16 maio, 2018

"Worst Deal Ever" Is...Over


“WORST DEAL EVER” IS…OVER

 
Donald Trump anuncia saída dos EUA do Acordo Nuclear com o Irão.

Já está. Os Estados Unidos retiraram-se do Acordo Nuclear com o Irão (Joint Comprehensive Plan of Action - JCPOA). O Acordo, rotulado pelo Presidente Donald Trump como “the worst deal ever”, seems to be…over.

A maior surpresa não é o ter acontecido, mas sim o tempo que demorou a acontecer. Surpreendentemente também, ou talvez não, é o choque sentido por muitos por Donald Trump ter cumprido (goste-se ou não) uma promessa eleitoral.

Em relação ao Acordo e respectivas negociações, Tempos Interessantes tem assumido uma posição crítica desde 2009 (antes), 2013 (durante) e 2015 (após) e mantém-na em 2018 (agora).

No post de 2015, “Irão (Quase) Nuclear” (http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2015/09/irao-quase-nuclear.html), aponta-se as principais lacunas e deficiências do JCPOA que, já tinham sido antevistas no post de 2013 “Os Desesperados” (http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2013/10/os-desesperados.html)

Nada no histórico do Irão confere confiança em relação a uma eventual contenção nuclear à medida que as restrições e condicionamentos do JCPOA vão prescrevendo. O argumento de que, com o Acordo e o consequente aumento da interacção internacional, O regime de Teerão amoleceria e ir-se-ia desintegrando era semelhante a uma aposta no casino: pode-se ganhar, mas o mais certo é perder.

A realidade é que o Irão assinou o JCPOA porque a sua economia estava de rastos, mas os seus planos e ambições geopolíticos mantiveram-se, como era expectável. Aliás, com a injecção de liquidez que recebeu, Teerão pôde dar-se ao luxo de incrementar o intervencionismo externo, especialmente na Síria, Iraque, Iémen e Líbano. Os sonhos miríficos de Barack Obama e John Kerry sobre um Irão bonzinho e benfazejo eram um misto de ingenuidade, ignorância e desespero por obter um acordo.

O Irão constitui um problema que vai bem além do programa nuclear. Desde a Revolução de 1979 que a República Islâmica tem prosseguido o objectivo de se guindar a potência hegemónica do Médio Oriente, provocando instabilidade e conflitos no processo.

Por outro lado, o regime nutre um ódio mortal por Israel, independente dos objectivos geopolíticos, mas que agrava as tensões e a probabilidade de sérios conflitos, como já se vai verificando na Síria; a postura anti-israelita serve de pretexto para apoiar organizações terroristas como o Hezbollah, o Hamas e a Palestinian Islamic Jihad (PIJ) e para gerar apoios na população árabe.

Posto isto, o facto de o Irão estar, alegadamente, a cumprir os termos do JCPOA não é o mais relevante, por muito chocante que tal possa parecer. O Irão, na sua presente forma, constitui uma ameaça multidimensional que contribui como ninguém para a crescente volatilidade e conflitualidade no Médio Oriente.

Quanto ao JCPOA, este não resolve a questão nuclear -it just kicks the can down the road- e não só não resolve, como criou as condições que permitiram a Teerão aumentar a sua agressividade e intervencionismo externo. A retirada dos EUA do Acordo poderá acabar com as ambiguidades.

E agora? Esta é a pergunta que os comentadores colocam desesperados. Não há Plano B, acrescentam, ainda mais desesperados.

Bem, agora, há três hipóteses mais óbvias, que não carecem de Plano B:

1- O Acordo prossegue, coxo, com os outros 6 signatários. Contudo, os ganhos iranianos serão muito menores, logo as suas dificuldades internas e externas serão maiores.

2- O Acordo é renegociado, alterado, melhorado e tornado mais abrangente, ou é feito um paralelo para resolver as lacunas do actual.

3- O Acordo rui* e voltamos a 2015. Aí, ou se negoceia a partir do zero, ou os EUA terão de assumir a responsabilidade e os custos de resolver o problema de nova corrida nuclear do Irão.

Nada de catastrófico, portanto. No 1º caso, ficar-se-ia melhor do que agora porque o Irão teria menos meios e mais dificuldades. O 2º cenário seria claramente o melhor. O 3º seria o pior, mas nada que não viria a acontecer com grande probabilidade a médio prazo se se mantivesse o statu quo.


* Não sou eu. Trata-se do presente indicativo do verbo ruir na 3ª pessoa do singular.

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