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23 maio, 2015

Erros da Grécia


ERROS DA GRÉCIA

 
Squeeze, squeeze till the end…..

in “The Washington Post” at www.washingtonpost.com/

 
Desde o início da crise que a Grécia cometeu vários erros graves na sua estratégia (?) negocial com a troika, erros esses, diga-se, comuns a outros países como Portugal.

 
O mais grave foi conformar-se com a ideia que o devedor falido está desprovido de armas e argumentos para almejar mais do que aceitar humildemente as condições impostas pelos credores. Tal não é verdade e entre 2010 e 2012 os trunfos da Grécia até eram bastante fortes e passavam, em última instância, pela ameaça credível de um default.

 
Nessa altura, a exposição da banca estrangeira, nomeadamente a alemã e a francesa, à dívida grega era substancial. Simultaneamente, a pressão dos mercados sobre os juros das dívidas da Europa Meridional e até da França e da Bélgica, era fortíssima. Uma simples ameaça pública de um default iminente por parte do Governo da Grécia teria lançado o caos na zona euro, fazendo disparar as taxas de juro e ameaçando muitos bancos, o que poderia até provocar um efeito dominó.

 
A ameaça de premir o botão nuclear da dívida faria recuar até o Sr. Schauble e a Grécia (e os outros) podiam ter obtido condições muito mais favoráveis para superar os seus problemas. Infelizmente, optaram pela solução servil, cobarde e atentatória dos interesses dos seus países e dos seus cidadãos.

 
Esse foi o pecado original dos países do resgate: caminharam para o cadafalso de mão estendida e de corda ao pescoço.

 
O erro mais recente já é do Syriza. Os trunfos da Grécia são muito mais reduzidos hoje, com os mercados mais estáveis e a exposição à dívida grega substancialmente deflectida. Aliás, a Alemanha tem-se empenhado em mostrar uma relativa indiferença perante uma eventual saída da Grécia do euro.

 
A Alemanha e a Troika estão habituados a usar o bullying para coagir a outra parte a aceitar as condições impostas e partem do pressuposto que os países do Sul, mesmo quando protestam e reivindicam, acabam por ceder com pequenas concessões para “salvar” a face. E a realidade tem-lhes dado razão. Por isso, a única forma de mudar o jogo é jogar forte, sem hesitações e receios.

 
Um exemplo: após a eleição, Alexis Tsipras jogou a “cartada russa”. O primeiro dignitário estrangeiro que recebeu foi o embaixador da Rússia em Atenas e pouco tempo depois fez uma visita oficial a Moscovo. Os gestos ficaram, os media especularam por uns dias, mas as palavras foram no sentido de retirar importância às iniciativas e o follow-up foi zero.

 
Caminho alternativo: anunciar, em termos definitivos que a Grécia vetará, no seio da EU, a renovação das sanções à Rússia e a imposição de novas sanções; requerer publicamente aos EUA a renegociação dos termos de utilização da base naval que operam em Creta; acordar com Putin uma visita a curto prazo de vasos de guerra russos ao Pireu; acordar com a Rússia um financiamento, por limitado que fosse; negociar com Moscovo a extensão do futuro gasoduto Turkish Stream até à Grécia.

 
O que têm a Rússia e tudo isto a ver com a dívida? Nada. Contudo mexe com factores que importam e muito à Alemanha e aos Estados Unidos. Provoca danos. Gera incerteza. Acima de tudo, mostra determinação, transmite à outra parte que estão dispostos a ir muito longe para obter um resultado aceitável nas negociações. Demonstra que não é bluff, não é só conversa. Se os acharem um pouco loucos, melhor ainda. As pessoas receiam os loucos, verdadeiros ou fingidos, porque acreditam que eles farão o impensável. A Coreia do Norte e o Irão são exemplos de que a aparente insanidade pode compensar nas Relações Internacionais.

 
Porém, agora é tarde. A sinalética que o Syriza tem transmitido não é a de determinação, mas sim de vacilar entre uns discursos inflamados e uma postura mansa à mesa das negociações. Rapam o tacho à procura de uns últimos trocos para pagar mais uma tranche ao FMI ou ao BCE e procuram desesperadamente um acordo, em vez de falhar um pagamento para mudar as regras do jogo.

 
No final, poderão ter oposto mais resistência, mas irão ceder. Lá onde estiver, Bismarck deve sorrir…. O IV Reich solidifica-se. Sem disparar um tiro.

 
 

 
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15 maio, 2015

Estrangulando a Grécia



ESTRANGULANDO A GRÉCIA

 
O naufrágio da Grécia…..

A “novela” grega arrasta-se sofridamente. De um lado está a Grécia, um país falido, mesmo após uma recessão prolongada e brutal causada pela soma da gestão irresponsável dos governos do PASOK e da Nova Democracia e da imposição de uma austeridade demencial por parte da Troika e dos seus mentores.

Actualmente temos o novo governo grego, liderado pelo Syriza, a tentar fazer valer pelo menos algumas partes relevantes do programa eleitoral sufragado pelos Gregos e pressionado pela ausência de liquidez e pelo avolumar dos compromissos.

Do outro lado, temos a Alemanha e a Troika, determinados em manter e concluir as políticas que puderam a Grécia de gatas. Para tal, vão apertando o garrote.

Para se ter uma ideia da situação insustentável da Grécia, basta ver que Atenas se bate pela entrega dos 7.2 biliões de euros que faltam para completar o pacote do 2º resgate. No entanto, em Julho tem de pagar 3.5 biliões de euros ao BCE. Ou seja, praticamente metade do que falta receber é devolvido à procedência um mês depois.

Só entre Março e Dezembro de 2015, o montante que a Grécia deverá entregar ao FMI ascende a 8 biliões de euros. A isto acresce 6.7 biliões ao BCE no próximo Verão. A este bolo ainda podemos somar mais de 10 biliões em liquidação de obrigações de curto prazo. 25 biliões de euros em 10 meses só em serviço da dívida! Fora as despesas correntes.

O que era óbvio em 2010 continua a ser óbvio em 2015: a Grécia está insolvente. Não tem qualquer hipótese realista de satisfazer estes compromissos, mesmo que mergulhe os Gregos numa austeridade e miséria permanentes. Tal, apenas satisfará o fanatismo fiscal de Berlim, Frankfurt e Bruxelas.

A solução troikiana e os resgates arrastaram o problema até 2015. A Grécia é um doente terminal a quem foram aplicadas sucessivas e infrutíferas doses do mesmo remédio. É…doentio. A solução para a Grécia em 2015, tal como em 2010, só passará por uma grande reestruturação (haircut) da dívida, ou pelo incumprimento (default).











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28 janeiro, 2015

Pedrada no Charco



PEDRADA NO CHARCO

 
O número de mandatos conquistados pelos 7 partidos que fizeram eleger deputados nas eleições de 2012 e 2015.

in BBC News em http://www.bbc.com/news/
 


Como muitos esperavam e outros temiam, o partido de esquerda radical Syriza ganhou as eleições na Grécia.

Tratou-se do 2º terramoto eleitoral que confirmou e agravou os resultados do terramoto de 2012. O Syriza obteve uma vitória claríssima que o deixou no limiar da maioria absoluta. A Nova Democracia sofreu pesada derrota, registando o menor nº de mandatos de sempre. O PASOK, um dos dois partidos historicamente dominantes num sistema bipolarizado ficou reduzido à insignificância: 7º lugar e meros 13 deputados, o preço de fazer de lacaio da Nova democracia na ânsia de se manter no poder. O Partido da Aurora Dourada, de extrema-direita, alcançou o 3º lugar.

Este é o resultado da fraude política protagonizada um pouco por toda a Europa pelos partidos que dominam o sistema político e monopolizam o poder desde a II Guerra Mundial. Os Partidos Conservadores/Democratas-Cristãos e Socialistas/Social-Democratas/Trabalhistas têm governado a seu bel-prazer, com políticas cada vez mais idênticas, aplicando nos últimos anos, à escala europeia, o dogma imposto pela Alemanha e avalizado por instituições internacionais como a Comissão Europeia, o FMI, o BCE e a OCDE.

Como já foi escrito em Tempos Interessantes, a fórmula do pensamento único, o slogan “não há outro caminho”, a imposição externa e interna de políticas desumanas e contra-producentes, são uma negação da verdadeira democracia.

Estas eleições foram, aliás, um modelo de negação democrática por parte de vários actores, nomeadamente a Alemanha e os membros da famigerada Troika, cujas declarações de ameaça e chantagem foram uma indecente e inaceitável ingerência na política interna, na soberania e no exercício democrático dos Gregos. Parece claro que a super-estrutura europeia está cada vez mais ousada na afirmação de uma tutela não-democrática sobre a Europa.

Como era evidente, a chantagem revelou-se contra-producente e, pela primeira vez na História recente, um partido alternativo venceu eleições e formou governo. Trata-se de uma verdadeira pedrada no charco.

Contudo, ainda nada de substantivo mudou. Os Gregos votaram num caminho verdadeiramente alternativo. O próximo passo será a capacidade do Syriza resistir às pressões, ameaças e chantagens que Angela Merkel e os seus sequazes inevitavelmente exercerão sobre a Grécia. Aí se verá de que estirpe é feito Alexis Tsipras e se a pedrada agita o charco, ou se continuamos em águas pantanosas. A resposta reside na resiliência dos Gregos.


P.S. O rumo que a política tem levado na EU e nos seus Estados-Membros, para além de, felizmente, ter destruído o oligopólio político, também fomentou a ascensão dos totalitarismos. O 3º lugar da Aurora Dourada é uma sinistra bofetada de luva negra nos fautores do statu quo europeu. O próprio Partido Comunista (KKE) ficou à frente (5º lugar) da versão socialista da Grécia (PASOK).

P.P.S. Vergonhoso o comunicado do PSD na sequência das eleições na Grécia. Desde que tem o presidente que tem, o partido vai de despautério em despautério. Verdadeiramente lamentável.



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