11 março, 2011

Volta George W., Estás "Perdoado"

VOLTA GEORGE W., ESTÁS “PERDOADO”

A prisão de terroristas capturados em teatros de guerra ou conflito do Afeganistão à Península Arábica, passando pelo Iraque foi uma das políticas de George W. Bush mais duramente criticada e rejeitada por Barack Obama durante a campanha eleitoral e já na capacidade de Presidente dos Estados Unidos.

Em 2008, foi assim:

“There are about 250 detainees at the U.S. facility at Guantanamo Bay, Cuba. President-elect Barack Obama has said he wants to close the detention center.”

in “The Washington Post”, Guantanamo Closure Called Obama Priority 12/11/2008

 
Em 2009, foi assim:

Num discurso proferido nos National Archives, Obama declarou: "Rather than keeping us safer, the prison at Guantanamo has weakened American national security. It is a rallying cry for our enemies.... By any measure, the costs of keeping it open far exceed the complications involved in closing it. That's why I argued that it should be closed throughout my campaign, and that is why I ordered it closed within one year."

in “The Washington Post”, Obama’s new Gitmo policy is a lot like Bush’s old policy, 08/03/2011


Em 2011, é assim:
President Obama signed an executive order Monday that will create a formal system of indefinite detention for those held at the U.S. military prison at Guantanamo Bay, Cuba, who continue to pose a significant threat to national security. The administration also said it will start new military commission trials for detainees there.

in “The Washington Post”, Obama creates indefinite detention system for prisoners at Guantanamo Bay, 08/03/2011

 

Leu bem. Barack Obama assinou uma executive order que mantém o essencial da política de George W. Bush relativamente a Guantanamo. É verdade, as prisões por tempo indeterminado, os julgamentos pelas comissões militares, a colocação dos prisioneiros essencialmente fora do circuito judicial federal, tudo se mantém. Até a posição da Administração Bush (muito criticada pelos Democratas) de que tais decisões se inserem na autoridade exclusiva do Presidente (“a discretionary executive act well within the authority … of the president”).
So much for all the liberal rethoric and sweet talk, so much for the Bush demonising, so much for the post-politics president, so much for change. Of course the Republicans must be laughing their heads off and the more liberal and leftish Democratic constituency must be going through the roof. Oh yes, George W. Bush and Dick Cheney must be sporting a wide smile. George W. – you’re vindicated on this one as well!

Por muito que se queira dourar a pílula, a luta contra o terrorismo do século XXI é mesmo uma “War on Terror”, que, em circunstâncias excepcionais pode requerer medidas excepcionais. Podes voltar George W. Bush, estás perdoado.

7 comentários:

Defreitas disse...

Caro Amigo

Tem muita razão quando escreve que , finalmente, Obama continua no mesmo caminho de Bush quanto ao problema de Guantanamo, o que demonstra também que Obama é o tipo mesmo do ciber-politico : um utilizador hábil dos meios de comunicação modernos para fazer sonhar os eleitores potenciais e verificar uma vez mais a verdade profunda deste pensamento político que diz que “ as promessas eleitorais só empenham aqueles que nelas crêem”!

Mas não impede que Guantanamo é uma aberração do direito internacional. Mas que Obama, neste problema, como noutros , sofre os golpes dos contra-poderes que limitam a sua acção, também é verdade.

Podemos constatar que neste problema, como noutros ainda mais graves, os políticos mais influentes, apontam de maneira resignada, mesmo hipócrita, os males do planeta sem tentar de aplicar os remédios radicais.

O espectáculo que o mundo oferece hoje é delirante, para utilizar o seu termo !

O neo-liberalismo selvagem, como um comboio louco que ninguém pode parar , parece trazer pela trela os governos ocidentais e esmaga os povos vulneráveis do Norte como do Sul pela única religião do lucro, o “money-téismo , sem moral nem regra.

As missas hipócritas de Davos, as migalhas da caridade das subvenções, não podem esconder a realidade : existe um fosso cada vez mais profundo entre os ricos e os danados da Terra.

Esta fractura social não existe só entre os povos do Norte e do Sul : ela existe também entre os próprios habitantes do mesmo pais, onde as compressões, as necessidades de “flexibilidade” lançam para a berma da estrada os mais vulneráveis, que são as pessoas sem qualificação, as pessoas idosas e, bem entendido, os variáveis de ajustamento que são os alogenos.

Em 2009, 1,000 milhões de seres humanos sofriam da fome no mundo; para erradicar este flagelo, bastaria 30 mil milhões de $ por ano. O orçamento do Pentágono é de 533,7 milhares de milhões de $ para 2010.

Em 2010, as firmas francesas do índice CAC 40 ( as 40 mais importantes), realizaram um volume de negócios de 1262 milhares de milhões de euros, isto é 7% superiores ao do ano precedente. Os lucros destas 40 sociedades atingiram 82,5 milhares de milhões de euros, isto é 85% mais que no ano passado!

As instituições financeiras americanas vão distribuir este ano 144 milhares de milhões de $ em bónus, prémios de resultados e “stock-options” aos seus dirigentes, isto é aos responsáveis da crise económica mundial. Sem falar das remunerações anuais que aumentaram de mais de 15% !

Assim, caro amigo, se este problema económico no qual se debate a humanidade, que pode muito bem constituir a centelha da desordem mundial, como acontece hoje no mundo Árabe, não merece toda a atenção e todo o rigor imposto pela simples moral, como será possível interessar esses senhores ao problema de Guantanamo, que continua a ser uma nódoa no mundo do “habeas corpus” inventado pelos anglo-saxãos , e que mais não é que uma legislação rigorosa visando a combater a emergência da tirania?
E isto porque eles tinham a consciência que a primeira e grande ameaça física e psicológica contra o indivíduo estava não no exterior das fronteiras mas antes no coração mesmo das próprias instituições políticas. Obama errou ao esquecer este preceito.

Tanto mais que, como escreveu Joe Biden , “ Guantanamo transformou-se numa arma de propaganda, a melhor que existe, para recrutar terroristas no mundo inteiro”.

Cumprimentos

Freitas Pereira

Sérgio Lira disse...

Desculpa, Rui, mas não posso concordar contigo - o GWB está tudo menos perdoado. E dois errados não fazem um certo: se o actual presidente dos EUA comete um erro crasso - que lhe vai custar muito caro, mas falaremos daqui a dois anos - não é isso que valida o seu antecessor, e as correspondentes borradas políticas, económicas e sociais que inventou, ou de que foi patética marioneta.

Guantanamo pode até ser um mal "necessário", no horizonte da realpolitik. Mas é um MAL, um mal maior, uma nódoa negra, uma pecha que impede os EUA de olhar nos olhos os povos civilizados. Ninguém que actue daquela forma pode dar a outrém lições de civilização, de direito, de humanidade ou de direitos humanos - é aí que reside o problema: “Bem prega Frei Tomás...” sim, porque quem cria (e quem mantém) Guantanamo como pode criticar as execuções chinesas???? ah, pois, já me esquecia: os EUA não as criticam (não, não tem nadinha que ver com a dívida) ...só no Iraque é que havia atropelos aos direitos humanos - depois chegou o Bush filho e mais uns quantos cowboys e ficou tudo limpinho e direitinho. Lonesome cowboy, lonesome cowboy, you're a long long way from home (ao sol poente...).

Rui Miguel Ribeiro disse...

Caro Freitas Pereira,
Eu acredito no liberalismo económico. Aquilo em que não acredito é nas cumplicidades entre o poder político e o poder económico que subvertem o mercado e beneficiam de forma corrupta essa élite em prejuízo da maioria que, como agora acontece em Portugal, tem de pagar os desmandos dessa comandita. O facto de os responsáveis pelas trapalhadas e trafulhices financeiras continuarem a recber salários e bónus colossais é simplesmente obsceno.
Em relação a Obama, eu nunca acreditei no blá blá eleitoral dele. E acho que é um exagero dizer que Guantanamo é um recrutador excepcional de terroristas. Finalmente, embora estime muito as liberdades individuais, acho que há situações drásticas que exigem medidas excepcionais...

Rui Miguel Ribeiro disse...

Caro Sérgio,
O "estás perdoado" era uma figura retórica.
O cerne do post não era a bondade (ou falta dela) da decisão de manter Guantanamo, mas sim expor a contradicção e o flop de Obama. Também não penso que Bush seja tão mau como muitos acham e, se bem que Guantanamo não seja uma solução que me agrada mas que compreendo e ainda não vi uma melhor ser apresentada. E, definitivamente, não penso que coloque os EUA numa situação de equivalência com a China, o Zimbabwe, a Arábia Saudita, ou a Coreia do Norte.

Defreitas disse...

Caro Rui Miguel Ribeiro

Quando escreve “ eu acredito no liberalismo económico”, eu respondo que , pragmático, também creio no capitalismo inventivo e criador de riqueza. Só que, o capitalismo que é por essência “performing”, rentável, não procede desde há muito a uma repartição equitativa dos lucros e portanto da criação de riqueza.

O capitalismo neo-liberal conseguiu enfraquecer o Estado e as suas funções de protecção da sociedade. Sem esquecer de pedir ajuda a este quando … vai mal , (2008/2009) vitima dos seus próprios excessos!

O cilindro compressor funcionou tanto melhor que , nos meios políticos e universitários, ( o Zé Povo não podia ver, claro !), ninguém notou nenhuma contestação da verdadeira natureza da globalização e das formas que ela tomou. Antes ao contrário. A crise foi quase exclusivamente tratada como um problema de técnicas e de praticas financeiras que bastaria de reformar!
Ninguém viu que o termo “globalização” no estrito sentido económico de construção de um espaço económico mundial, e o termo “mundializaçao” para designar a emergência de um poder absoluto, de natureza política tanto económica que social e cultural, não queriam dizer a mesma coisa.

Os grandes economistas neo-liberais , Friedman e outros, que apregoavam a supremacia de uma economia de renda, de desperdícios maciços, de especulação financeira sem lei e também a corrupção e as injustiças flagrantes, consideraram que os únicos que podiam realizar a felicidade da humanidade eram os empresários, libertados de todo e qualquer freio.
Para eles, a regra mais elementar da economia e da finança é que o dinheiro forte beneficia àqueles que têm dinheiro. O dinheiro fraco beneficia àqueles que o não têm !

O pessoal político que lhes deu as chaves dum poder não democrático foram eclipsados. Os governadores dos bancos centrais são agora os personagens fora do comum. Sem falar do sphinxe Strauss-Kann que é um grande Chefe de Estado ! Os bancos que antes dependiam do poder político, escapam hoje ao seu controlo.

Aliás, foi assim que todos os europeus pagaram o custo da reunificação alemã, quando o BCE praticou a política dos juros demasiado elevados! Mas quem podia contrariar a potência alemã ?
Claro que toda a gente sabe que os rendeiros querem uma moeda estável, uma inflação “Zero”, e que tudo foi organizado à volta dos rendimentos dos capitalistas. O resto, - vendas, emprego, relações sociais, deveres dos governos- foi considerado secundário!

O capitalismo financeiro, que o liberalismo permitiu, é um mundo sem fé nem lei, sem outras perspectivas que a do lucro a curto prazo. A ausência de contra poder político tem produzido catástrofes em cadeia : Falência das Caixas de Depósitos nos EUA, falência do sistema de reformas Chileno, falência de WORL COM, de Enron, da Lehman Brothersn , contas certificadas fraudulosamente pela Arthur Andersen ( quando penso que eles certificavam a nossa firma americana !), um trabalhinho bem pago para ajudar as empresas a não pagar impostos, pela fraude ou não !

Defreitas disse...

(Continuaçao)

Como o seu “post” teve origem no regresso virtual de GW Bush, devo dizer que o mestre desaparecido Ronald Reagan, disse algo que o aluno George reteve : « O Estado não é a solução, ele é o problema ». Esta filosofia reaganiana, depois bushiana, deu como resultado o desaparecimento do sentido do serviço publico, do respeito do Estado e a criação da selva actual no mundo inteiro .

O papel do Estado, de criador de riquezas ( educação, formação profissional, saúde, infra-estruturas, salários dos funcionários gastos depois em compras de bens produzidos pelo sector privado) não é mais reconhecido !

E aquilo que o Rui Miguel chama “cumplicidade” entre os políticos e os capitalistas, verdadeiro incesto entre o mundo dos negócios e o da política , devido ao recuo do Estado, ( Ah Berlusconni, Dick Cheney, Chirac e tantos outros,), constitui a base da confusão, perigosa para a paz do mundo, que se verifica hoje.

A reorganização do espaço pelos mercados tendo sido feita em detrimento da democracia, tudo resta a fazer, Caro Amigo !
Para mim, o Estado-Naçao que exprime o desejo duma colectividade humana de ser mestre do seu destino pelos mecanismos de representação dos seus membros e o controlo dos actos dos seus dirigentes eleitos afim de assegurar a conformidade e o interesse da colectividade e de todos os seus membros, é a única solução viável . A sua critica , não velada, das instituições políticas actuais em Portugal parece justificar uma tal solução. Mas com quem a promulgar ? Onde está a base popular para criar uma maioria” consciente” ?
Sem educação política e sem civismo nunca se vai lá !

Freitas Pereira

Rui Miguel Ribeiro disse...

Caro Amigo Freitas Pereira,

Estou de acordo consigo em muitas coisas: a deificação do capitalismo financeiro e os privilégios e as impunidades de quem dirige o sector são uma vergonha sem nome. Mais, aqueles que se arvoram de capitalistas deviam saber que existem oportunidades, e riscos, lucros e prejuízos, crescimento e falências, mas na banca não. Lucra enriquece, faz asneiras e é salvo pelo $ dos contribuintes e...continua a enriquecer. O problema central é o compadrio e a corrupção que minam as nossas sociedades.
Eu sou um crente e apoiante da supremacia do Estado-Nação. Porém, entendo que os estados modernos, nomeadamente o português, gastam demais, penalizam-nos demasiado com contribuições e que devem reduzir as despesas, diminuindo as funções que desempenham.