27 janeiro, 2009

O Estado do PSD

O ESTADO DO PSD



Na entrada do ano de (quase) todas as eleições, importa discorrer um pouco sobre o estado e as perspectivas dos principais partidos portugueses.

O diagnóstico laranja é, como direi....penoso. O PSD corre sem rumo nem estratégia, aparentemente com a mesma clarividência de um homem vendado em direcção a um muro. A continuar assim, arrisca-se a que o resultado seja o mesmo.

Durante muito tempo, faltava a Manuela Ferreira Leite convicção e determinação; parecia estar a fazer um frete, que gostaria de estar noutro lugar que não na São Caetano. Nem me refiro ao silêncio de Verão que é sobrevalorizado por uma imprensa que não tolera que não lhe falem quando quer, mas à falta de disponibilidade para estar com os dirigentes e militantes do partido. Essa fase foi ultrapassada, mas permanecem problemas fundamentais:

1- Uma ideia para Portugal, um objectivo mobilizador e uma estratégia para lá chegar.
2- Uma oposição acutilante e permanente ao Governo que o atinja nos seus múltiplos pontos fracos. Não resulta fazer um ataque forte pontual e depois passar semanas como se nada se passasse. Entretanto o PS vai veiculando a sua mensagem.
3- O PSD demonstra a capacidade mobilizadora e entusiasmante de um filme de Manuel de Oliveira e a sua Presidente não tem o carisma e o entusiasmo necessários para galvanizar as bases do Partido, para já não falar da população em geral.
4- O PSD tem menos estabilidade que o Benfica no tempo de João Vale e Azevedo.

Os dois primeiros pontos são ultrapassáveis, os dois últimos muito dificilmente o serão. Deste caldo, resulta uma descrença generalizada que é meio caminho para uma derrota em Outubro.

Neste ambiente, mesmo as iniciativas positivas que a Direcção tome são acolhidas com cepticismo, ou pior, com indiferença e entramos num círculo vicioso em que o fracasso e a ineficácia se auto-alimentam. A isto acresce que no inner-circle da Presidente parece prevalecer o mesmo sentimento a julgar pelas ausências, pela falta de garra, pela inexistência aparente de quem procure corrigir o rumo e a estratégia, pelas faltas de comparência quando é preciso defender Manuela Ferreira Leite de ataques de figuras de segunda linha do Governo.

Quo vadis PSD?

Penso que o PSD se vai arrastar sem ânimo até às eleições, sem alterações de política e de protagonistas. Manuela Ferreira Leite tem qualidades, mas a capacidade de ter um golpe de asa que mude o seu (e o nosso destino) não está entre elas. Os membros supostamente mais importantes da sua entourage, ou não são relevantes, ou já são proto-candidatos para o pós-2009. Pedro Santana Lopes está ocupado com Lisboa e deixou de ser uma alternativa à liderança, pelo menos para já. Pedro Passos Coelho está em campanha há 10 meses, numas primárias solitárias e a primeira coisa que quer é estar nas listas de deputados em 2009 e a última coisa que quer é que haja eleições internas antes de 2010. Luís Filipe Menezes já assumiu que não é candidato e incorre no erro do exagero no ataque à liderança, sem esquecer que é graças à sua saída de cena que Ferreira Leite lá se encontra. Alberto João Jardim corre por fora e só teria possibilidades num cenário de implosão eleitoral do Partido, o que não é provável, nem impossível.

Então resta esperar pelo embate contra o muro? O futuro afigura-se muito cinzento, mas há sempre (?) algum foco de esperança a que nos podemos agarrar: um voto de protesto nas eleições europeias que permita um bom resultado ao PSD e o recuperar de ânimo para as eleições do Outono; que a saturação com a crise e com o governo da crise, perdão, do PS, supere a descrença na oposição; que o PCP e o BE sangrem o PS pela esquerda encurtando as distâncias entre o PSD e o PS e retirando a maioria absoluta a este; um fenómeno de fénix do PSD que o leve a mobilizar os Portugueses.

Trata-se, contudo, de pouco, quando estamos a falar da única alternativa de governo em Portugal. No fundo, o que mais falta ao PSD, é apresentar uma verdadeira alternativa de governo (de projecto) para Portugal. Até lá, vamos (des)esperando.

20 janeiro, 2009

A Guerra de Gaza

A GUERRA DE GAZA

Merkava 3, o principal carro de combate israelita, abrindo fogo em exercícios realizados em 2005.
Ao fim de 22 dias terminaram, até ver, as hostilidades em Gaza. Apesar de ser prematuro tirar conclusões definitivas, é tempo de fazer um balanço do que aconteceu e da actuação dos protagonistas e traçar as perspectivas que se colocam ao minúsculo território.

A guerra de Gaza era inevitável: o lançamento de cerca de 7000 rockets do Hamas e da Jihad Islâmica sobre o Sul de Israel ao longo de três anos, não deixavam outra alternativa. O único dado surpreendente será a paciência que Israel teve durante este período, esperando talvez que o bloqueio económico surtisse efeitos. Era de esperar que não fosse suficiente e de facto não foi; como é frequente nestas situações, a população foi atingida antes e mais duramente do que a estrutura dirigente e militar.

Israel: A vitória militar foi inquestionável. O IDF (Israel Defence Forces) conduziu a guerra da forma que bem entendeu, de uma forma faseada, organizada e sem falhas aparentes, ao contrário do que sucedera em 2006 no Líbano. As baixas israelitas são quase insignificantes (13 mortos, 4 provocadas por friendly fire) e os alvos terão sido todos atingidos. Além do mais, o cessar-fogo também foi feito no timing israelita. As dúvidas são três: Primeiro, o fim das hostilidades não terá sido precipitado por causa da mudança de poder em Washington? E, também por causa disso, o processo de esmagamento da capacidade militar do Hamas poderá não ter ido tão longe quanto desejável. Em segundo, que garantias existem que a fronteira Sinai-Gaza vai ficar selada aos abastecimentos militares do Hamas? Terceiro, se os rockets voltarem a cair nos próximos tempos em Siderot ou HGhg, os candidatos a Primeiro-Ministro que são neste momento Ministro da Defesa (Ehud Barak) e Ministra dos Negócios Estrangeiros (Tzipi Livni) poderão ter dificuldades em explicar a Operação Chumbo Derretido aos Israelitas.

Hamas: A bravata habitual sobre o inferno que ia descer sobre as tropas israelitas e o massacre que se iria seguir deu lugar à verdade nua e crua: o Hamas revelou-se absolutamente incapaz de constituir uma ameaça credível para o IDF, infligiu-lhe apenas 9 mortes, e teve de recorrer à habitual táctica cobarde de se esconder atrás dos civis palestinianos que supostamente devia proteger. Acabados os combates, os bravos líderes e combatentes (?!?) reemergiram para repetir as suas grotescas ameaças. Não obstante, não é líquido que esta organização terrorista esteja fora de combate e a tentação de atingir Israel antes das eleições de 10 de Fevereiro deve ser grande, para tentar maximizar as hipóteses de o Likud de Netaniahu ganhar as eleições e garantir assim o endurecimento de Jerusalém nas negociações do processo de paz. Resta saber se a população de Gaza terá ficado mais esclarecida quanto à incapacidade de o Hamas lhe garantir desenvolvimento económico, paz e segurança. Duvido.

Fatah: A Fatah é o elemento escondido desta guerra e, potencialmente, o seu principal beneficiário. O reassumir do controlo da Faixa de Gaza por Mahmoud Abbas seria o melhor meio de tentar repor algum grau de paz de tranquilidades na zona, mas pelo se afigura, tenho dúvidas se o Hamas estará suficientemente enfraquecido para não conseguir colocar resistência ao regresso da Fatah a Gaza e até que ponto é que a população a acolheria bem.

Egipto: Renascido do limbo diplomático, o Egipto foi o protagonista dos planos para findar o conflito e o centro das peregrinações de estadistas europeus à região, mas o seu papel verdadeiramente importante começa agora: pela selagem da fronteira do Egipto com Gaza, passa muito da duração do cessar-fogo existente.

Estados Unidos: A guerra teve um bom timing para os EUA – com um Presidente pró-Israel de saída e outro com muitas incógnitas de entrada, Washington apoiou Israel, criticou o Hamas e assobiou para o ar a maior parte do tempo.

Mundo Árabe: Conspicuamente ausente, torcendo a maioria que o Hamas fosse dizimado e a minoria que Israel soçobrasse, sobrou a irrelevância.

União Europeia: A Presidência Francesa acabou e a Checa começou, mas ninguém notou porque, nos momentos graves e importantes, são as grandes potências que aparecem e intervêm, seja com a presença colectiva com o Primeiro-Ministro Olmert no anúncio do cessar-fogo, seja no frenético cruzar do Médio Oriente de Sarkozy.

Agora, se as coisas se mantiverem calmas, resta esperar que os Israelitas votem e que a nova Administração Americana assente, para ver qual vai ser o rumo a curto prazo, porque no médio prazo, já não haverá muita gente que se atreva a pensar.