01 julho, 2012

Odisseia Greco-Europeia

ODISSEIA GRECO-EUROPEIA



A Europa vive uma Odisseia, que tal como a original, a de Ulisses cantada por Homero, parece não ter fim.

Cartoon de Tom Toles in “The Washington Post” em http://www.washingtonpost.com/

O primeiro problema é que o berço da civilização europeia está em crise profunda: a Grécia implodiu economicamente e sobrevive (???) ligada à máquina do soro que lhe vai sendo injectado ao mesmo tempo que se esvai (a economia) em sangue.

O segundo é que a crise alastrou e novas Grécias (com variantes específicas) proliferaram pela Europa: Irlanda, Portugal, Espanha, Chipre, quiçá Itália, Bélgica, entre outros insuspeitos. É um périplo bem mais longo e complexo do que a rota de Ulisses de regresso a Ítaca.

O terceiro é que cada solução é destruída nos dias seguintes à sua apresentação, seja pelos mercados desconfiados, pelas bolsas nervosas, ou pelos próprios autores e proponentes, inseguros e incompetentes. Continuando no registo homérico, a resolução da crise é como a teia de Penélope, tecida de dia, desfeita durante a noite.

E assim a Odisseia continua, com provações incontáveis, enquanto os deuses contemporâneos, políticos, burocratas, financeiros, vão prosseguindo os seus desígnios, gastando os nossos recursos e exibindo as suas incompetências.

Quando Ulisses chegou finalmente a Ítaca, eliminou com o seu arco e flechas os cortesãos traidores que queriam casar com sua mulher Penélope e apoderar-se do seu trono.

Talvez, quando Ulisses chegue de novo e finalmente a Ítaca, ou seja, quando Gregos, Irlandeses, Portugueses, Espanhóis, Cipriotas, Italianos, chegarem finalmente à conclusão de que a crise e a incapacidade de a superar se deve a uma legião de novos cortesãos e traidores, talvez então se faça o definitivo acerto de contas e a paz regresse a Ítaca, à Europa.

 Ulisses eliminando os traidores.


4 comentários:

Anónimo disse...

aAo invés de me sentir realizada com os conhecimentos que vou adquirindo, vou entrando em águas tenebrosas que me angustiam perante a tomada de consciência de como funciona a engrenagem da política/corrupção /alta finança. Acabei de ler a sua mensagem, tinha comido 2 iogurtes e fiquei com o estômago às voltas. Não se culpe! O que me dá cabo do estômago é a sensação de impotência e a apatia geral dos povos oprimidos, os quais, informados ou não, nada fazem. Gostava de poder passar uma borracha no mundo e apagar dele todos os gananciosos. Ou então, fazer como os índios espanhois e abafá-los com o próprio dinheiro extorquido graças à miséria alheia.
Estou cinzenta como o dia e sem imaginação para gracejar.

Estella

Rui Miguel Ribeiro disse...

Estella,

Compreendo a sua frustração, embora lamente ter sido o involuntário causador da sua indisposição.
É de facto exasperante ver as pessoas desesperadas com o rumo da coisa pública e depois votarem de novo nos mesmos partidos. Não dá para entender: masoquismo, estupidez, falta de alternativa...

Anónimo disse...

Resta saber quando é que aquele barquito vai ao fundo. É que não me parece que o euro, ao contrário do Ulisses, chegue a bom porto...

Cristina

Anónimo disse...

Muito bom!!!! Do melhor que tenho lido nos últimos tempos!!!

Helena Alexandra