10 junho, 2013

"Going Around in Circles"

GOING AROUND IN CIRCLES

 
O Director da Agência Internacional de Energia Atómica (IAEA), o Japonês Yukiya Amano, declarou numa reunião dos governadores da Agência que, relativamente ao processo do programa nuclear do Irão, “To be frank, for some time now we have been going around in circles.”

Embora pronunciado numa reunião restrita, este terá sido a mais cândida e certeira aferição do processo negocial sobre o programa nuclear iraniano feito até hoje por um alto responsável envolvido no processo.



O mapa do Irão nuclear.
in STRATFOR em www.stratfor.com

Eis um breve ponto da situação:

Programa Nuclear do Irão:
Segue de vento em popa. Na verdade, tudo indica que o Irão já domina quase todos os elementos técnico-científicos que lhe permitirão construir uma arma nuclear. Existem provas e fortes indicações que mostram que ao longo da última década, Teerão adquiriu, desenvolveu e testou know-how não apenas relativamente ao tratamento e enriquecimento de urânio, como também detonadores, explosivos de elevada potência, ogivas e mísseis balísticos utilizados em armas nucleares.

Negociações P5+1*-Irão:
A diplomacia é, neste caso, cada vez mais um fim em si mesma, ou seja, uma inutilidade. Novas rondas negociais foram desencadeadas este ano. Resultados: menos que zero. Isto porque, zero seria se tudo estivesse igual. Mas não está, porque as negociações não atingem resultados e o Irão continua a enriquecer urânio (agora não apenas até 5%, mas também a 20%), como continua a criar novas infra-estruturas e a instalar nova maquinaria e ainda se dá ao luxo de travar certas inspecções da IAEA.

Sanções:
É verdade que as sanções são duras, que têm sido agravadas e que têm acarretado sérios custos económicos para o Irão. É igualmente verdade que não têm tido qualquer resultado em parar ou abrandar o programa nuclear do Irão. Consequentemente, são um falhanço.

Infelizmente, não há volta a dar.

As potências ocidentais sabem que as negociações não resultaram, não estão a resultar e não resultarão, a não ser que façam enormes cedências a Teerão. Sabem também que se assumirem o fracasso e a inutilidade da diplomacia terão de escolher entre a guerra e o reconhecimento do Irão como a 10ª potência nuclear mundial. Aquela aterra-os. Esta deixa-os ficar mal. A solução é continuar a fingir que estão a negociar a sério.

A Rússia e a China não têm, nem alguma vez tiveram, interesse e vontade em pressionar e sancionar seriamente Teerão para parar o programa nuclear. Por isso, a pressão exercida sobre os Persas é limitada e estes têm sempre um campo de manobra extra.

O Irão está ciente das realidades supra-referidas, não só porque são evidentes, mas também porque a evolução dos acontecimentos nos últimos anos as comprovam. Consequentemente, a partir do momento em que o Irão aceitou pagar o preço infligido pelas sanções, o caminho é muito claro: negociar sem ceder e prosseguir o programa até ao fim com determinação inabalável.

A outra chave do processo são os EUA. O que se escreveu em relação às potências ocidentais é-lhes inteiramente aplicável. A grande diferença é que Washington tem o poder militar para rebentar com o programa nuclear iraniano. Como já aqui escrevi antes, o Irão só fará verdadeiras cedências quando e se for realmente pressionado e sentir que sobre ele pende uma ameaça real e credível de ataque militar. Os ayatollahs sabem que as probabilidades de Obama o fazer são diminutas e portanto, fruto da incompetência e cobardia do Presidente, o ascendente negocial americano é, também ele, diminuto.

Concluindo, a não ser que Israel jogue todas as fichas que tem e bombardeie o Irão, é tempo de mudar as apostas. Em vez de apostarem sobre SE o Irão irá ter armas nucleares, é melhor apostarem QUANDO é que o Irão irá ter armas nucleares.
 
* P5+1 = 5 Membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, Rússia, Reino Unido, França e China) + Alemanha.

Links relacionados:

As Quatro Potências do Médio Oriente – O Irão

A Pergunta do Ano

Ilusões Persas

A Cavalgada Atómica do Irão
 
UNSC Resolution 1696

2 comentários:

Anónimo disse...

Muito interessante o post. Já o conteúdo é deveras preocupante.
Já agora, qual é a sua aposta?

Cristina

Rui Miguel Ribeiro disse...

Obrigado Cristina.
Desafio complicado. Diria 2015/16.