“EMBORA DOA” *
Filipinos abatidos no primeiro dia da Guerra Filipino-Americana
(1899-1902).
Todos somos
confrontados frequentemente, se não diariamente, com notícias desagradáveis,
más, péssimas, ou mesmo horríveis e vemos na TV coisas que preferíamos não ver
(ou sequer saber). Ao ponto de desviarmos o olhar, silenciamos o televisor, ou
mudamos de canal.
Embora doa,
Nada fiz para mudar.
Embora doa,
Nada vai mudar.
A verdade é que,
olhando ou não, sentindo mais, menos, ou nada, há muito pouco (ou nada) que se
possa fazer para mudar na grande maioria dos casos. E o que pode,
eventualmente, ser feito, acarreta custos que não queremos tolerar.
Ao som de armas adormeço
Embora doa,
Não me faz perder o sono.
Compartimentalizar
faz parte do manual de sobrevivência. Se impusermos a nós próprios a cruz das
desgraças de cada telejornal, talvez percamos bem mais do que o sono, mas nada
se resolveria. É preciso desenvolver imunidades sem perder humanidade.
Escorre sangue pelo ouro,
Em directo na TV
Explode a
carne
Em mãos de quem nada fez
Embora doa,
Não me sujo desse sangue.
Embora doa,
Há sempre outro canal.
A
responsabilização colectiva por cataclismos que nos ultrapassam na causalidade,
na motivação e na execução é um absurdo que decorre de uma visão distorcida da
responsabilidade, ou de algum interesse individual ou de grupo. A discordância,
a preocupação, a revolta, o horror perante o que vemos não nos faz passar de
testemunhas distantes a responsáveis pelos factos.
E ainda bem que
há sempre outro canal: todos temos o direito de evitar o lixo televisivo e o
horror também. Evitar é diferente de ignorar. Auto-defesa ≠ indiferença.
Embora doa, a
vida continua e nós também. Se Deus quiser.
* Este post foi inspirado
pela música “Embora Doa” dos Klepht e inclui o vídeo clip da mesma.
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