30 novembro, 2015

RIP Iraq



RIP IRAQ





“RIP IRAQ”
Desenho original de Afonso Duarte

Like her Syrian neighbour, Iraq has been unravelling. The main differences are that this has been happening in Iraq for more time and the fighting has been less widespread and not as deadly as in Syria.

In Iraq, the main sectarian/ethnic distinctions are three-fold: Shiites, Sunnis and Kurds. The former constitute the majority group (around 60% of the population) and govern Iraq. However, they are split between the central government headed by Prime-Minister Haider Al-Abadi and a score of powerful Shiite militias with considerable manpower and military capabilities and whose allegiances sway between Baghdad and Tehran, but they are mostly armed, financed and even directed by Iran, specifically by the IRGC’s Quds Force.

The Sunnis, by and large, feel (and actually are) disenfranchised by the Shiite powers that be. This reality is a consequence of the fall of Saddam Hussein’s regime, but was severely deepened after the 2011 departure of the US troops from Iraq and the increasingly sectarian policies of former Prime-Minister Nouri Al-Maliki until the Summer of 2014.

The Islamic State (IS) has been the main vehicle of Sunni revolt against the statu quo. The string of stunning military victories by the IS, culminating in the June 2014 conquest of Mosul and the subsequent proclamation of the Islamic Caliphate, were the strongest drivers of the popularity and support the IS garnered in Iraq, Syria, the Middle East and beyond.

In this period, the Islamic State has managed to carve a proto-state out of most of Western Iraq and Eastern Syria (check the 13th June 2014 post “Estado Islâmico do Iraque Ocidental e Síria Oriental” - Islamic State of Western Iraq and Eastern Syria at http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2014/06/estado-islamico-do-iraque-ocidental-e.html  ) and she has proved difficult to dislodge in spite of the erosion the war has caused on her.

However, the anti-IS offensive has mostly been spearheaded by the US Air Force, the Shiite militias and the Kurdish Peshmerga, in short, a coalition of anti-Iraqi Sunni forces: USA, Iran and Kurds. It is quite reasonable to assume that, when and if the Islamic State is militarily beaten, Iraq’s Sunnis will not come out in droves to celebrate and much less to greet the liberators. Most likely, unless there are great political changes in Baghdad (which is unlikely), Sunni unrest will endure and the IS will morph into some other entity which will pick up the fight in a few years-time.



The Islamic State and the Kurdistan Regional Government: mutual foes and both opponents of Baghdad.
in STRATFOR at www.stratfor.com

Finally, the Kurds run their own proto-state, the Kurdistan Regional Government (KRG). In spite of being an authoritarian, corrupt, bankrupt and nepotistic entity, it has enjoyed the favours of the Western powers, namely the UK and the US and that of Turkey as well. The most outstanding example of the West’s leniency is London’s and Washington’s support for Masoud Barzani’s indefinite permanence as president of the KRG fully two years after the end of his term.

Besides, the KRG has been actively asserting its claim to independence and sovereignty, exporting oil through Turkey circumventing the Iraqi state and occupying the city of Kirkuk and the surrounding oil fields. One can say that, in a twisted way, the KRG has benefited from the Islamic State surge and expansion.

Even when the IS emergency eventually fades away, it is clear that the KRG will continue to pursue full independence and it will not easily and willingly relinquish the prerogatives an territories it has already appropriated for itself.

To top it all, the Iraqi government is weak, divided and ineffective, unable to face and defeat the Islamic State, or to bring the KRG back under control, or even to rein in on the Iranian-backed militias, on whose fighting power it ultimately depends on.

So, the ingredients for state failure are all there:

            * Religious and ethnic hatred.

* Government’s impotence to control and protect much of Iraq’s territory and population.

* Government’s impotence to effectively fight and subdue or destroy the rebellious entities of IS and KRG.

* Government’s dependence on militias largely dependent on and answering to Iran.

* Government’s dependency on foreign powers (Iran and the US) to survive the
Islamic State’s assault.

This is a recipe for disaster, for the implosion and partition of a country that effectively does not function as such anymore.

Like in Syria, Rest in Peace Iraq (RIP IRAQ) could be a relatively benign endgame for the war-torn country. Unfortunately, whether it comes to that or not, Rest and Peace are clearly not in the cards for Iraq.


23 novembro, 2015

V. Exa. Já Acordou?



V. EXA. JÁ ACORDOU?
E AINDA ESTÁ MAL DISPOSTO?
 


Cavaco Silva dormindo para fugir da realidade.

Cavaco Silva adormeceu. Quando acordou e consultou os resultados eleitorais ficou mal disposto. Azia, despeito, raiva mal contida. Rabugento, disse o que lhe ia na alma. Disparatou. Indigitou um Primeiro-Ministro e adormeceu de novo.

O novo governo caiu como se sabia que ia cair. Durou duas semanas. Ainda envolto num torpor sonâmbulo, Cavaco entrou em modo automático e desatou a receber uma multidão de pessoas e instituições, ao ponto de eu ter receado também receber uma chamada de Belém.

Enquanto o país continuava (e continua) suspenso e sem um governo em plenitude de funções e poderes, o Presidente da República roncava em sono profundo.

Hoje acordou. Finalmente! E descobriu que aquilo que vivera não era um desagradável pesadelo. Era a realidade. A realidade da qual ele se vinha escapulindo há 50 dias, ora fingindo controlar a vida política-partidária-parlamentar, ora recebendo pessoas, ora se entregando nos braços de Morfeu.

Mal disposto por ter acordado para a realidade, entregou a António Costa uma espécie de lista de compras para o próximo governo. Fruto do longo e profundo sono e da irritação, a lista está recheada de disparates, sendo que o primeiro é a sua existência. Até Marcelo Rebelo de Sousa, da mesma área política do PR, teve a honestidade e o desassombro de o denunciar.

Cavaco Silva caminha para o fim a parecer-se com Ebenezer Scrooge: rabugento, avarento, virado para si mesmo, só. Infelizmente para ele, não haverá um Dickens para o redimir e salvar. Felizmente para nós, este será o seu último Natal.

21 novembro, 2015

Questões Sobre Paris, o Sinai e Dabiq




QUESTÕES SOBRE PARIS, O SINAI E DABIQ

 

Destroços do Airbus A321 da companhia russa Metrojet, alvo de atentado quando sobrevoava a Península do Sinai.

Quando ocorre um ataque terrorista bem sucedido e de grande impacto, acometem-nos muitas questões e inquietações. Porquê? Quem? Como? O que correu mal?

Não há respostas únicas, infalíveis, ou que abranjam todas as situações, mas vamos tentar responder focando-nos nos atentados de 13 de Novembro em Paris e, também, no atentado contra o avião russo sobre o Sinai.

PORQUÊ?
Desconhecemos as motivações específicas e o processo decisório da liderança do Estado Islâmico (IS), mas há 3 justificações prováveis, que podem ser cumulativas.

1- Retaliar contra os ataques realizados pela Rússia e pela França contra os muçulmanos em geral e contra o Estado Islâmico em particular.
2- Demonstrar a capacidade de atacar interesses relevantes dos Cruzados (um avião de passageiros), bem como, no caso da França, atingi-la letalmente na sua capital.
3- Provocar os Estados atacados para que estes destaquem tropas para combater na Síria/Iraque e assim materializar as profecias apocalípticas de um confronto final entre o Islão e os Cruzados em Dabiq, no Norte da Síria.

QUEM?
A propaganda, a doutrinação, o exemplo e o sucesso são as armas do IS para cativar e mobilizar meios humanos. O recrutamento é feito no terreno (Iraque e Síria primordialmente) e no estrangeiro onde coexistam comunidades islâmicas, ressentimento e frustração, principalmente na Europa, Norte de África e na antiga URSS. Para este efeito, o uso inteligente da Internet, particularmente das redes sociais, tem-se revelado frutífero para o IS e mortífero para os sues inimigos. Uma vez mobilizados, os efectivos são treinados em missões de combate e (alguns) na montagem de engenhos explosivos eficazes e fiáveis (todos os que foram activados em Paris detonaram) e está montada a estrutura humana e técnica no terreno.

COMO?
Além do treino, da mentalização e dos meios, é preciso traçar objectivos e delinear um plano para os atingir. Tal requer tempo, organização e disciplina para seleccionar e estudar os alvos, analisar os riscos e as metodologias e garantir a coordenação quando, como foi o caso em Paris, se trate de múltiplos ataques desencadeados simultaneamente. Concomitantemente, tem de haver instalações para alojar os terroristas e preparar as operações, veículos para o transporte, aquisição de documentos, armas e explosivos. É, pois, uma operação morosa e elaborada e durante a qual existem diversos momentos vulneráveis à detecção.
 
Ataques em simultâneo e/ou em rápida sucessão exigem planeamento e coordenação apurados.
in STRATFOR at www.startfor.com

ALGUÉM FALHOU?
Tendo em conta que houve participantes nos ataques que já estavam referenciados pelos serviços de segurança da França, Bélgica e Turquia, alguns dos quais vieram da Síria, acostaram na Grécia e atravessaram mais de meia Europa para chegar a França e outros transitavam entre a França e a Bélgica e ainda o tempo, pessoas e meios mobilizados para os ataques, tudo indica que algo falhou na prevenção dos atentados. Mais a mais quando a França foi alvo de ataques mortíferos há 10 meses, quando foi prometido um reforço da segurança. Tal como agora….

No que respeita à destruição do A-321 russo sobre o Sinai, parece claro que a segurança do aeroporto de Sharm El-Sheikh falhou na detecção dos terroristas, dos explosivos, e da sua colocação a bordo do avião; os serviços de segurança egípcios devem ter muito que explicar. Embora os ataques de Paris tenham desviado a atenção do atentado do Sinai, a verdade é que este foi mais mortífero (224 mortos, cerca de 90 a mais do que em França) e com consequências graves para o Egipto dado o impacto negativo no crucial sector do turismo.

Contudo, é bom ter presente que os recursos dos serviços de segurança são limitados e é impossível proteger tudo e todos e vigiar todos os perigos potenciais em permanência. Por isso, continuará a haver ataques terroristas.

PODE ACONTECER AQUI E A MIM?
Sim e sim. Pode acontecer a qualquer pessoa em qualquer lugar. É óbvio que um habitante de Celorico de Basto, de Trancoso, ou de Serpa corre um risco quase nulo. Aliás, Portugal é um país de baixo risco. Porém, a improbabilidade de tal acontecer ode maximizar o efeito surpresa e a destruição num eventual ataque.

PARA QUÊ?
O IS alcançou diversos objectivos com estes ataques. Conseguiu um golpe publicitário que focou em si a atenção de todo o mundo. Aumentou o seu prestígio, reputação e a aura que exerce um fascínio entre aqueles que a ele aderiram ou que por ele sentem alguma simpatia. Atingiu fortemente o inimigo e logo potências como a Rússia e a França. Lançou o medo e até a paranóia em milhões de pessoas, o que é um dos objectivos essenciais do terrorismo – provocar o terror. Do ponto de vista do IS, os atentados do Sinai e de Paris constituíram um sucesso em toda a linha.

OS ATAQUES DO IS SERÃO A SUA PERDA?
É possível. Os ataques a diferentes alvos e a multiplicidade de inimigos que vai criando e atingindo, aumentam a reacção contra o e a vulnerabilidade do Estado Islâmico.

E TAL NÃO REPRESENTA INCOMPETÊNCIA OU ESTUPIDEZ?
Não necessariamente. Estou convencido que a liderança do Estado Islâmico não é uma coisa nem outra. A liderança do IS encontra-se imbuída de uma crença messiânica de que tem de restaurar o Califado Abássida e levar até às últimas consequências as profecias do triunfo global do Islão sobre o Infiel.

Como tal, não procuram alianças, entendimentos, ou cooperação. O objectivo é destruir quem se oponha aos seus desideratos, mesmo que tal acarrete uma proliferação de inimigos e que conduza à sua destruição e ao martírio dos seus membros. Tratados de paz, cedências, acordos não são opção. É uma luta sem quartel, de vida ou de morte.

Será fanático e imprudente, mas tal é o Estado Islâmico e é com isso que temos de contar Luta sem tréguas até ao fim. Em Dabiq ou noutro sítio qualquer…