No passado Domingo, na TVI, o Professor Marcelo Rebelo de Sousa manifestava a sua perplexidade, incompreensão e até repulsa relativamente aos Finlandeses. Tudo porque os Finlandeses acabavam de dar uma forte votação ao Partido True Finns (Verdadeiros Finlandeses), que Marcelo reputa de nacionalista (porque tem uma visão soberanista sobre a Finlândia e é eurocéptico) e xenófobo (porque é contra a imigração). Esta votação, num país com elevadíssimos índices educativos e sócio-culturais é incompreensível para Marcelo Rebelo de Sousa.
Eu não partilho da perplexidade, nem da repulsa. O que me causa perplexidade é que o Professor Marcelo não repudie que o facto de uma amálgama de partidos totalitários de origens stalinistas, trotskistas, maoístas, encabeçados pelo PCP e pelo BE, obter votações conjuntas na ordem dos 20% em Portugal.
Regressando à Finlândia. Qual é o problema de votar num partido nacionalista? Não podem os Finlandeses escolher um partido que acham que defenderá de forma mais firme o interesse nacional da Finlândia? É uma vergonha, na hora do voto, pôr o seu país à frente de outras considerações? A resposta às 3 perguntas é, respectivamente: nenhum; sim; e não.
O nacionalismo não tem que revestir a forma extremada, totalitária, militarista e agressiva da década de 1930. Bem pior do que o nacionalismo é a tentativa de impor o pensamento único da supra-nacionalidade
Relativamente à imigração, há que distinguir duas situações: uma, é perseguir, discriminar, prejudicar ilegitimamente os imigrantes que residem num país e nele se integram legalmente e que contribuem honestamente para o bem-estar colectivo. É inaceitável. Outra, bem diferente, é não querer mais imigrantes, ou pretender diminuir o seu fluxo. Parece-me que tal opção cabe no poder soberano dos Estados e não prejudica ilegitimamente ninguém. Cada um recebe em sua casa quem quer e quem pode.
É evidente que as eleições na Finlândia suscitaram um interesse inusitado em Portugal por causa das negociações do pacote de financiamento para Portugal. Mesmo aí, parece-me natural que haja Finlandeses que torçam o nariz a financiar os países falidos da Europa, quando a sua gestão das finanças públicas é competente. Exactamente do mesmo modo que me pareceu desajustado Portugal estar a contribuir para o bailout da Grécia e da Irlanda quando já estava com a corda no pescoço.
Aliás, considerando a tendência algo agiotária dos empréstimos europeus, se Helsínquia fizesse descarrilar o apoio europeu, talvez Lisboa se saísse melhor só com financiamento do FMI.
Comparativo dos resultados eleitorais na Finlândia em 2007 e 2011.
Voltando à Finlândia, os resultados dos Verdadeiros Finlandeses (3º lugar com 19% dos votos e 39 deputados), é mais uma demonstração da gradual falência das propostas e políticas dos partidos do mainstream, cada vez mais percepcionados como sendo iguais. Então quando esses partidos substituem a alternância pela partilha do poder (como alguns querem fazer em Portugal), está definitivamente aberto o caminho do sucesso eleitoral a partidos realmente alternativos. Parece que os (verdadeiros) Finlandeses se estão a saturar do rumo que a coisa pública vem levando.