09 janeiro, 2015

Moi Aussi



MOI AUSSI



“Cutting the Hydra's Head”
Desenho original de Afonso Duarte

O slogan anda nas bocas do mundo: “Je suis Charlie.” Pois bem, moi aussi.

A Liberdade é algo de precioso e inegociável. A liberdade de expressão é um vector fundamental da Liberdade lato sensu. O atentado executado ontem em Paris e que custou a vida a 12 pessoas foi um atentado a essa mesma liberdade e um festim para a bestialidade do Islão mais radical e intolerante.

Admito que a estratégia editorial do “Charlie Hebdo” me merece algumas reservas, mas isso é algo que me diz respeito e que não me dá o direito de questionar a liberdade da sua direcção e redacção de escolher o caminho que querem seguir. Do mesmo modo que o blog Tempos Interessantes publica textos e mesmo imagens menos ortodoxos, contra a corrente e até polémicas e eu, como seu autor, prezo muito o direito de escrever o que entendo.

Por isso me associo à multidão que se revolta contra este atentado e que não aceita que outros nos tentem impor a intolerãncia e a bestialidade que nós andamos séculos a esconjurar.



MOI AUSSI

in “The Washington Post”, em http://www.washingtonpost.com/



P.S. É com grande satisfação e indisfarçável orgulho que hoje concretizo uma ideia já com algum tempo: publicar um post conjunto com o meu filho. 
 Eu escrevo, ele desenha!

16 comentários:

Anónimo disse...

Rui,

Moi Aussi, a todo o texto!

Moi Aussi, ao P.S. também. Congrats.

Abraço,
Fernando

Penso disse...

Moi aussi!
(Se puderes, clareia um pouco a imagem. No meu computador, pelo menos, está pouco perceptível)

Sergio Lira disse...

Parabéns, Afonso, também pela liberdade de expressão.

Anónimo disse...

Caro Rui

Quem diria....

Parabéns...

Temos dupla...

Um grande abraço.

RGS

Anónimo disse...



Muitos Parabéns e votos de BOM ANO para os dois!

Teria sido preferível que essa oportuna e significativa colaboração se iniciasse com outro acontecimento, mas o mundo está particularmente sombrio , ou pelo menos mais sombrio do que aquilo que desejaríamos..., também por isso precisa da intervenção intergeracional!
Primeiro:NADA, mas mesmo NADA pode justificar que se ceifem assim vidas humanas. Mas, talvez, o melhor processo para o proclamar/exigir/pressupor não seja assumir uma identificação em relação à qual temos algumas reservas...Julgo que a sociedade, desde logo europeia, deveria ter a coragem de discutir responsavelmente alguns princípios não dissociáveis de valores estruturantes como a liberdade....Mas o pior mesmo é querer discutir o que quer que seja em cima de um acontecimento tão hediondo.

Beijinhos para os dois
Ana Paula

Joaquim de Freitas disse...

Parabéns aos cartoonistas vimaranenses! E muito Bom Ano Novo para toda a familia.

Sobre Charlie: Se eu fosse professor numa escola de França, esta manhã, seria obrigado a pensar no que se passou e na obrigação de explicar aos meus alunos a verdade.
E a verdade é que, em frente deles, bem vestido, bem penteado, bem calçado, longe das contingências materiais que fazem que não babo diante dos objectos de consumo que fazem sonhar alguns dos meus alunos, e que se não os possuo posso adquiri-los quando quiser.
Vou para férias, vivo no meio dos livros, frequento pessoas corteses e refinadas, elegantes e cultivadas, e considero que toda a gente leu "La Liberté guidant le Peuple" e "Candide", que fazem parte do património da humanidade.
Considerando que o universal é de direito e não de facto, e que é impossível que alguém não tenha lido Voltaire!
Mas o facto é que, se os crimes perpetrados por estes assassinos são odiosos, o que é terrível, é que eles falem francês, com o sotaque dos jovens da periferia. Estes dois assassinos são nossos alunos. O traumatismo, para nos, que vivemos em França, é também de ouvir esta voz, estas palavras, este sotaque, igual ao dos Portugueses de Champigny.
Se eu fosse professor, é isto que me faria sentir responsável. Não pessoalmente, claro. Mas , como funcionários dum Estado e duma escola que deixou esses dois e tantos outros na berma da estrada dos valores republicanos, cidadãos franceses que gememos em permanência contra o aumento dos impostos, que aproveitamos os nichos fiscais quando podemos, que deixamos o individual vencer o colectivo, que não fazemos política ou troçamos aqueles que a fazem, etc.: somos responsáveis desta situação.
Os jornalistas de Charlie Hebdo eram nossos irmãos e choramo-los como tais. Os seus assassinos eram órfãos, colocados na Assistência, pupilos da Nação, filhos de França. Os nossos filhos mataram os seus irmãos. Em qualquer cultura que seja, isso provoca este sentimento que nunca é evocado : a vergonha.
Digamos, portanto, a nossa vergonha. Vergonha e cólera. Cólera contra os assassinos e também contra si mesmo.
E a responsabilidade? A do Estado, antes de mais, que deixa imbecis e psicóticos apodrecer na prisão e acabar por ser brinquedos nas mãos perversas de manipuladores, duma política que parca os escravos ( sem documentos, sem carta de eleitor, sem nome, sem dentes,) nos antros da periferia. A responsabilidade duma classe politica que não compreendeu que a virtude só se ensina pelo exemplo.
Trabalhadores, intelectuais, pensadores, universitários, artistas, jornalistas: Vimos morrer homens que eram dos nossos. Então abramos os olhos sobre a situação, para compreender como lá chegamos, afim de construir enfim uma sociedade laica e cultivada, mais justa, mais livre, mais igual, mais fraternal.
E não esquecer que a fractura social é antes de mais a do desemprego , que gera a miséria e a delinquência.
"Somos todos Charlie" não chega. Afirmar a nossa solidariedade com as vitimas não nos exima da responsabilidade colectiva deste assassinato.

Joaquim de Freitas disse...

Não sejamos hipócritas, Charlie Hebdo não é um amigo político. Desde há muitos anos que ele " a basculé" ( caiu) no campo do pensamento dominante e participa ao desenvolvimento duma islamofobia de esquerda.
Entretanto ninguém não pode nem deve regozijar-se do assassinato dos seus jornalistas, porque é um assassinato da liberdade de expressão. Mas este ataque não pode fazer calar , também não, as críticas contra o Charlie Hebdo e a imprensa em geral sobre a sua linha de redacção e humorística islamófoba.
Hoje, levar a guerra na sala de redacção de Charlie Hebdo é como colocar uma bomba na estação de caminho de ferro de Bolonha. Um acto de terror para desorientar.
Sobre este acto , complotismo e islamofobia vão prosperar. O ataque contra Charlie Hebdo permite de fazer reféns milhões de pessoas de confissão muçulmana em França e na Europa.
Os únicos vencedores deste atentado são os reaccionários de todas as vertentes, islamofobos à cabeça. Em frente, os tak-taks que querem que a comunidade muçulmana se encolha, feche sobre ela mesma.
As múltiplas sensibilidades presentes nos bairros vão dever fazer frente à intimação de escolher entre a arregimentação à causa nacional ou a marginalização e a criminalidade.
As condições permitindo uma tal catástrofe estavam reunidas.
A população francesa encontra-se bloqueada neste contexto de crise económica entre a bigorna neoliberal que não deixa outra oportunidade que individual e o martelo reaccionário que mete as origens culturais ou biológicas das classes populares em competição.
A escola da delinquência dos bairros das cidades periféricas das grandes cidades do ocidente vai continuar a fornecer os aprendizes feiticeiros do terrorismo internacional. E as salas de treino às armas de guerra do Iémen, Síria e Iraque, são lhes graciosamente oferecidas pelos regimes obscurantistas que conservam os seus povos na miséria, que as democracias apoiam, tais como a Arábia Saudita e os Emirados.
E o Ocidente continuará a enviar os seus aviões e os seus drones espalhar a morte por toda a parte e a fechar os olhos sobre o terrorismo de Estado israelita que assassina milhares de muçulmanos em Gaza. Esta é a verdadeira raiz do mal que fornece argumentos aos iluminados de Al Qaida.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Obrigado Fernando!
Grande abraço!

Rui Miguel Ribeiro disse...

Caro Penso,

Já pedi isso ao Afonso, aguardo execução do pedido.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Obrigado Rui, em nome dos dois!

Grd abr

Rui Miguel Ribeiro disse...

Ana Paula,

Pois seria, mas foi uma questão de oportunidade, totalmente casual: eu tinha planeado escrever sobre este acontecimento e o Afonso enviou-me um desenho sobre o mesmo. Et voilà!

Bjs

Rui Miguel Ribeiro disse...

Caro Sr. Joaquim de Freitas,

Agradeço e retribuo os seus votos e a sua amabilidade.
E agradeço também que abra os nossos olhos para realidades que vão para além do que vemos e ouvimos nas notícias.
O EStado tem responsabilidades perante as pessoas e não pode simplesmente assobiar e olhar para o lado. Se não pode receber tanta gente, não receba, mas se acolhe, recebe uma responsabilidade.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Sr. Joaquim de Freitas,

Tal com escrevi, também não me revejo em muito da linha editorial do "Charlie Hebdo". Várias corrente do Islamismo são merecedoras de crítica feroz e de repúdio, mas há outro métodos....
Quanto à notazinha sobre Israel, eu sei, o senhor sabe, nós sabemos, que não temos common ground na matéria... C'est la vie. Porém, uma coisa é certa, não nos vamos matar um ao outro por causa disso :-)

Joaquim de Freitas disse...

"A common ground" não pode existir num tal sujeito. Isso não nos impede de dialogar e tenho o maior prazer nisso, pode crer, Senhor Rui Miguel Ribeiro.

Conheço bem Israel e tenho muitos amigos israelitas. Não estamos sempre de acordo, porque se eu sou Português e posso também ser Francês pelo muito que devo a este país, nunca esta dupla nacionalidade me fará esquecer a terra onde nasci. Mesmo se tenho a pior opinião possível sobre os políticos portugueses que dirigiram Portugal desde que me conheço.

Mas posso ser extremamente critico para os políticos franceses e nem sempre estou de acordo com a politica estrangeira da França quando ela esquece os seus valores a sua imagem no mundo.

Compreendo portanto que um Israelita, nascido em França, possa ter o mesmo sentimento em relação a Israel, terra dos seus antepassados . E conheço muitos amigos que não se reconheciam na politica de Sharon e agora na de Netanyahu.

De certeza que hoje, ao ler o jornal israelita HaMevaser ,un jornal ultra ortodoxo judeu financiado por Meir Porush, membro da Kenesset e rabino , membro do partido Judaísmo unificado da Torah, que apagou a imagem das mulheres da foto oficial dos dirigentes políticos presentes na marcha de Paris, Frau Merkel, Federika Pogherini, representante da UE e Anne Hidalgo, maire de Paris, porque a religião judaica não permite de publicar as imagens das mulheres junto dos homens, não vejo diferença nenhuma neste extremismo em relação ao extremismo islamista.

São os mesmos que assassinaram Rabin, porque ele queria a paz.

São estes extremismos, sempre minoritários que põem a paz do mundo em perigo.

Mas, por razoes estratégicas e políticas, nem os EUA nem a UE , querem realmente obrigar Israel a fazer a paz.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Sr. Joaquim de Freitas,

Ah, mas eu não subscrevo essa ideologia/crença, nem essa prática. Eu defendo Israel, mas não à outrance.

Anónimo disse...

Olá Rui Miguel,

Muito Bom!!

Bjs

Ercília