24 junho, 2015

Minsk ≠ Donetsk


MINSK ≠ DONETSK

 
O BM-21 Grad Multile-Launch Rocket System, um dos armamentos mais populares no conflito da Ucrânia.

A Crise da Ucrânia já dura há um ano e meio, mas não evoluiu muito nos últimos 6 meses. Façamos uma check-list da situação actual.

 
* A componente militar do conflito tem estado em banho-maria.

* Não obstante o ponto anterior, continua a haver recontros esporádicos com variáveis níveis de violência que podem incluir a utilização de armamento pesado, nomeadamente artilharia.

* O Acordo de Minsk II entre a Rússia, a Alemanha, a França e a Ucrânia está em vigor, mas o máximo que alcançou foi o (incompleto) congelamento do conflito.

* Não se verifica a concretização dos objectivos estruturantes de Minsk que poderiam conduzir à resolução do conflito.

* Os países europeus mantêm e prolongam o conjunto de sanções que impuseram à Rússia em 2014.

* A Crimeia continua firmemente parte integrante da Rússia.

* Os EUA amainaram a retórica vitriólica vis-a-vis a Rússia e o Secretário de Estado John Kerry até visitou a Rússia em Maio.

* Os independentistas do Leste da Ucrânia não desistiram de alargar o território sob o seu controlo.

* Apesar das dificuldades económicas, Vladimir Putin continua a registar níveis estratosféricos de popularidade: 86% na última sondagem do Levada Centre.

* Continua a ser uma incógnita o endgame de Putin na Ucrânia.

* A Crise da Ucrânia saiu dos holofotes da maioria dos media. O Estado Islâmico substituiu a Rússia no topo das preocupações de Washington.

 
As regiões de Donetsk e Luhansk.

O que se pode esperar no segundo semestre de 2015?

Há fundamentalmente duas hipóteses:

 
1- A manutenção do statu quo. Tal significa que os confrontos armados manter-se-ão mas serão pontuais e limitados no espaço, nos meios e nas consequências. Significará, também, que o conflito não será resolvido e o problema continuará presente.

 
2- Renovados e sustentados ataques dos independentistas visando a consolidação e /ou expansão do território que controlam, o que representará um risco acrescido de escalada interna e externa.

 
A primeira hipótese é, neste momento, a mais provável. Tal tenderá a conduzir à eternização do problema até ser considerado um frozen conflict, como outros na antiga União Soviética, gradualmente esquecido.

 
Este cenário resultará na normalização da anormalidade com a Ucrânia permanentemente amputada da sua área mais oriental que estará sob a protecção/controlo de Moscovo. A região de Donetsk e Luhansk ficará com um estatuto híbrido, nem dentro nem fora da Ucrânia, tal como a Transdniéstria em relação à Moldova. Ou, alternativamente, proclama-se um estado independente, reconhecido por Moscovo, a exemplo da Abkázia e da Ossétia do Sul relativamente à Geórgia.

 
A segunda hipótese, menos provável mas bem possível, provocará uma situação de ruptura definitiva, com as regiões revoltosas a expandirem e a consolidarem território, ganhando massa crítica, tornando-se mais viáveis, mais úteis a Moscovo e mais penalizadores para Kiev.

 
A recente decisão dos países europeus de prolongar as sanções à Rússia por mais 6 meses pode ter efeitos contraproducentes. Seria expectável que, depois do Acordo Minsk II, fosse dado um sinal positivo, um incentivo à Rússia para inverter, ou pelo menos travar a marcha dos acontecimentos. É claro que as principais potências europeias (com alguma pressão de Washington) não pensaram assim e os países que se têm mostrado reticentes ou críticos das sanções (Grécia, Hungria, Chipre, Itália) não tiveram a coragem ou a força para vetar o prolongamento. Assim sendo, a tentação de maximizar os ganhos no terreno e penalizar ainda mais Kiev não tem como contraponto o engodo da redução das sanções.

 
Em lume brando ou fervilhante, o conflito da Ucrânia vai continuar. A realidade diplomática dos salões de Minsk permanecerá muito distante da crua realidade da guerra em Donetsk.

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