FARSA NA LÍBIA
Posicionamento aero-naval aliado no
início da intervenção.
in www.Stratfor.com
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O Coronel Kadhafi é, reconhecidamente, um patife. Para além disso, é também um farsante. É conhecido pals barbaridades que cometeu, pelos atropelos dentro e fora da Líbia, pela mise en scêne das suas aparições e pelas declarações estapafúrdias. Consequentemente, seria bom que desaparecesse de cena.
Porém, a farsa que trago hoja à colação é a da intervenção dos EUA, França, Reino Unido et al, a coberto da Resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU.
A referida Resolução permite a imposição de uma no-fly zone, que foi garantida ab initio com bombardeamentos e superioridade aérea e a protecção de civis sob ataque.
A realidade, é que a coligação tem bombardeado insistentemente as forças armadas da Líbia para permitir o avanço dos rebeldes armados.
A realidade, é que a coligação começou a bombardear Sirte, desde sempre sob o controlo das forças ditas lealistas e onde os ataques, a haver, são desencadeados pelos rebeldes. O mesmo, aliás, se aplica a Tripoli, onde as forças lealistas não têm atacado nem massacrado civis.
A realidade, é que a coligação decidiu derrubar Kadhafi e levar os rebeldes (com protagonistas e agenda difusos) ao poder. Daí, bombardear posições anteriormente ocupadas por forças do regime, neutralizar os seus carros de combate e peças de artilharia e atacar posições por ele defendidas, mesmo que aí residam civis.
Como os rebeldes armados não são população civil e a Resolução 1973 não os inclui no grupo a proteger, a verdadeira agenda da coligação é regime change: derrubar Kadhafi e substitui-lo pelos rebeldes. Embora se possa questionar a legitimidade destes países para interferir num conflito interno líbio, mesmo que seja uma guerra civil, para apoiar uma das partes, o que é realmente condenável nesta operação é a hipocrisia intrínseca que leva a que Obama e Sarkozy falem de uma coisa e estejam a fazer outra bastante diferente. Ainda ontem, Obama declarava que, “[broadening the mission there] to include regime change would be a mistake." Pois é a isso mesmo que se assiste no terreno.
Resta, pois, aguardar que continuem os bombardeamentos para impor uma no-fly zone num país onde ninguém voa, para salvar civis (ameaçados ou não) e para levar os rebeldes ao colo até Tripoli. Aí, quando Kadhafi for derrubado, se começará a ver que nova Líbia é que vamos ter….
Post Scriptum:
1- Rússia e China: A Rússia e a China, surpreendentemente permitiram a aprovação da Resolução 1973 abstendo-se. Digo surpreendente, porque ambos os países sempre foram muito ciosos da preservação dos “assuntos internos dos países” de intervenções externas. Mais surpreendente ainda, foi a intervenção de Vladimir Putin criticando a Resolução (que a Rússia podia ter vetado) e a forma como a intervenção estrangeira estava a ser conduzida na Líbia, o que faz pensar sobre as tensões internas nas esferas de poder em Moscovo, a um ano de eleições presidenciais.
2- França e Reino Unido: A França e o Reino Unido assumiram a liderança europeia no que concerne a questão líbia. Movidos, também por motivações internas (Sarkozy precisa de recuperar nas sondagens se quiser ser reeleito em 2012); Paris e Londres também mostraram que em matéria de segurança e defesa e capacidade de intervenção militar, são líderes na Europa.
3- Alemanha: A Alemanha votou ao lado da Rússia e China no Conselho de Segurança, colocando-se à margem da questão. Este voto veio mostrar pela enésima vez que, uma efectiva e consistente política comum de segurança e defesa é uma miragem, e que a Alemanha que pratica o bullying na Europa em questões económicas e financeiras, não passa de um actor secundário quando é preciso usar hard power.
4- Liga Árabe: O apoio da Liga Árabe foi, porventura, a maior surpresa da aprovação da intervenção na Líbia, dado que vai contra a prática dos estados árabes, com a excepção da Guerra do Golfo, em que estava em causa a segurança e sobrevivência dos estados do Golfo Pérsico. Se pensarmos que países como o Iémen, o Bahrein, ou a Síria, poderão ver-se em situações semelhantes a breve prazo, a questão reside em saber se a Liga Árabe agirá da mesma forma nesses ou noutros casos. A reacção do Secretário-Geral Amr Moussa após os primeiros bombardeamentos (na linha de Putin), parece mostrar alguma confusão e ambivalência.
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