PROLIFERAÇÃO NUCLEAR
OS PADRINHOS E OS AFILHADOS II
OS PADRINHOS E OS AFILHADOS II
O PADRINHO.
A 31 de Julho, o Conselho de Segurança das Nações Unidas, na sua reunião nº 5500, aprovou por unanimidade a Resolução 1696 (UNSC Resolution 1696). O objecto da Resolução foi o programa nuclear do Irão.
Baseada na proposta elaborada pelos 5+1 (os 5 membros permanentes, EUA, Rússia, Reino Unido, França e China, mais a Alemanha), a Resolução 1696 é bastante clara:
“The Security Council, […]
2. Demands, […] that Iran shall suspend all enrichment-related and reprocessing activities, including research and development, to be verified by the IAEA;
[…]
7. Requests by 31 August a report from the Director General of the IAEA primarily on whether Iran has established full and sustained suspension of all activities mentioned in this resolution […];
8. Expresses its intention, in the event that Iran has not by that date complied with this resolution, then to adopt appropriate measures under Article 41 of Chapter VII of the Charter of the United Nations to persuade Iran to comply with this resolution and the requirements of the IAEA, and underlines that further decisions will be required should additional measures be necessary; […].”
Estamos a 9 de Setembro e nem é necessário o relatório da IAEA: o próprio Irão já confirmou que a sua actividade no domínio do nuclear prossegue imperturbada e até inaugurou há dias uma fábrica de água pesada que lhe facilitará a produção de plutónio.
Não há, portanto, muito a fazer: o Conselho de Segurança deveria já ter aprovado a Resolução 1707 que, conforme prevê o referido Art. 41, deveria impor um conjunto de medidas de carácter não militar contra Teerão, nomeadamente, sanções económicas.
Alto! Estou enganado! Esqueci-me que a cobardia vigente apela a que se prossiga a via diplomática. Quando esta falha, continua-se. Quando atinge a ruptura, insiste-se. Quando não resulta, tenta-se outra vez. Quando se chega a um beco sem saída, recomeça-se tudo de novo. O que importa é seguir a via diplomática….»
Baseada na proposta elaborada pelos 5+1 (os 5 membros permanentes, EUA, Rússia, Reino Unido, França e China, mais a Alemanha), a Resolução 1696 é bastante clara:
“The Security Council, […]
2. Demands, […] that Iran shall suspend all enrichment-related and reprocessing activities, including research and development, to be verified by the IAEA;
[…]
7. Requests by 31 August a report from the Director General of the IAEA primarily on whether Iran has established full and sustained suspension of all activities mentioned in this resolution […];
8. Expresses its intention, in the event that Iran has not by that date complied with this resolution, then to adopt appropriate measures under Article 41 of Chapter VII of the Charter of the United Nations to persuade Iran to comply with this resolution and the requirements of the IAEA, and underlines that further decisions will be required should additional measures be necessary; […].”
Estamos a 9 de Setembro e nem é necessário o relatório da IAEA: o próprio Irão já confirmou que a sua actividade no domínio do nuclear prossegue imperturbada e até inaugurou há dias uma fábrica de água pesada que lhe facilitará a produção de plutónio.
Não há, portanto, muito a fazer: o Conselho de Segurança deveria já ter aprovado a Resolução 1707 que, conforme prevê o referido Art. 41, deveria impor um conjunto de medidas de carácter não militar contra Teerão, nomeadamente, sanções económicas.
Alto! Estou enganado! Esqueci-me que a cobardia vigente apela a que se prossiga a via diplomática. Quando esta falha, continua-se. Quando atinge a ruptura, insiste-se. Quando não resulta, tenta-se outra vez. Quando se chega a um beco sem saída, recomeça-se tudo de novo. O que importa é seguir a via diplomática….»
O AFILHADO.
Sem querer abusar da paciência dos leitores, pedia-lhes que lessem este extracto do post UNSC Resolution 1696 publicado no “Tempos Interessantes” no dia 9 de Setembro de 2006:
Não sendo propriamente adivinho, a verdade é que o Conselho de Segurança só aprovou nova Resolução no dia 23 de Dezembro (UNSC 1737)!!! Portanto, 4 meses depois de o Irão ter entrado em infracção da UNSC Resolution 1696!
Como é que o Irão continua a resistir à pressão internacional e prossegue imperturbável com o seu programa nuclear? A resposta é a mesma do post anterior (“Padrinhos e Afilhados I”): o Irão tem um padrinho. Já agora, como é que o Conselho de Segurança demora tanto tempo a reagir e fá-lo de forma branda, para não dizer inócua? A resposta também é a mesma: o Padrinho do Irão é a Rússia, ou seja, tal como a China, membro permanente do Conselho de Segurança com direito de veto.
Há três dias atrás (21/02/07), expirou o prazo dado pela UNSC 1737 para o Irão parar o seu programa nuclear. Tal como se previa, Teerão não só não o parou, como o acelerou, tendo instalado cerca de 400 centrifugadoras nas instalações nucleares de Natanz.
Tal como fez entre Agosto e Dezembro de 2006, a Rússia, com o apoio interessado da China, vai empatar as conversações para se aprovar nova resolução, mitigando-a até ao ponto de a tornar tão inócua quanto possível e salvaguardando os interesses económicos de Moscovo no programa nuclear iraniano. Com um padrinho assim, até um afilhado impertinente como o Presidente Ahmadinejad, se pode dar ao desplante de afirmar que a Resolução 1737 não era mais do que um pedaço de papel. Em abono da verdade, foi das coisas mais acertadas que disse até hoje.
Enquanto o Padrinho Russo lhe apara os golpes, o Afilhado Iraniano vai brincando com o fogo nuclear na região mais explosiva e volátil do planeta. Também aqui, o Padrinho poderá um dia ver que tem um novo vizinho com capacidade nuclear e descobrir que há afilhados ingratos. E vamos vendo a Diplomacia a fingir que resolve e o espectro da guerra a aproximar-se.
Como é que o Irão continua a resistir à pressão internacional e prossegue imperturbável com o seu programa nuclear? A resposta é a mesma do post anterior (“Padrinhos e Afilhados I”): o Irão tem um padrinho. Já agora, como é que o Conselho de Segurança demora tanto tempo a reagir e fá-lo de forma branda, para não dizer inócua? A resposta também é a mesma: o Padrinho do Irão é a Rússia, ou seja, tal como a China, membro permanente do Conselho de Segurança com direito de veto.
Há três dias atrás (21/02/07), expirou o prazo dado pela UNSC 1737 para o Irão parar o seu programa nuclear. Tal como se previa, Teerão não só não o parou, como o acelerou, tendo instalado cerca de 400 centrifugadoras nas instalações nucleares de Natanz.
Tal como fez entre Agosto e Dezembro de 2006, a Rússia, com o apoio interessado da China, vai empatar as conversações para se aprovar nova resolução, mitigando-a até ao ponto de a tornar tão inócua quanto possível e salvaguardando os interesses económicos de Moscovo no programa nuclear iraniano. Com um padrinho assim, até um afilhado impertinente como o Presidente Ahmadinejad, se pode dar ao desplante de afirmar que a Resolução 1737 não era mais do que um pedaço de papel. Em abono da verdade, foi das coisas mais acertadas que disse até hoje.
Enquanto o Padrinho Russo lhe apara os golpes, o Afilhado Iraniano vai brincando com o fogo nuclear na região mais explosiva e volátil do planeta. Também aqui, o Padrinho poderá um dia ver que tem um novo vizinho com capacidade nuclear e descobrir que há afilhados ingratos. E vamos vendo a Diplomacia a fingir que resolve e o espectro da guerra a aproximar-se.
20 comentários:
Fui ver o seu Post anterior e deixei lá um breve comentário porque as suas previsões de Setembro batem certo 6 meses depois. Por isso mesmo, acho este post ainda mais interessante e mais preocupante também. Acha mesmo que caminhamos para uma nova guerra?
Cristina
FREITAS PEREIRA comenta : -
Dos dois casos de proliferação nuclear tratados neste blog, o da Coreia do Norte parece-me ser já do passado. O caso esta consumado. O Senhor Rui Miguel Ribeiro fez um comentário preciso da situação. Mas não acho que a posição dos EUA seja incoerente, porque na realidade esta potência defende os seus interesses antes de pensar no interesse colectivo, ou porque já não tem o poder para agir doutra maneira.
Na realidade, os Americanos ainda têm na memória o que sucedeu em 1950. O exército Coreano (do norte) veio até Taegu, no extremo sul da actual Coreia do Sul , em poucas semanas, e a coalição da ONU, liderada pelos EUA , empurrou-os de novo até ao rio Yalu, na fronteira Chinesa, após o brilhante e decisivo desembarque na baia de Inchon, na retaguarda do exército norte coreano. Manobra decisiva de Mac Arthur.
Ao custo de milhares de mortos.
E depois ? Quando o exército Coreano esta derrotado, centenas de milhares de Chineses atravessaram a fronteira e em 15 dias trouxeram de novo o exército da ONU até ao paralelo 38, que era a fronteira inicial. Ao custo de mais uns milhares de mortos aliados e dezenas de milhares de mortos Chineses.
Nessa altura Mc Arthir pediu ao Presidente Truman a autorização de invadir a China ou de autorizar o emprego da bomba nuclear. Truman recusou uma e outra. Pan Moon Jon ficou como ponto de contacto entre as duas Coreias. Janela aberta para o outro lado.
Quem não se lembra da famosa frase de Mao Tsé Tung " A China pode perder 100 milhões de soldados, mas ainda ficarão 900 milhões para os vingar. Quando os EUA perderem 1 milhão a guerra acaba." E assim foi. Jamais os EUA poderão "punir" a China ou o seu protegido de hoje e de ontem.
E os EUA não iriam hoje entrar em guerra com o seu maior credor de todos os- tempos, onde até a General Motors vai fabricar os seus automóveis "mais baratos", para continuar na corrida !Sem falar do "i-pod" !
E quando se é Coreano ou Português) recordo-me de algumas noites no Hyatt de Seoul, onde dormi,) e que se dorme em Guimarães e que em Braga estão os mísseis prontos a partir (distância de Seoul à fronteira norte Coreana !) , então compreende-se melhor porque é que os de Guimarães enviam algum "soro" aos de Braga para que eles possam sobreviver! E fiquem amigos para lá das historias do passado.. (Esboço um sorriso neste momento ao pensar na "amizade" tradicional entre as nossas cidades! Mas isso é um outra historia, não é assim ?
A "real politik" obriga hoje a diplomacia a aprender , mais que nunca, das lições do passado, e como os rivais estão cada vez mais equilibrados em força militar e que certas guerras (Irak-Libano) provaram recentemente que há limites decisivos na tecnologia quando se luta contra inimigos descentralizados e determinados, não vejo outra solução que procurar um "modus vivendi" satisfatório, mesmo se não é o ideal.
Comentarei o segundo caso de proliferação nuclear potencial no post respectivo - O Irão.
FREITAS PEREIRA comenta:
Senhor Rui Miguel Ribeiro
Creio que não se pode analisar o caso iraniano sem estudar a situação complexa de todo o Médio-Oriente.
A guerra do Iraque veio certamente complicar a situação em toda a região e trazer ao Irão uma influência que não detinha antes , acrescida ainda dos efeitos nefastos para Israel da guerra do Líbano.
Muitos sao aqueles que em Israel lamentam que a diplomacia israelita tenham endossado estas duas guerras.
E muitos são aqueles que consideram que uma guerra contra o Irão seria ainda mais nefasta para Israel. Segundo o Haaretz, "só" 36% da população de Israel considera o Irão como a maior ameaça para Israel.
Certos israelitas consideram mesmo que existem possibilidades reais de negociação e aproximação entre Israel e o Irão. Esta estratégia é talvez mais realista que a dos EUA que consideram sempre muito rapidamente a solução militar para resolver todos os problemas. Embora no caso do Irão já se sinta um pouco os ensinamentos do Iraque. Mais pressão (um terceiro porta aviões) mas mais diplomacia também.
E contrariamente ao que diz o Senhor Rui Miguel Ribeiro, não creio que a utilização da diplomacia, sempre e sempre que se possa, até ao ultimo fôlego, seja cobarde e de criticar. Quantos hoje nos EUA e no mundo, lamentam que se tivesse lançado a guerra do Iraque antes mesmo que os observadores da ONU tivessem publicado o "report" de conclusão das buscas das armas de destruição maciça que nunca foram descobertas, claro está ! Ter-se-iam poupado centenas de milhares de vidas e o "impasse"actual trágico naquele pais.
No principio deste mês, aquando duma conferência no Instituto dos Estudos da Segurança Nacional na Universidade de Tel Aviv foi indicado que o Irão agiria racionalmente com as armas nucleares e que " a eliminação de Israel não é considerada como sendo no interesse nacional do Irão". Que o Irão agiria logicamente e não deixaria de avaliar o preço e os riscos inerentes".
E que, por conseguinte, "um ataque preventivo das instalações nucleares iranianas seria um erro estratégico considerável, e que a utilização de armas nucleares contra os Iranianos seria uma loucura absoluta". A melhor opção seria portanto a dissuasão nuclear , segundo estes estrategos israelitas.
Mais interessante ainda " - Os expertos Israelitas consideram que a política Americana no Médio Oriente foi não somente um fracasso imenso mas também constituiu uma inibição decisiva para Israel poder reorientar a sua política estrangeira em função das realidades regionais"".
Claro que quando se escuta Netanyahu e as predições apocalípticas dos amigos dele, a guerra está próxima. Não existe meio mais eficaz para preparar o publico à guerra que esta histeria política.
O problema que se põe infelizmente para o momento é que Olmert, o PM Israelita, que é considerado pelos Israelitas como o político mais corrompido de Israel, perde todos os dias a sua influência e o peso necessário para avançar nesta direcção e que ao mesmo tempo ele quer continuar como o aliado mais convencido dos EUA qualquer que seja a política dos EUA. Mesmo quando estes o proíbem, para o momento, de negociar um tratado paz com a Síria. Então com o Irão !
A esperança não está toda perdida, portanto.
FREITAS PEREIRA comenta:-
Creio que o que segue é "self explanatory!"
MOHAMED ELBARADEI, DIRECTOR GENERAL, IAEA: I´m still quite hopeful because I don´t see any other option, quite frankly. How long will it take to convince all the parties to go back to the negotiating table is a matter of speculation. I know however for sure that even if you go for a year or two for retaliation and counter-retaliation and more sanctions it will get worse for everybody, Iran of course, but also all other parts of the international community, specifically, in the Middle East which simply cannot afford an additional escalation which would lead to militancy and increase terrorism. So if we can avoid going through this painful process, knowing that it can never resolve the issue, and try to resolve the process going back to negotiation, that´s obviously in the interest of everybody. Both sides understand that. Both sides understand that there´s no other way except than to go to negotiation. It´s just a question of how to get both sides to the negotiating table while saving face. It really is about saving face...
There´s a lot of efforts by everybody trying to do that right now, a lot of it is really, more [of a] drafting process, more how to present a package in a balanced way and whereby the Iranians would feel that they have not lost face and the international community would feel that their requirements had been satisfied. I came up with this idea of double, simultaneous suspension, a time out.
FT: Which would be simultaneous rather than sequential?
Sanctions
FT: You have have real concerns about sanctions. If they begin to bite do you think they are counter-productive?
ELBARADEI: I have major concerns about relying on sanctions alone. Our experience without exception is that sanctions alone do not work and in most cases radicalise the regime and hurt the people who are not supposed to be hurt. So I have a major concern not about sanctions per se but sanctions alone. And sanctions have to be coupled at all time with incentives and a real search for a compromise based on face saving, based on respect.
I mean we always forget this word respect. A lot of the problems we face, fifty per cent at least if not more, is psychological. Substance is important, but fifty per cent of it is how you approach it, how you reach out to people, how you understand where they´re coming from. So I will continue to say: "Yes, it is your prerogative to apply sanctions but sanctions
The Tensions Between Iran and the US
FT: Do you think both sides have invested inadequately in negotiations?
ELBARADEI: I think so. I´ve been on the record for saying for many years that the Iranian issue will only be resolved when the US takes a decision to engage Iran directly... The nuclear issue is the tip of the iceberg, it masks a lot of grievances, security grievances, competition for power in the Middle East, economic issues, sanctions, it has to do with human rights, support for extremist groups, there are a lot of other issues that need to be resolved. Iran could be very helpful as a stabilising force in the Middle East. The US could be very helpful in providing the security assurances that obviously lie at the heart of some of the Iranian activities.
A questão iraniana é muito complexa, não existe apenas um Irão com quem se pode dialogar, ou com quem se pode iniciar a terceira guerra mundial. As sançõe s são actualmente uma arma importante contra a possivel proliferação nuclear, mas podem ter um impacto interno dentro do proprio Irão que pode fragilizar ainda mais a posição dos moderados iranianos.
Relativamente a um ataque seja qual for a natureza do ataque, terá certamente consequências internacionais significativas, (isto obviamente é um understatement)Em termos internos um ataque pode favorecer os conservadores no Irão, como aconteceu em 1980 quando Saddam Hussein invadiu o Irão, o governo islâmico iraniano era bastante frágil, mas uma agressão externa dinamizou a população iraniana e legitimou fortemente o governo de Khomeini.
As ambições nucleares iranianas iniciaram por ser um pet project do anterior Shah Pahlavi, e previam inicialmente até 8 reactores nucleares de grande capacidade para o Irão, portanto entra na lógica que o Irão tenha realmente necessidade da energia nuclear. Claro que os discursos rétoricos do presidente iraniano não ajudam nada a esta necessidade racional que se transforma numa "cruzada" ou melhor "Jihad" contra os EUA e Israel, na realidade trata-se apenas de um reacendimento da velha intenção Khomeinista em expalhar o dominio islâmico, mas desta vez está misturado com o real nacionalismo iraniano e orgulho persa, ou seja geopolitica iraniana e demagogia islâmica.
Relativamente á cooperação russa, o responsável da cooperação nuclear iraniana, já se queixou das exorbitantes somas de dinheiro que os russos pediram para continuar com a cooperação, as palavras do senhor iraniano eram qualquer coisa como:"devemos informar a russia que estamos a construir um reactor nuclear de agua pesada e não uma piramide forrada a ouro", portanto os russos estão a aproveitar-se da situação para quase literalmente serem pagos a peso de ouro.
I. Sobral
Já me esquecia, parabens pelo Blog é a primeira vez que o vejo e parece-me muito interessante, é pena ter tantas alusões ao benfica mas ninguém é perfeito :) :)
I. Sobral
Dos quatro personagens-chave da questão Iraniana, sem duvida o mais perigoso é Ahmadinejab, integrista e nacionalista "outrancier". Eleito graças a uma forte abstenção, tem como objectivo de abanar os regimes sunitas e incentivar a revolução islamista nestes países. Persa, não creio que tenha uma grande amizade pelos Árabes.
Não foi ele que proclamou " viva o caos, porque depois do caos, haverá Deus"!. ?
Mas uma grande parte da população não o aceita, e se não fosse a milícia constituída pelos antigos combatentes da guerra Irão-Iraque - os Pasdarans - , creio que já teria sido eliminado.
Os outros dois grupos influentes, os reformadores e os conservadores moderados, observam. Os reformadores de Khatami, batido por Ahmadinejab nas ultimas eleições, é talvez o mais inclinado para uma política menos ligada à religião, mas sem desconsiderar esta, que constituí o fundamento do Irão.
Ao passo que os conservadores de Rafsandjani constituem uma corrente mais aberta a uma política de aproximação com os ocidentais, particularmente os EUA., mas consideram essencial de respeitar a influência dos religiosos. Aliás foram eles que ajudaram Ahmadinejabn a chegar ao poder.
O aspecto positivo da evolução actual é a influência crescente da juventude, sobretudo das mulheres, que constituem 60% dos jovens que entram na universidade, e que anseiam de viver numa sociedade mais moderna, mais ou menos como no ocidente.
Seria por isso um erro trágico de aplicar sanções ou ainda pior, atacar o Irão, porque, como escrito mais acima, seria lançar estas forças progressistas e modernas no campo nacionalista e intransigente de Ahmadinejab.
Na minha vida profissional conheci muitos empresários no Irão, que só esperam que o céu esteja mais limpo para levantar o Irão ao mais alto nível das potências económicas influentes.
Mas o nacionalismo, desde os tempos de Mossadegh, em 1953, e da nacionalização do petróleo, que foi um sonho de independência derrubado pela CIA, num golpe de estado que teve como consequência a revolução dos mollahs, é cimentado por um desejo de afirmação nacional e uma vontade feroz de nunca mais voltar à dependência dos estrangeiros, quaisquer que eles sejam, Árabes, Ingleses, Americanos ou Russos.
Esperemos que G.Bush seja capaz de compreender este sentimento e não se lance numa aventura como a do Iraque
Sr. Freitas Pereira: A diplomacia deve ser o ponto de partida e, desejavelmente, o ponto de chegada. Contudo, eu não consigo apoiar indefenidamente processos diplomáticos, quando uma das partes usa de má-fé reiteradamente e o que está em jogo é um problema de segurança de extrema importância.
Eu não afirmo que toda a nomenclatura governativa de Teerão subscreva as teses lunáticas de Ahmadinejad, mas o problema da eventual bomba iraniana não se resume à gestão racional da sua posse, mas sim à grande instabilidade que vai provocar no Médio Oriente e a uma previsível corrida regional ao nuclear.
Quanto à Guerra do Iraque, mantenho que o problema não foi ter desencadeado a guerra, mas sim não ter gerido competentemente o day after.
Quanto a Israel, Olmert é um incompetente. No que concerne a "bomba" iraniana, nem toda a gente em Israel partilha dessa visão relaxada. E Israel tem um problema insolúvel com a dissuasão nuclear: se ela falhar, o país pode ser destruído com menos de 10 engenhos nucleares. Não tem, portanto, margem de erro. Desse ponto de vista, o ataque preventivo torna-se mais atractivo e tem de ser feito ANTES.
On Mr. Baradei's declarations: it's all about talks, not sanctions, not to mention pressure, because the Iranians might be offended.
Who broke the enrichment programme suspension just before the UK, France and Germany presented their proposals in 2005?
Iran did.
Who ignored UNSC 1696?
Iran did.
Who ignored UNSC 1737?
Iran did.
Who has had the most radical approach to this issue.
Iran has.
Who is in breach of treaties, conventions and UN Resolutions?
Iran is.
So, basically (not exclusively), Iran is the source of the problem.
Ivo: Obrigado pela tua 1ª visita ao "tempos Interessantes" e pelos teus elogios. Espero que te tornes leitor assíduo e participativo.
P.S. Os posts sobre o Benfica são relativamente raros. Apenas um nos últimos 3 meses, se excluirmos os memorials a Fehér e a Bento, que têm características particulares, especialmente o primeiro.
Ah! Felicito-te pela tua humildade ao reconheceres que ninguém é perfeito! :-)
Ivo: Apreciei muito o teu informativo comment, vindo de um expert na matéria. Duas notas apenas:
1- A questão de cultivar ou prejudicar os "moderados" no Irão não me parece central, dado que o poder último reside em Qom, seja o Presidente Rafsanjani, Kathami, ou Ahmadinejad e não me parece que Ali Khameney seja qualificável como um moderado.
2- A eventual necessidade que o Irão possa ter (e eu duvido muito) de energia nuclear, não justifica um programa secreto de 18 anos e os obstáculos dos últimos 3 anos.
Senhor Rui Miguel Ribeiro
Constato que duvida que o Irão possa ter necessidade de se dotar de centrais nucleares para assegurar as sua necessidades em energia no dia em que as energias fosseis acabarem. Pelo menos foi assim que compreendi o seu comentário ao do Senhor Sobral.
Mas sabe que em Dezembro passado, o grupo das seis monarquias do golfo ( Arábia Saudita, Koweit, Qatar, Oman, Emirados Árabes Unidos e Bahrain ), reunido em Riyad, decidiu de lançar o estudo dum programa nuclear civil, pelas mesmas razoes.
Como seria possível considerar que estes Estados , e particularmente a Arábia Saudita, que detêm as maiores reservas de petróleo- 240 dos 480 biliões de barris deste grupo- , procurem uma soluçao nuclear para daqui a 70 ou 100 anos, e não o Irão com os seus 130 biliões de barris ?
Dois pesos, duas medidas ?
Caro Sr. Freitas Pereira
Relativamente á minha referência sobre a variedade de interlocutores, eu referia-me igualmente a varias power houses, dentro da sociedade iraniana que podem influenciar o poder, podemos neste caso falar dos conservadores estes divididos em conservadores ligados á elite religiosa iraniana (como o Dr. Rui Ribeiro indicou sediada e consolidada nas escolas isLãmicas de Qom)mas pode-se igualmente falar no dispositivo militar religioso que é constituido tanto pelos Pasdaran como pelas unidades paramilitares Basij. Temos ainda os laicos conservadores como o senhor Ahmadinejad que ostenta obviamente uma subserviencia aparente ao clero mas faz parte de uma hierarquia militante islâmica que possui uma agenda propria, fazem parte todo o establishment iraniano politico-administrativo que governa o país à 15 anos.Nos liberais podemos falar em clerigos liberais que podem ser como o senher Rafsanjani que possui importantes monopolios economicos no Irão assim como foi o negociador principal quer com os Eua no passado quer com ocidente em geral, tmos ainda os chamados Mullah liberais que acreditam numa separação de poderes laico/religiosos. Dentro dos liberais temos ainda uma burguesia e uma classe média urbana que possuíem já ligações importantes por exemplo no Majlis e na administração de grandes cidades como Tehran. Temos ainda grupos mistos que podem tender a balança tanto para os liberais como para os conservadores, estes são tanto os Bazari como ainda os varios sindicatos. Os Bazari são os comerciantes e industriais dos mercados iranianos (hoje convertidos em enormes shopings) estes obviamente obedecem aos critérios de good for business, e no passado foram essenciais tanto para a revolução de 1979 como para a coup d'etat de 1953, como a revolução constitucional iraniana ou a revolta do Chá. Os Unions iranianos, os sindicatos representam uma fatia importante da população iraniana quer a população que têm um emprego publico ou privado.
As power houses acima referidas são somente uma parte da questão.
Relativamente ao golpe de 1953 á verdade que influenciaram negativamente as relaçãos entre os EUA e o Irão isto praticamente até aos nossos dias ( Dr Mossadegh foi eleito o iraniano mais importante do seculo, e não Ruholah Khomeini), mas a questão é que durante o golpe de estado de 53 os EUA tiveram o apoio do Ayatollah Kashani assim como dos suas milicias de deus. Assim como a celebre frase do Coronel Oliver North quando respondeu perante o congresso relativamente ao escandalo Iran-Contras: "The conservative mullah's are the only one that can deliver apon our needs".
Relativamente ás convicções de Ahmadinejad, eu penso que ele ainda defende e apoia os arabes que sejam xiitas, vejamos tanto o caso do Libano como do Iraque e mais concretamente o Haezbollah e o Exercito de Mahdi.
Não creio que o senhor Rafsanjani tenha apoiado Ahmadinejad, porque Rafsanjani era ele proprio candidato á presidencia e inclusive depois dos resultados indicou a intenção de contestar os resultados que ele considerou teram sidos viciados grosseiramente. Relativamente ao apoio dos Pasdaran ao senhor Ahmadinejad eu creio que este é evidentemente importante mas este é diferente do apoio de establisment conservador este sim têm nas suas filas veteranos da guerra Irão-Iraque, assim como o apoio das familias dos veteranos de guerra, estas familias têm varios privilégios como por exemplo não pagarem impostos, têm prioridade em concursos estatais, ou sejam entram directamente nas universidades ou entram automaticamente para os cargos publicos sem qualquer concurso, para não falar das ingentes associações de benificiencia que apoiam economicamente estas familias. Esta diferença não é semantica mas sim um dado de facto.
Caro Rui Miguel Ribeiro
-Concordo que o ponto central do poder iraniano está em Qom, mas os clérigos iranianos não são uma massa uniforme, dentro dos Mullah existem diferenças, isto pode ser uma fraqueza que pode ser explorada activamente, divide to rule. Além disso esistem outras partes dentro da sociedade que agora estão em posição de fazer equilibrar a balança para a parte conservadora.
- Concordo que o programa iraniana nunca foi muito transparente, mas actualmente penso somos obrigados a aceitar o programa como pacifico, porque não existem outras opções, somente podemos negociar. Controlar o processo de enriquecimento nuclear com observadores internacionais e aplacar o nosso desejo de satisfazer Marte (deus da guerra).As cartas penso eu estão todas na mão dos iranianos, Iraque, Libano, Palestina (valor menor), Petrolio, Golfo Persico, Al Qaeda (também não gostam de Osama bin Laden), Afeganistão (detestam os Taliban), Opio (a droga é imoral e contra deus),desenvolvimento (embargo economico 28 anos) investimento (companhias americanas entram no Irão). Conclusão o Irão fica uma coluna fundamental de estabilidade na região, a sua economia copia o modelo de desenvolvimento chinês.
Uma decisão historica terá de ser feita nos proximos meses, ou os EUA negociarem directamente e interromperem o bloqueio de 28 anos; ou então atacam o Irão e acabam com o mundo que conhecemos hoje...
Quando eu falei do benfica é que tenho uma cor predominantemente azul no que se refere a futebol ): BIba o Porto ): foi só por isso...
Vou tentar ler o Blog sempre que poder e contribuir naquilo que posso ):
Gostava de começar pedindo desculpa ao autor deste blog, o meu Professor e amigo Rui Miguel Ribeiro, por ter andado ausente de opinião na “blogo-esfera”, em particular neste seu “Tempos Interessantes”, onde ainda não tinha (sequer) intervindo.
Saliento que foi um “período sabático” em que não dei opiniões, mas que, de tempos em tempos, fui lendo e mantendo-me ao corrente das suas opiniões. Hoje, “APÓS PRESSÃO”, tive realmente vergonha de andar longe tanto tempo.
Passando em revista estes últimos posts sobre “Padrinhos e Afilhados” (I e II), sou de opinião que tudo está abordado
1- Com os títulos, fica demonstrado o sistema político internacional, que não se resume a estes compadrios… há também os do “eixo do bem”!!!
2- Com o 1º artigo, fica atestado aquilo que todos imaginavam, a Coreia do Norte, contrariamente aos EUA, é hábil nas negociações. Recua nas suas pretensões até obter os lucros, retomando seguidamente o rumo que há muito havia decidido (até voltar a ter mais lucro com outro acordo e recuar 1 passo, para depois avançar 2)
3- Com o 2º artigo, fica definitivamente demonstrado (se dúvidas houvesse) que “quem tem bons padrinhos não morre na cadeia”.
4- Fica ainda patenteado que todos, padrinhos e afilhados, jogam no tabuleiro político conforme lhes convém… jogando com a inabilidade de alguns para se satisfazerem! Se recuarmos no séc. XX, encontramos Chamberlain… (perdoem a comparação… esperemos que a inabilidade dos actuais não esteja a comprar “a paz do nosso tempo”… pelo menos que não seja comprar a paz igual à outra!!!)
Termino este meu regresso aos comentários com duas considerações:
1ª - Para quando uma ONU que efectivamente faça alguma coisa e tenha “margem de manobra” para tal.
2ª - Que me perdoem os mais “sérios”, mas tenho que citar o ilustre deputado e líder parlamentar comunista, Bernardino Soares:
“Tenho dúvidas que a Coreia do Norte não seja uma democracia”
P.S.- Prometo voltar amiúde a dar o meu contributo, por pouco válido que possa ser…
Sr. Freitas Pereira: Os 6 países do GCC decidiram lançar os primeiríssimos passos de um eventual programa nuclear conjunto em resposta ao programa iraniano e ao seu carácter suspeito (to say the least). Trata-se, portanto, de uma atitude mais de natureza política do que económica ou energética. Aliás o Egipto já tomou idêntica atitude. Cá temos a Caixa de pandora nuclear a abrir-se no Médio Oriente.
Isto não invalida que não possa haver razões de natireza energética para optar por esta via, but not the Iranian way.
Caro Ivo: Agradeço uma vez mais a tua entrada em força no "Tempo Interessantes" e o teu insight sobre o Irão.
Só não concordo com a afirmação de que o Irão tem todos os trunfos na mão. Tem muitos e é u power player no Médio Oriente como não era desde o tempo do Xá da Pérsia, mas tem as suas vulnerabilidades, tais como:
* O Irão depende mais das vendas de petróleo de gás do que o Ocidente depende do Irão.
* O Irão enfrenta cada vez mais a desconfiança/hostilidade da Arábia Saudita, dos Emiratos do Golfo, do Egipto e da Jordânia.
* O Irão não tem capacidade militar suficiente para se impôr no Golfo Pérsico face à US Navy.
* O Irão também tem as suas minorias internas potencialmente perturbadoras, tais como os Curdos no Norte, ou os Baluches junto ao Paquistão.
Não estamos, portanto, "condenados" a qualquer Diktat de Teerão.
Ah! Em relação às cores clubísticas, eu sei e percebi que não és encarnado (o que é pena), mas eu respeito as minorias. :-)
João: Já respondi a grande parte dos teus comentários no "Padrinhos e Afilhados I". Só uma referência relativamente à ONU: não sei para quando será a ONU que tu "pedes", porque um dos problemas fulcrais é precisamente o poder de facto e no Conselho de Segurança que os "Padrinhos" têm e a ONU vale pouco por si só, ou seja, sem a cooperação ou aquiescência das Grandes Potências.
Esta situação do Irão a produzir armas nucleares é muito preocupante. Acha que vamos ter outra guerra?
José Manuel
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