O CRIMINOSO VOLTA SEMPRE AO LOCAL DO CRIME
Curiosamente, a zona de Sirte onde
o Coronel Kadhafi foi abatido é a mesma onde se concentra o Estado Islâmico na
Líbia.
in “STRATFOR”
em www.stratfor.com
É sabido que a
intervenção militar na Líbia pelos Estados Unidos, França e Reino Unido e
coordenada pela NATO foi uma farsa (ver “Farsa
na Líbia” em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2011/03/farsa-na-libia.html , na qual as
referidas potências criaram um pretexto (proteger civis ameaçados pelas tropas
de Khadafi em Benghazi), aprovaram uma Resolução no Conselho de Segurança da
ONU de acordo com o pretexto e depois dedicaram-se a apoiar milícias rebeldes,
atacar o exército líbio, bombardear edifícios governamentais em Tripoli e
perseguir o Coronel Khadafi até ele ser sumariamente liquidado. Nesse momento,
a missão da NATO foi dada por terminada, confirmando que a eliminação de
Khadafi e a mudança de regime (regime change) foi o real objectivo da
intervenção.
É também sabido
que, além da intervenção capciosa, as suas consequências foram catastróficas
para o país e para o povo, resultando na desintegração do Estado, ficando a
Líbia mergulhada, até hoje, no caos, variando entre a existência de 1, 2, ou 3
governos em simultâneo, sendo que nenhum consegue exercer real autoridade sobre
o país inteiro.
A Líbia tem sido, pois,
uma manta de retalhos, em permanente conflito e instabilidade, com múltiplas
milícias e organizações terroristas controlando cidades e/ou regiões, à margem
do resto do país, excepto quando se confrontam em combate por poder, território
e petróleo.
Apesar de terem
efectivamente destruído a Líbia com a intervenção de 2011, os mesmos
protagonistas estão ansiosos por lá voltar. Aliás, já voltaram. Abundam os
relatos de que forças especiais dos EUA, Reino Unido e França já estão no
terreno a treinar e armar as milícias ou grupos que escolheram apoiar. Mais, os
mesmos relatos indicam que estas
potências aguardam um pedido formal do
novo governo (supostamente consensual, mas que ainda não foi aprovado pelos
dois (?) parlamentos existentes, um em Tripoli e o outro em Tobruk), para
legitimar uma intervenção armada em maior escala, cerca de 6000 tropas,
nominalmente liderada pela Itália.
É claro que,
não estando o dito governo ainda firmemente estabelecido, o tal pedido ainda
não foi formulado. Mas as potências estão impacientes e já foram enviando as
referidas forças especiais, cujas espcialidades incluem intervir sem se saber,
fazer sem se saber o quê, nem a quem, ou com quem e com quê. E sem prestação de
contas ou escrutínio político e muito menos público. Cómodo e conveniente.
O pretexto, esse terá
de ser diferente, mas foi fácil de encontrar: o bicho papão da actualidade, o Estado Islâmico (IS). Pouco importa
se o papel do IS na Líbia é relativamente menor, ou que a sua área de
influência se circunscreve a Sirte e pouco mais, ou que o IS está longe de
representar o principal problema na Líbia. O que conta é que se trata da
desculpa/pretexto do momento e uma que quase toda a gente aceita sem questionar
ou objectar.
E assim, a pandilha que
estilhaçou a Líbia em 2011/12 está de volta em 2015/16. Como reza a máxima da
literatura policial, o(s) criminoso(s) volta(m) sempre ao local do crime. Resta
saber que malfeitorias farão desta vez.
POSTS RELACIONADOS:
“BRINCADEIRAS NA LÍBIA”
em
“LÍBIA 2013 – O PANDEMÓNIO” em
http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2013/12/libia-2013-o-pandemonio.html
“LÍBIA, SÍRIA, EUA E RÚSSIA” em
“OBITUÁRIO 2001” em
“A GUERRA QUE ‘NUNCA’ FOI” em
“FARSA NA LÍBIA” em
“O CORONEL CONTRA-ATACA” em
1 comentário:
Bom dia Professor!
A exposição que apresenta leva-me a tecer de imediato duas considerações/conecções:
dinheiro e armas.
O "povinho", na sua generalidade, está depauperado.Longe de ser uma condição isolada, é global. A alta finança, confinada nos paraísos fiscais, tem o dinheiro parado.
O dinheiro acumulado pela fuga ao fisco é pouco. Há que conceder crédito a juros altíssimos, custe o que custar às Nações e à maioria da população global. Por outro lado, as empresas de armamento sem umas "guerrinhas" vão à falência. Daí o acender de rastilhos de pólvora para activar ambos - dinheiro e armas. Motivação e criatividade será o que menos falta aos países ingerentes. As consequências das suas acções são "danos colaterais". Se os povos intervencionados ficam melhor ou pior, é indiferente. O mais lamentável é a atitude das NU e do Conselho de Segurança. Se conhecermos a sua composição, também está tudo esclarecido. Se calhar,devia mudar o nome. Onde pára a segurança do povo líbio, iraquiano,afegão, centro-africano e todos que vivem constantemente "ajudados" pelo grupo do costume?
Alguém me explique, por favor!
Enviar um comentário