14 abril, 2006

Os Novos Fundamentalismos

OS NOVOS FUNDAMENTALISMOS


Regresso aos planos do Governo relativamente ao tabaco. Mais concretamente, à intenção (decisão?) de colocar fotografias com cadáveres e órgãos humanos deteriorados pelo consumo do tabaco.

É inacreditável! Eu sei que a ideia partiu da Comissão Europeia, o que não a torna necessariamente recomendável, mas que o Governo de Portugal considere expor os cidadãos (menores incluídos, porque eles também vêm os maços de cigarros) a imagens chocantes de forma gratuita leva-nos para o plano do fundamentalismo mais exacerbado e, como todos os fundamentalismos, este é perigoso.

O Estado não tem o direito de agredir desta forma gráfica os cidadãos que estão a exercer o direito de fumar um cigarro. Se entende que o tabaco é tão perigoso que carece de medidas tão restritivas, que tenha a coragem de o proibir. Já agora, o Governo podia colocar cartazes com estropiados do asfalto nas montras dos stands de automóveis, umas fotografias de vítimas de AVC nas portas dos talhos, talvez uma versão actualizada do Índex nos escaparates das livrarias, ou até uma tabuleta a dizer “Volto já” nas portas do Parlamento.

Assim, o pobre, indefeso e inimputável cidadão, mesmo que fosse analfabeto, iria sendo paternalmente avisado pelo Estado dos múltiplos perigos em que pode incorrer nas suas tarefas diárias.

No entanto, este neo-moralismo fundamentalista do III Milénio escolhe os alvos da sua ira de forma selectiva, usando o critério do famigerado politicamente correcto (tabaco, globalização, EUA, Reino Unido, Israel, liberalização, fast food, energia nuclear, família, valores tradicionais, automobilistas, são alguns dos alvos predilectos). Simultaneamente, há comportamentos desviantes e até ilegais que são compreendidos, protegidos e até promovidos. Escusado será acrescentar que quem se atrever a criticá-los é um perigoso e intolerante reaccionário. Só falta substituírem o fumo do tabaco nos nossos cafés e restaurantes pelo cheiro do haxixe, ou pelo pozinho da cocaína. Citando Cícero, O tempora, O mores!

10 abril, 2006

Tabaco e Estado Baby Sitter

TABACO E ESTADO BABY SITTER


Ponto prévio: não sou fumador, nem tenho qualquer interesse económico ou outro em actividades agrícolas, industriais ou comerciais relacionadas com o tabaco. Adenda: mesmo que me encontrasse nalguma das situações anteriores, tal não me coibiria de me pronunciar sobre os planos anti-tabágicos do Governo: quis apenas esclarecer que não me move nenhum interesse pessoal ligado especificamente ao tabaco.

O que me incomoda crescentemente, é o Estado tratar os cidadãos como uns inimputáveis a quem é necessário proteger, aconselhar, dirigir, condicionar, proibir, obrigar, castigar, ou premiar.

O mais recente exemplo é particularmente gritante. Vejamos alguns dados adquiridos: o fumo prejudica os não-fumadores; a proibição de fumar ou de confinar o fumo em lugares fechados e públicos como hospitais, escolas, transportes, ou repartições públicas faz todo o sentido; o consumo de tabaco é legal (e sobre ele o Estado cobra impostos altíssimos); os estabelecimentos comerciais são espaços de acesso público, mas de propriedade privada, frequentados por quem o quer fazer.

Tratando-se de uma actividade lícita, de propriedade privada e de frequência voluntária, porque é que o Estado vai proibir o fumo em restaurantes ou cafés? Das duas uma, ou se vai penalizar mais uma actividade económica, ou não se vai impor o cumprimento da lei. Se houver uma significativa rejeição de cafés fumarentos, o mercado encarregar-se-á de criar espaços smoke-free, da mesma forma que surgem restaurantes italianos, japoneses e indianos, ou para quem não gosta de carne, ou só quer sopa, ou ainda para aqueles que querem comer desalmadamente sem ter de pagar o equivalente a 5 doses. Se tal não acontecer, é porque os cidadãos não estão preocupados com o fumo passivo, ou podem prescindir de uma ida ao café. Será isto assunto de estado? Obviamente que não.

Quando é que os Senhores Ministros e Secretários de Estado se dedicarão a tratar da boa governança da coisa pública e deixar espaço para os cidadãos respirarem e decidirem da sua vida? Até quando teremos de viver sujeitos ao exercício inclemente do politicamente correcto por parte dos políticos e dos media?