HOEKSTRA, COSTA E A VERDADEIRA UE
Em Portugal muita gente
se agitou com as declarações do Ministro das Finanças da Holanda, Wopke
Hoekstra, especialmente após a reacção exaltada de António Costa. As declarações
de Hoekstra demonstraram falta de sensibilidade, solidariedade e de timing e a reacção
de Costa, se bem que exagerada, compreende-se à luz da gravíssima situação
Contudo, o que me leva a
escrever este post não é o “repugnante”, mas sim outras considerações tecidas por António Costa e que estão desfasadas da
realidade.
Costa disse?
"É preciso não
ter a menor noção do que é viver no mercado interno para alguém ter a ilusão
que pode resolver o problema da pandemia na Holanda se esta não se resolver em
Itália ou em Espanha".
Ora, o mercado interno não
tem nada a ver com a pandemia. A pandemia não cresce nem desaparece por causa
do mercado interno. É
um disparate.
E disse também:
"E quem quer estar numa UE a 27 tem de perceber que estar numa
união não é viver em isolamento, por si só, é partilhar com os outros as dificuldades
e as vantagens. … devia ser dos primeiros a perceber que num espírito de união
estamos cá para nos apoiar uns aos outros".
Esta é a típica afirmação politicamente correcta que é repetida pela maioria dos líderes políticos dos
Estados-Membros e por todas as luminárias da EU. Contudo, a realidade é
diferente. Para além da cooperação que existe efectivamente, entre os países
que compõem a EU, subsiste uma realidade que desagrada a Bruxelas e a que
podemos designar de soberania nacional. E desta, decorre uma outra realidade
que é o interesse nacional, que é suposto os Estados soberanos promoverem e
defenderem.
Isto leva-nos a outro
patamar, também desagradável de admitir, mas que existe lado a lado com a
cooperação que é…a não cooperação. Chegamos, então, às declarações de Wopke Hoekstra
e de António Costa. A EU é, a maioria das vezes, uma organização razoavelmente
unida, mas quando enfrenta questões particularmente sérias (crises financeiras,
orçamentos, guerras, pandemias) a solidariedade tende a ser enviada às ortigas,
sendo substituída pela defesa férrea dos interesses de cada um. E essa quebra
de solidariedade não é exclusiva da Europa Setentrional A título de exemplo,
Portugal e Espanha ajudaram a tirar o tapete à Grécia durante a crise das dívidas
soberanas para, subservientemente agradar à Alemanha.
A propósito da Alemanha,
convém também salientar que na EU, numa adaptação orwelliana, são todos iguais,
mas uns são mais iguais do que os outros. Et pour cause, pouco são os que batem
o pé à França e menos ainda à Alemanha. Estes países dão-se ao luxo de sonegar
apoio à e de menosprezar e até atacar a 4º potência europeia (3ª da EU), a
Itália.
Estou absolutamente ciente
que as Relações Internacionais têm uma fortíssima componente de poder e que
quem o tem exerce-o para o seu benefício quando o julga necessário. Este exercício
do poder já é mais mitigado, mas é um facto e não vai desaparecer. Por isso, é
lamentável, fastidioso e hipócrita estar sempre a proclamar uma fraternidade e uma
igualdade que simplesmente não existem, especialmente no que concerne as grandes
decisões.
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