31 dezembro, 2006

2006: The Best and the Worst

2006: THE BEST AND THE WORST

Acabando o 2006 a recuperar de uma arreliadora gripe, não tenho tempo, nem capacidade para elencar de forma exaustiva “The Best and the Worst of 2006”. Também tenho dúvidas de que essa seja a melhor forma de abordar este assunto num Blog que se quer legível, no sentido de readable. Deixo então uma short list para os meus amigos apreciarem (ou não).
 
THE BEST


MI5






















 
O MI5, Serviços Secretos do Reino Unido figuram em 1º lugar nesta lista por dois motivos:

* Porque conseguiram, no Verão deste ano, evitar em tempo útil o que poderia ter sido a maior série de atentados terroristas da História – a explosão de vários aviões de passageiros sobre o Atlântico em ligações entre o Reino Unido e os EUA, presumivelmente salvando milhares de vidas inocentes. Sabe-se que muitas outras conspirações foram abortadas graças aos Serviços chefiados por
Dame Eliza Manningham-Buller.
* Por simbolizarem um heróico e invisível trabalho desenvolvido pelos principais serviços de segurança e contra-espionagem ocidentais e que contribuíram para que a Al-Qaeda chegue ao final de 2006 “a seco” no que respeita a grandes acções terroristas no Ocidente. Bem hajam por isso.

ITÁLIA – SQUADRA AZZURRA



 Del Piero faz o 2-0 contra a Alemanha nas meias finais.

Italianos celebram o Tetra em frente ao Il Duomo de Milano.

A Itália venceu de forma justa e inequívoca o Campeonato do Mundo de Futebol Alemanha/2006, a segunda maior competição desportiva mundial (a maior de uma só modalidade). Lippi, Pirlo, Cannavaro, Del Piero, Buffon, Matterazzi, Zambrotta, Luca Toni, Gattuso, Gilardino, Grosso. Totti, De Rossi, Iaquinta, Inzhaghi e todos os Tiffosi merecem figurar aqui.




























 

Os Gladiadores do século XXI festejam la più bella victoria!

 
CAVACO SILVA
 
Cavaco Silva na primeira visita à Armada na qualidade de Presidente da República.

Pela primeira vez desde 1976, os Portugueses elegeram um Presidente da República um candidato oriundo de um dos partidos (PSD) à direita no espectro político português e com o apoio exclusivo do PSD e do CDS.

Já autor da 1ª (e da 2ª) maioria absoluta monocolor em Portugal, Aníbal Cavaco Silva confirmou-se como um animal político talhado para grandes vitórias eleitorais, desertificando à direita para a monopolizar e conquistando ao centro esquerda para alcançar a maioria absoluta.


Com um primeiro ano de mandato dominado pelas preocupações de estabilidade política e solidariedade institucional e sem surpresas, figura aqui apenas pelo significado da sua vitória eleitoral frente a 4 (quatro) candidatos de esquerda. Mais à frente se verá se aqui volta por outras razões.

THE WORST
NPT- NUCLEAR NON-PROLIFERATION TREATY

O NPT (1968) foi ao longo de quase quatro décadas a pedra angular do esforço de não-proliferação nuclear. 2006 foi o annus horribilis do NPT: o avanço do programa nuclear do Irão, com a cobertura de Moscovo, o teste nuclear da Coreia do Norte, contando com a benevolência de Pequim e Seoul e o cada vez mais próximo reconhecimento oficial do estatuto de potência nuclear da Índia, com Washington a apadrinhar, foram pregos sucessivos bem martelados no caixão do NPT. Como é óbvio, com sponsors deste calibre, as sanções e ameaças do Conselho de Segurança da ONU à Coreia do Norte e ao Irão, tornam-se cada vez mais risíveis.


IRAQUE E SADDAM HUSSEIN



The end of the line for Saddam Hussein.

O Iraque está num estado desgraçado, pasto do selvagem sectarismo de (alguns) Sunitas e Xiitas, do terrorismo internacional, de interesses inconfessáveis de vizinhos mal-intencionados (Irão/Síria) e de um pós-guerra desastrado gerido (?!?) pelos EUA.
 
Saddam Hussein, atingiu o previsível fim da linha. Enforcado no dia 30/12/06, é a imagem forte que nos fica neste estertor final de 2006. No surprise, no mercy, no sorrow. Talvez fosse bom alguns recordarem tudo o que aconteceu no Iraque entre 1979 e 2003 para não cantarem loas ao “idílico” Iraque de Saddam Hussein.


PORTUGAL - GOVERNO E OPOSIÇÃO

Entalados entre um Governo que faz o contrário do que prometeu e aumenta a ingerência do Estado na vida do cidadão e uma oposição amorfa (PSD), ou em processo autofágico (CDS), os Portugueses terminam mais um ano de sacrifícios, sem vislumbrar perspectivas de um futuro melhor. O surto consumista deste Natal, faz lembrar o Titanic a ir ao fundo com a orquestra a tocar!
in “Diário de Notícias”

Com os melhores e os piores, desejo a todos os leitores do “Tempos Interessantes” um 2007 pleno de felicidade, saúde e realizações pessoais. And may you live in Interesting Times!

Rui Miguel Ribeiro

27 dezembro, 2006

10-0

10-0


Simão festeja com Nuno Gomes e Nuno Assis o 1-0.

O Benfica tem sido intratável no Estádio da Luz nesta época: 7 vitórias em 7 jogos para o Campeonato e 10 vitórias em 11 jogos oficiais.

Mesmo assim, é com particular satisfação que eu e o Afonso registamos um score particular de 3 jogos, 3 vitórias e 10-0 em golos! Depois de 3-0 ao Áustria de Viena e outra vez 3-0 ao Celtic Glasgow, tivemos uma prenda de Natal sob a forma de 4-0 ao Belenenses.

A jogar bem, a marcar golos e a ganhar, talvez ainda voltemos à Luz mais um par de vezes esta época…Assim vale a pena!


Kikin Fonseca estreia-se a marcar pelo Benfica, fazendo o 3-0 contra o Belenenses.
in http://www.slbenfica.pt/  

P.S. O Post anterior de “Tempos Interessantes” foi o 100º do Blog. A um número marcante, correspondeu O evento mais relevante: o NATAL. Feliz coincidência, que não quis deixar de sublinhar.

24 dezembro, 2006

Feliz e Santo Natal

FELIZ E SANTO NATAL
REMBRANDT – The Holy Family At Night – Rijksmuseum, Amsterdam

Desejo a todos os leitores e frequentadores do “Tempos Interessantes” um Santo e Feliz Natal, na companhia dos que mais amam, com todo o conforto e na Paz do Senhor.

Rui Miguel Ribeiro

21 dezembro, 2006

One Million Dollar Report

ONE MILLION DOLLARS REPORT
 




















 
in International Crisis Group

Os Estados Unidos e o mundo viveram, no que concerne o Iraque, suspensos do famigerado Relatório do Iraq Study Group, liderado por James Baker e Lee Hamilton. Ao longo de 8 ansiosos e intermináveis meses, respaldados num orçamento de US$ 1 milhão, foram ao Iraque, falaram com George Bush e Tony Blair, reuniram dezenas de vezes, a situação no Iraque foi-se agravando, os EUA tiveram eleições, o Médio Oriente continuou no seu perpétuo estado de agitação, houve uma pequena guerra no Líbano, o petróleo subiu ao pico e começou a descer… e a comissão deliberava.

Como acontece frequentemente quando a expectativa sobe demasiado, o resultado tende a ser um pouco pífio. Já em Dezembro, da bruma saiu, não o poderoso Nabucodonosor de Verdi (Nebuchadnezzar II da Babilónia) em estilo sebastiânico, mas um longo relatório, que pouco acrescenta de novo e que deverá ter um efeito prático residual. E o que se sabia é que:

1- Não há soluções tipo pudim instantâneo para o Iraque.
2- A resolução dos confrontos sectários intra-iraquianos passam fundamentalmente pelos próprios Iraquianos.
3- A retirada das tropas da Coligação, mormente as dos EUA, lançarão, com toda a probabilidade, o país no caos.
4- Algo precisa de ser mudado.

O Iraq Study Group (ISG) propõe 79 medidas. Duas das mais emblemáticas estão erradas e, tudo o indica, não vão ser aplicadas pela Administração Norte-Americana: a gradual mas vincada redução das tropas combatentes do Iraque e o estabelecimento de conversações com o Irão e a Síria.

O anúncio de um calendário de retirada, seja ele formal ou subsumido, teria um efeito muito próximo do supra-enunciado no ponto 3. Sabedores que as tropas dos EUA estão em via de ir embora, as diversas facções ou grupos armados preparar-se-iam para, a partir desse dia, levar às últimas consequências os ajustes de contas, as lutas pelo controle de parcelas do território e a expulsão ou extermínio de populações de etnia e/ou religião diferente da sua, das zonas por si controladas. Por outras palavras, é impraticável no curto prazo.

Negociar com o Irão e a Síria nos termos e âmbito propostos, seria humilhante para os EUA, penalizador e inaceitável para Israel, reforçaria a hegemonia que Teerão tenta afirmar no Médio Oriente e, pior ainda, não produziria resultados. Isto porque, na actual conjuntura, o que Iranianos e Sírios tentariam extorquir de Washington não lhes poderia ser dado por George W. Bush – hegemonia regional e programa nuclear para Teerão, Montes Golan e Líbano para Damasco. Finalmente, porque, havendo interferência externa no Iraque, na actual conjuntura, nem que o Irão e a Síria colaborassem de boa fé, não teriam o poder de estancar a violência no Iraque, pois esta tem vindo a perder carácter exógeno e a ganhar contornos endógenos cada vez mais nítidos.

A melhor alternativa que se prefigura, passa por tentar aumentar a presença militar dos EUA no Iraque, mesmo que por pouco tempo, para aumentar a capacidade de conter/bater os grupos armados, acelerar ainda mais o treino das forças militares e de segurança iraquianas, garantir que o Governo de Bagdad combata as milícias armadas com mão de ferro (esta não é fácil) e intensificar os investimentos e os esforços tendentes a caminhar para normalização económica do país.

É uma via estreita e sem nenhuma certeza de sucesso, mas parece-me francamente melhor, em termos de probabilidade de sucesso do que o Relatório do ISG.

P.S. E podem ter a certeza de que demoraria menos do que 8 meses e cobraria menos de US$ 1.000.000!



19 dezembro, 2006

Europa e África


EUROPA E ÁFRICA

Portugal tem insistido frequentemente na realização de Cimeiras Europa-África, ou melhor, UE-UA. Este ano, o Governo Português porfiou para conseguir essa realização durante o 2º semestre de 2007, durante a Presidência Portuguesa da EU. Esta semana conseguiu-o: a Cimeira terá lugar em Lisboa.

Um dos obstáculos à realização do evento foi a resistência que alguns Estados-Membros, mormente o Reino Unido, puseram à participação de Robert Mugabe, Presidente vitalício do Zimbabwe.

Aliás, a União Europeia tem uma posição comum, que terá de alterar, que veda tais convites a tal criatura. O problema é que vários países africanos não participarão se Mugabe for excluído “em nome da solidariedade entre Africanos.” (DN, 16/12/06; p. 12) Duas notas:


1- EUROPA: Lá se vai a suposta “superioridade” moral dos Europeus; para conseguir realizar uma cimeira, provavelmente inconsequente, tem de ceder aos caprichos de alguns dirigentes africanos e receber um ditador assassino, cleptocrata e racista. É claro que se se tratasse de Pinochet, Alexander Lukashenko, ou Jorg Haider, haveria um tsunami político-mediático condenando a atitude imoral dos líderes europeus. Se for Mugabe ou Fidel Castro, tudo corre bem, pertencem à turma de ditadores aceites pela intelligentsia europeia. Pior ainda, é que além de Mugabe, virá mais uma clique de ditadores mais ou menos sanguinários, mas que nem da lista negra constam.

2- ÁFRICA: “Solidariedade entre Africanos”?!? Seria verdadeiramente hilariante se não fosse tão trágico. Solidariedade entre Sudaneses? Entre Hutus e Tutsis no Ruanda e no Burundi? Entre o Ruanda e o Congo? Entre a Etiópia, a Eritreia e a Somália? Entre Marrocos e a Argélia? Entre o Uganda e a Tanzânia? Entre o Sudão e o Chade? Entre Nigerianos? Entre Liberianos? Na Serra Leoa, ou na Costa do Marfim? Entre a Guiné-Bissau e o Senegal? É claro que alguns dos “solidários” também não terão grande moral para condenar Mugabe, mas isso só vem agravar o problema.

Pelo menos que a Cimeira sirva para deixar cair a máscara de que a UE e/ou os seus Estados-Membros não praticam a Real Politik. Desde que haja interesses envolvidos, nem que seja o da mera vaidade e prestígio de organizar uma grande cimeira internacional, guarda-se os princípios na gaveta por uns dias. It’s business as usual.

11 dezembro, 2006

"Portugal Merece Melhor"

“PORTUGAL MERECE MELHOR”

Portugal padece de um mal comum a muitas democracias: uma ausência de reais políticas alternativas. Os principais partidos têm uma vincada diferença histórica e programática, mas o dito pragmatismo e a luta desenfreada pelo centro político, fazem com que não tenham muito mais do que nuances de direita ou de esquerda.

Conquistado o poder, frequentemente as grandes linhas de acção conhecem vários pontos em comum, havendo casos, como no Reino Unido com o Labour de Tony Blair e em Portugal com o PS de José Sócrates, em que os partidos vencedores se apropriam de algumas bandeiras características dos seus adversários, assim retirando-lhes uma parte da respectiva base de apoio.

Neste tipo de cenários, o papel da oposição alternativa ao governo torna-se mais complicado do que o normal, pois a gradual confluência da praxis política estreita o espaço para a crítica, retira credibilidade aos ataques à acção governativa e, à falta de uma real e completa alternativa, confina o exercício da oposição ao trivial, ao acessório, ao fait-divers. Por outras palavras, aniquila-a.

Daí, alguns terem concluído que o poder não se ganha, mas sim que se perde. Não deixando de ser, por vezes, verdade, esta convicção conduz à prostração e passividade políticas, tornando-se o líder de oposição bem sucedido aquele que, pelo timing em que exerce o cargo, ou pela tenacidade com que a ele se agarra, se encontra nessa posição quando o poder efectiva e eventualmente, cai de podre.

Foi por recusar este estado de resignação, foi por ter alergia a este síndroma do politicamente correcto que assola as democracias europeias do nosso tempo e que conduz a uma crescente igualdade de políticas, foi por ter consciência que a democracia definha à falta de reais e credíveis alternativas, que no simbólico dia 1 de Dezembro, fui a Gaia participar no almoço realizado sob o lema “Portugal Merece Melhor”.

O slogan foi bem achado e é difícil não concordar com ele. Eu também apreciei a extraordinária mobilização (perto de 3000 pessoas) num período amorfo de militância político-partidária, o profissionalismo com que o evento foi organizado que o assemelhou à apresentação de um candidato a Primeiro-Ministro e, principalmente, o conteúdo das intervenções, nas quais foi feita uma real e implacável oposição ao governo do PS e se adiantaram algumas alternativas substantivas e não meramente retóricas ou cosméticas.

Luís Filipe Menezes está de parabéns. Contudo, como médico, saberá melhor do que eu que a última coisa que um doente em situação difícil precisa é de falsas esperanças; o fatal regresso à realidade coloca-o num estado de desespero e desesperança superior ao anterior. A sua responsabilidade é demonstrar ao paciente, até 2009 e nos quatro anos seguintes (se for caso disso), que tem efectivamente receitas e remédios diferentes e mais eficazes para Portugal do que aqueles que nos têm sido apresentados. Para bem de todos, desejo-lhe muito boa sorte, engenho e arte.