TENTÁCULOS DE TEERÃO I
Os Tentáculos
de Teerão condicionam e constrangem seriamente o Iraque.
in “Daily Times” em https://dailytimes.com.pk/131648/iraq-now-iranian-colony/
Há um ano
houve grande agitação devido à saída dos Estados Unidos do Acordo Nuclear com o
Irão (cujo nome oficial é Joint Comprehensive Plan of Action - JCPOA). A
realidade é que o Acordo deixa bastante a desejar (ver “Irão (Quase) Nuclear” em http://tempos-interessantes.blogspot.com/2015/09/irao-quase-nuclear.html)
e reflecte o desespero em consegui-lo por parte dos EUA e do Irão (ver “Os Desesperados” em http://tempos-interessantes.blogspot.com/2013/10/os-desesperados.html)
. A diferença está, é claro, que o desespero de Washington se detectava à
distância, enquanto que Teerão disfarçava o seu.
Volvido um
ano, o Irão continua a constituir um sério problema geopolítico no Médio
Oriente. A presença e influência do Irão no Iraque, especialmente após a
retirada americana em 2011 e a sua intervenção na Guerra da Síria são
sobejamente conhecidas. O escopo e o grau de interferência iraniana na região
serão, porventura, menos conhecidos.
A chave do
activismo de Teerão reside na Guarda Revolucionária Islâmica, uma espécie de
Guarda Pretoriana do regime que responde directamente ao Líder Supremo do Irão,
Ayatollah Ali Khamenei, actuando através do seu braço armado externo, a Quds
Force.
Países abrangidos
pelos tentáculos de Teerão:
Iraque, Síria,
Líbano Iémen, Bahrain, Afeganistão e Paquistão.
Obviamente o
grau de envolvimento e influência difere muito de país para país, é muito
grande nos dois primeiros e pequena nos últimos dois. A tipologia de
envolvimento também é diferente: no Bahrain, pequeno país do Golfo Pérsico
alinhado com a Arábia Saudita, o Irão tem tentado derrubar o poder instalado
(minoria Sunita) em favor da maioria Xiita e fá-lo treinando agentes locais. Na
Síria, o objectivo foi/é salvar o regime vigente de Bashar Al Assad num país em
guerra generalizada; neste caso, o Irão mobilizou milícias de vários países e
colocou as suas próprias unidades militares na frente de combate. No Líbano, o
Irão age através do seu mais valioso agente externo, o Hezbollah.
Os grupos que
o Irão apoia são numerosos e com poder, capacidades e autonomia diversos. Uma
lista resumida para se ter uma ideia da abrangência e proveniência:
Hezbollah
(Líbano)
Brigadas Badr,
Ketaib Hezbollah, Asaib Ahl al-Haq (Iraque)
Ansar Allah,
aka Houthis (Iémen)
Brigada
Fatemiyoun (Afeganistão)
Brigada
Zaynabiyoun (Paquistão)
Hamas,
Palestinian Islamic Jihad (Faixa de Gaza)
Mísseis anti-aéreos
SA-22 alegadamente fornecidos pelo Irão ao Hezbollah.
in “Ya Libnan” em http://yalibnan.com/2015/10/03/israeli-pm-reveals-to-un-details-of-hezbollahs-new-weapons/
O Irão usa
estes braços armados como um instrumento de influência nos seus países de
origem, para atacar rivais, defender os seus interesses e aliados e para
promover os seus objectivos estratégicos. Estes grupos/milícias/partidos actuam
primariamente nas áreas política e militar.
O apoio do
Irão a estas entidades sub-estaduais é focado essencialmente em quatro áreas:
financiamento, treino, logística e fornecimento de equipamento bélico. Contudo,
no caso da Síria, como o Irão é aliado do regime, o apoio foi fundamentalmente direccionado
para o estado sírio, com uma parte canalizada para milícias pró-Assad.
Vejamos alguns
exemplos dos fornecimentos bélicos do Irão para os seus aliados/agentes:
* O Hezbollah
recebeu foguetes Katyusha, mísseis balísticos, mísseis anti-tanque, tanques
T-72 de fabrico soviético, veículos blindados de transporte de tropas M113 de
fabrico norte-americano e drones armados. Consta que terá também armazenado
armas químicas.
* O Ansar Allah
recebeu mísseis balísticos, foguetes Katyusha, minas marítimas, mísseis anti-aéreos,
sistemas de defesa anti-aérea portáteis (MANPADS), radares, drones, barcos
explosivos guiados remotamente.
* Brigadas
Badr, Kataib Hezbollah, Asaib Ahl al-Haq e muitas outras milícias xiitas
iraquianas receberam mísseis balístico de curto alcance, tanques, veículos
blindados de transporte de tropas, mísseis anti-tanque, artilharia, drones,
MANPADS.
Na Síria o
investimento de Teerão foi brutal, envolvendo 3.000 militares da Quds Force,
8.000 do Hezbollah, financiando,
treinando e equipando cerca de 100.000 combatentes. de milícias xiitas
autóctones e provenientes do Médio Oriente, Afeganistão 10.000/15.000) e Paquistão
(2.000).
Em nome da
solidariedade Xiita, da necessidade de manter a ponte terrestre para o Líbano e
o imperativo de salvar um dos seus poucos aliados estaduais, a Síria de Assad,
o Irão terá despendido US$ 16 billion no esforço de guerra na Síria entre 2012
e 2018.
Esta rede
tentacular aqui elencada e que Teerão estende pelo Médio Oriente, visa mostrar
o grau, o alcance e a dimensão que a
influência e o poder iraniano tem atingido na região, especialmente na última
década e que não dá sinais de abrandamento, bem pelo contrário, os Guarda Revolucionários
e o Supremo Líder estão empenhados em aumentar e cimentar o poder e influência
do Irão no Médio Oriente e mais além.
NOTA: Num próximo post
darei conta dos objectivos estratégicos e geopolíticos que o Irão visa alcançar,
directamente e através dos seus proxies.
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