2.750 TONELADAS DE NITRATO DE AMÓNIO
in Business Insider” em https://www.businessinsider.com/videos-capture-massive-explosion-that-rocked-lebanons-beirut-2020-8
Divisões sectárias, antagonismos religiosos, interesses geopolíticos diversos, instabilidade (por vezes paralisia) política, dependência de estados vizinhos, interferência de outros estados nos assuntos internos, vulnerabilidade perante ameaças militares externas, refém de milícias apoiadas e financiadas do exterior, vítima de uma crise económica e financeira que pôs o país de joelhos, pobreza generalizada e, acima de tudo, uma corrupção endémica que corrói o tecido sócio-económico de forma implacável.
Isto é uma descrição sucinta daquilo que é o Líbano.
Os restos do porto de Beirute.
in “BBC News” em https://www.bbc.com/news/world-middle-east-53686563
Há décadas que o Estado Libanês é uma farsa, arquitectado para alimentar as comunidades cristã, sunita, xiita e drusa e os partidos que as representam que, por sua vez, garantem o acesso dos seus seguidores a empregos na função pública e outras prebendas, enquanto no topo da pirâmide política, religiosa e financeira se distribui as verdadeiras recompensas a expensas do Estado Libanês. Assunção de responsabilidades é um conceito inexistente.
A situação do país entrou em derrapagem descontrolada a partir de 2011 quando rebentou a Guerra da Síria que levou a uma quebra gradual mas contínua das remessas dos emigrantes libaneses, situação agravada a partir de 2014 quando se deu o colapso do preço do petróleo. Além disso, a Guerra da Síria praticamente pôs fim ao turismo e coarctou as exportações. Vieram os bloqueios ao acesso às contas bancárias (excepto as dos muito ricos), a espiral inflacionária, a pobreza da classe média e a miséria dos pobres.
A tudo isto, acresce o crash financeiro de 2019 e o corona vírus em 2020.
O Rhosus em 2012, o navio que transportou as 2.750 toneladas de nitrato de amónio com destino ao porto da beira, Moçambique. Ficou pelo porto de Beirute, onde viria a afundar-se.
in “BBC News” em https://www.bbc.com/news
A irresponsabilidade, a impunidade, o desleixo, a incompetência, a falta de controlo leva-nos às 2.750 toneladas de nitrato de amónio altamente explosivo, estacionadas há mais de 6 anos num armazém do porto de Beirute. Um incêndio num armazém de pirotecnia, ou provocado por um trabalho de solda, levou a uma mega explosão com uma potência estimada em 2 kilotoneladas de TNT (a explosão de Hiroshima foi de 15 kilotoneladas). Ironicamente, esta tremenda explosão ocorreu na véspera do 75º aniversário da explosão atómica em Hiroshima.
A explosão foi quase um golpe de misericórdia em Beirute e no Líbano.
P.S. Não obstante reconhecer a legitimidade da revolta do povo libanês perante o culminar dramático da longa e penosa crise, as manifestações e os recontros, nesta altura, só agravarão a ruína de Beirute.
P.P.S. A insistência do Presidente do Líbano na existência de um míssil que teria provocado a explosão é simplesmente caricata. A rejeição de uma investigação internacional é perfeitamente legítima. Goste-se ou não, melhor ou pior, ainda é um país soberano.
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