UM PASSO À FRENTE, OUTRO ATRÁS
Donald Trump fez, durante a campanha e após as eleições várias
declarações bombásticas sobre política externa. Muitas delas provocaram
escândalo e comoção, o que não significa que fossem destituídas de mérito.
Contudo, cada vez que o novo Presidente dos Estados Unidos
conversa com um líder estrangeiro, a mensagem que passa é diferente. Cada vez
que o Vice-Presidente Michael Pence, ou o Secretário da Defesa James Mattis
fazem declarações no estrangeiro, a mensagem difere da do Presidente, seja no
tom, seja no conteúdo. A reformatação da relação com a Rússia está envolta em
dúvidas, a Crimeia já será para ser devolvida, a política de “Uma China” foi
reabilitada, o empenho na NATO só depende de os aliados abrirem os cordões à bolsa
e o combate activo à expansão chinesa no Pacífico Ocidental parece ter ido para
o congelador.
Nem tudo tem sido marcha atrás. A política de rejeição ou
revisão de acordos comerciais multilaterais está a avançar, o apoio ao Reino
Unido e ao Brexit manteve-se, bem como, a vontade de bilateralizar as relações externas, nomeadamente com os países
europeus.
Uma explicação possível é facto de a administração ter pouco
mais de um mês e muita coisa precisa ainda de ser calibrada. Outra hipótese é
tratar-se de uma estratégia deliberada: a coexistência das mensagens mais
explosivas do Presidente com as mensagens mais tradicionais dos membros do seu
gabinete provoca incerteza, confusão e insegurança em parceiros e adversários;
esse nevoeiro comunicacional pode levá-los a seguir políticas que julgam mais
próximas das pretendidas pela Casa Branca que, dessa forma, vai atingindo os
seus objectivos. Um exemplo disso mesmo é o anunciado incremento do orçamento
de defesa e do contingente militar da Alemanha. A última hipótese, e a menos
desejável, é estarmos em presença de uma administração esquizofrénica.
Não há dúvidas que Donald Trump vive bem com o caos de uma
avalancha comunicacional nem sempre estável ou coerente. A questão está em
saber se ele saberá daí recolher dividendos, como na campanha, ou se acabará
enredado na confusão. Até ao Verão já se deverá divisar melhor…
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