12 junho, 2014

ISIS ao Ataque



ISIS AO ATAQUE



As divisões étnicas e sectárias no Iraque e em parte do Irão e da Turquia.

in “STRATFOR” em www.stratfor.com 


Em 15 de Janeiro passado, publiquei em Tempos Interessantes o post intitulado “Al-Qaeda Renasce no Iraque” (http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2014/01/al-qaeda-renasce-no-iraque.html ). Na altura o Estado Islâmico do Iraque e da Síria (Islamic State of Iraq and Syria – ISIS)* tinha capturado duas cidades, Fallujah e Ramadi, da Província de Anbar, bastião sunita no Oeste do Iraque.

Esta semana, o ISIS tomou de assalto a 2ª maior cidade do Iraque, Mosul, no Norte do país. Com um contingente estimado entre 1000 e 2000 homens e deslocando-se rapidamente em pickups equipadas com metralhadoras e anti-aéreas, os rebeldes subjugaram as tropas  e a polícia iraquianas. A maioria da guarnição, estimada em 10.000 soldados, largou armas, fardas e equipamento e…fugiu. Digno de nota foi a captura pelo ISIL dos 48 Turcos que se encontravam no Consulado, incluindo o Cônsul-Geral e forças especiais turcas.

Subsequentemente, o ISIS ocupou a cidade de Tikrit (terra natal de Saddam Hussein) e controla parte significativa das Províncias de Anvar, Nínive e Salahedin. As últimas notícias referem que a Al-Qaeda marcha sobre Bagdad.

A maioria destas conquistas serão reversíveis. Num cenário de guerra em permanente fluxo, alguns relatos poderão ser exagerados, ultrapassados, ou mesmo falsos, mas o certo é que a Al-Qaeda tem o maior controlo sobre os acontecimentos até à data. Contudo, neste momento o mais relevante não é saber se o ISIL retirou de Mosul, ou se o Exército do Iraque retomou ou não Tikrit. O que há a reter por agora é:

* O Estado Islâmico do Iraque e do Levante demonstra uma capacidade bélica significativa, tendo evoluído dos tradicionais atentados com explosivos improvisados ou bombistas suicidas, para ataques a cidades de média e grande dimensão, envolvendo centenas ou milhares de combatentes.

* O ISIS escolhe o tempo, o espaço e os termos do combate.

* O Exército Iraquiano parece ser uma força desmoralizada, com um grande número de deserções ou abandono do combate, sem agilidade para acompanhar as movimentações da Al-Qaeda, sem capacidade para defender as cidades e com grandes dificuldades em retomá-las.

* O Primeiro-Ministro Nouri Al Maliki está a colher o desastre que semeou com a sua sede de poder, com o uso e abuso desse poder de forma sectária, com a perseguição e ostracização dos Sunitas, com a incapacidade de gerir a relação de Bagdad com o Governo Regional do Kurdistão. É evidente que os Iraquianos perdem mais do que Maliki, mas Maliki é, já há algum tempo um sério problema para o Iraque.

Acho muito difícil que o ISIS consiga conquistar Bagdad, pela dimensão da capital, pela concentração de tropas iraquianas e pela grande população xiita, mas o simples facto de estar a marchar sobre a capital do Iraque já é uma notícia de relevo e até um feito. Suficiente para agitar Washington, Londres e Teerão.

Ironicamente, uma intervenção externa poderá derrotar esta ofensiva desta organização que até ao início deste ano integrava a Al-Qaeda e, simultaneamente, elevar o seu prestígio e popularidade.


* Consoante as fontes, a organização é apresentada com a designação Islamic State of Iraq and Syria – ISIS ou Islamic State of Iraq and the Levant – ISIL.

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