29 junho, 2014

Buraco Negro da 2ª Divisão


BURACO NEGRO 
DA 2ª DIVISÃO

Na noite em que o ISIS (Estado Islâmico do Iraque e do Levante) conquistou a cidade de Mosul com tremenda eficácia e facilidade, aconteceu um fenómeno extraordinário: a 2ª Divisão do Exército Iraquiano dissolveu-se na escuridão da noite. Literalmente. 30.000 homens, corpo de oficiais incluído, largaram as armas, despiram os uniformes, deixaram o equipamento e….fugiram. Desapareceram.


As divisões polacas em 1939 e as soviéticas em 1941 que foram esmagadas e destruídas em pouco tempo, foram-no perante a Wehrmacht, uma máquina de guerra bem preparada e bem armada que levou a Alemanha a conquistar quase toda a Europa em 3 escassos anos.


Os soldados egípcios que, em 1967, largaram tudo para correrem o mais depressa possível Sinai fora a caminho do Suez, fugiam de outra extraordinária máquina de guerra, o IDF (Exército de Israel), que já dominava o espaço aéreo e que venceu 3 países em 6 dias.


A 2ª Divisão Iraquiana estacionada em Mosul não enfrentava um inimigo desse calibre, mas sim uma milícia bem armada, organizada e motivada, com trajes negros intimidantes, mas quase desprovida de equipamento pesado (agora já tem), sem apoio aéreo e com um máximo de 2000 homens.


A mancha negra do ISIS alastra pelo Iraque



Pior do que o buraco negro por onde desapareceu a 2ª Divisão, foi a posterior constatação de que pelo menos metade do Exército do Iraque (nominalmente com cerca de 200.000 soldados) entrou em desagregação e em colapso.


Para fazer face ao descalabro, o Governo do Iraque (ou do que resta dele) apelou à ajuda de voluntários. O desespero é tal, que o General Saad Maan, porta-voz do Exército (???) declarou: Now is not a time to distinguish between army and police, anyone who is willing to work will work. Ou seja, vale tudo: o exército está ser reforçado por milícias xiitas com algum treino militar e por cidadãos voluntários que recebem uma semana de treino antes de terem ordem de marcha. Já se perspectiva novo buraco negro quando estes Solnados, perdão soldados, enfrentar o ISIS em combate.




Igualmente notável é o facto de o Iraque ter um exército treinado, equipado, disciplinado e capaz em 2011, antes de os EUA deixarem o país. Volvidos meros 3 anos, aparentemente pouco resta. Como disse o ex-conselheiro militar norte-americano junto das tropas iraquianas, The crisis in the armed forces is a result of corruption, poor leadership and intelligence, and severe inattention to training. […] Those problems have turned what was a functioning military when US troops withdrew in 2011 into an “empty shell that is resorting to a call to arms of men and boys off the street.” […] The scale of the reverses this month has been “catastrophic.” (in “The Washington Post” at http://www.washingtonpost.com/world/iraqi-military-facing-psychological-collapse-after-losses-desertions/2014/06/22/88ed659a-fa4a-11e3-8176-f2c941cf35f1_story.html )
Movido pelo desespero e apoiado pelos EUA, Irão, Rússia e milícias xiitas, Al Maliki luta mais pela sua sobrevivência do que pela do Iraque, caso contrário já teria partido, sozinho, em direcção ao deserto para expiar o pecado de ter contribuído activamente para espatifar o Iraque.


O buraco negro por onde desapareceu a 2ª Divisão primeiro e metade do Exército Iraquiano a seguir, ameaça engolir o próprio Iraque. Esse buraco negro é formado por uma mistura destrutiva de sectarianismo, radicalismo religioso, sede de poder e corrupção em larga escala.


Imunes a tudo isso, as túnicas, também negras, do ISIS dominam o deserto da Síria e do Norte e Oeste do Iraque e já rondam Bagdad. Apresenta-se negro o futuro da antiga Mesopotâmia.


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