios Alemão e Italiano, que duraram o tempo duma guerra mundial.
Porque a África, que se libertou do colonialismo em guerras por vezes destrutoras, que deixaram muitas marcas no terreno e nos homens, herdou de algumas taras dos colonizadores graças à mentalidade dos letrados saídos das universidades de Lisboa, Porto, Coimbra, Oxford , Paris, etc, que depois de terem manobrado as massas populares a partir de Brazzaville, Leopoldville, Argel , Cairo e outros lugares de asilo, em nome da luta pela independência , obtiveram o poder mas esquecendo rapidamente os anseios do povo e vão finalmente servir-se a si próprios , mesmo à custa de guerras fratricidas, por vezes instigadas pelos antigos colonizadores... ou outros vindos de longe !
Para alguns, poucos, ilustres, como Leopoldo Sedar Senghor , o poeta da “Negritude “ e um Félix Houphouet-Boigny , membros da Academia Francesa, um Mandela, um Jomo Kenyatta, um N’Krumah, um Bourguiba, quantos sargentos insignificantes saídos dos exércitos coloniais vão chegar ao Marechalato,( Ah! esse Mobuto,) ou a Imperador ( Ah! esse Bocassa, ) e quantos serão tiranos ferozes e quantos ainda lá estão !
Porque a África continua a ser namorada pelo ocidente , ávido das sua riquezas estratégicas essenciais, a valsa dos dirigentes corresponde à mudança de influência vinda do exterior. Neste aspecto, a concorrência é brutal !
Porque a África é um dos continentes onde a corrupção é mais generalizada, o desenvolvimento é penalizado. Senão, vejamos o que diz a World Bank :-“ What we realized was that corruption is not just a moral or ethical issue but an economic development issue,” said Daniel Kaufman, an economist who began the World Bank’s corruption studies.” We estimated that with good governance, there is a threefold increase in per capita income as funds that should be allocated toward the gross domestic product are nor siphoned off”.
“Siphoned off “ ! » Le joli terme « para o roubo generalizado do povo africano, para constituir fortunas nos bancos europeus ou/ e americanos, que por vezes os ditadores nem têm tempo de aproveitar. Mobutu deixou biliões de francos na Suíça, Bocassa “un Chateau” no Vale De Loire, ( claro era um Imperador!), muitos outros nas off-shore qualquer parte nas Caraibas.
Quando vemos como estes indivíduos são recebidos pelas chancelarias ocidentais, a situação não está prestes de mudar. Mas não é só na África: no Kazakhstan, o Presidente Nursultan é acusado de varias operações de corrupção no seu pais. Mas foi recebido em Setembro por Bush na Casa Branca. Em Paris sem duvida também. Bem conhecidos. Alors !
Por isso tem razão quando diz que o ocidente não tem coragem.
“Is it business as usual ?” Yes, because business is the art of extracting money from another man’s pocket without resorting to violence “ A corrupçao, flagelo moderno, mesmo nos nossos paises desenvolvidos, é isso. Mesmo um Senhor Presidente da República discursou recentemente sobre este tema, não é assim ?
Olha João Carlos, nem sei bem que te diga. Que posso eu, que te ensinei que as RI eram movidas pelo poder e pelos interesses, dizer?
Talvez o que seja grotesco aqui, é que os interesses se resumem a uma feira de vaidades, hipocrisias e declarações balofas e repetidas. Nem sequer se trata do "business as usual" na fantástica definição aqui trazida pelo Sr. Freitas Pereira no comment seguinte...
Sr. Freitas Pereira: Tem fundamentalmente razão naquilo que diz. No entanto, 50 anos volvidos desde a Descolonização, África não pode continuar a justificar as suas misérias à sombra da "responsabilidade imperial-colonial". Não vou fazer o deve e haver da Colonização em África, mas nas últimas décadas foram Africanos, muitos deles corruptos, mentecaptos e assassinos como bem refere, que foram os responsáveis por grande parte das misérias de África. Enquanto não extirparem essas ervas daninhas, o Mal continuará a prevalecer.
Esta duplicidade e hipocrisia são revoltantes. Mugabe devia já ter sido removido de uma forma ou de outra há muito tempo.
José Manuel
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