21 julho, 2014

"Brincadeiras" na Líbia


BRINCADEIRAS NA LÍBIA



Neste mapa da Líbia, pode ver-se a cidade de Zintan nas Montanhas Nafusa perto da Tunísia, Tripoli um pouco a nordeste, Misrata,  mais a leste junto ao Mediterrâneo e Benghazi, também na costa, já a caminho do Egipto.

in STRATFOR em www.Stratfor.comm


Há um novo (recente) protagonista político-militar na balbúrdia que dá pelo nome de Líbia: o General Khalifa Hafter.


O General Hafter conseguiu agitar ainda mais as águas. Tem dado combate feroz às milícias islamitas da Brigada do Mártir de 17 de Fevereiro em Benghazi, onde está baseado, contando para o efeito com o apoio de unidades das forças especiais do Exército (??) Líbio (??) e também da Força Aérea, que passaram para o seu lado à revelia do Governo.


Por outro lado, em Maio, na capital Tripoli, forças leais ao mesmo Hafter, com o apoio das milícias de Zintan (cidade do Oeste da Líbia), tomaram de assalto o parlamento. Este, dominado por forças islamitas, pediu ajuda às milícias de Misrata, 3ª cidade da Líbia, situada entre Tripoli e Benghazi.


O combate foi evitado, mas por pouco tempo.


Entretanto, foi nomeado um novo Primeiro-Ministro, mas o anterior manteve-se em funções, pelo que podemos dizer que a Líbia teve dois Primeiro-Ministros e zero governos.


Mais recentemente, no final de Junho, realizaram-se eleições para substituir o descredibilizado parlamento (General National Congress), cujos resultados finais ainda se aguardam, mas dos quais pouco ou nada se espera em termos de clarificação política.


A exportação de petróleo, entretanto parcialmente retomada, continua contingente de precários equilíbrios de forças e de interesses e da boa vontade das milícias regionais ou sectárias que controlam grande parte do país.


Para não dar aso a que estes últimos desenvolvimentos (eleições e exportações) gerem algum optimismo, na semana passada duas das principais milícias (Zintan e Misrata novamente) envolveram-se em acesos combates pelo controlo do Aeroporto Internacional de Tripoli. No calor da refrega, foram destruídos 90% dos aviões aí parqueados.


E o governo nacional já fez avançar o exército para dominar e desarmar as milícias e reassumir o controlo do aeroporto?


Estava a brincar! Não é curial falar de reassumir o controlo de algo que nunca se controlou. Após a queda do regime de Kadhafi em 2011, o aeroporto foi ocupado por diversas milícias de menor expressão. Estas foram expulsas em 2012 pela milícia de Zintan que controla o Aeroporto de Tripoli até hoje.


Desculpem, estava a brincar outra vez. O exército de que o governo dispõe é, ele próprio, de brincar. A única diligência que o governo fez foi tentar negociar (suplicar?) um cessar-fogo entre as duas poderosas milícias.


Ah, no caso improvável de estarem a pensar em voar para a Líbia, esqueçam! O Aeroporto Internacional de Benghazi está encerrado desde Maio por motivos de segurança (ou de falta dela) e de múltiplos protestos. Não, desta vez não estou a brincar.


Acentua-se, pois, a descida da Líbia para a anarquia, a pulverização do poder político e militar, o esboroar da economia dependente do petróleo, por sua vez refém dos poderes militares. Se a isto somarmos a crescente presença de jihadistas, a Líbia é cada vez mais um Estado disfuncional e um foco de instabilidade no Sahara e no Sahel.


Aliás, se o assunto não fosse tão sério, a situação da Líbia seria mesmo uma brincadeira pegada!


P.S. Mesmo perante este cenário caótico, Barack Obama conseguiu, num discurso na Academia de West Point, salientar o sucesso da intervenção militar na Líbia. Seriously? Ah, deve ter sido outra brincadeira certamente.







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