DRUMS OF WAR? I
You
can hear the drums of war over Syria loud and clear. Interestingly, I had never
heard such hesitant and reluctant war drummers. Will they shut the drums? Or
will they fire the guns?
Poucas vezes fui tão instado a escrever sobre um assunto como
agora, sobre o prospectivo ataque à Síria. No fundo, tal curiosidade reflecte a
ansiedade que a guerra provoca. Desejada ou repudiada,
mesmo geograficamente distante, sem qualquer envolvimento de Portugal, é
difícil ignorar o receio, o impacto, as consequências previstas ou insuspeitas,
a excitação, a emoção, a gravidade, as baixas, o sangue derramado, que a guerra
sempre provoca. E, é claro, a suprema expectativa quanto ao desfecho.
A minha posição sobre um ataque ocidental à Síria já foi
sobejamente exposto em Tempos Interessantes.1
Sou contra. Resumidamente, sou contra por dois motivos fundamentais:
1- Entendo que não
existe um significativo interesse nacional, seja dos Estados Unidos, do Reino
Unido, da França, ou de qualquer outro país ocidental, em jogo na Guerra Civil
da Síria.
2- Acho que as
forças que se arregimentam contra o regime não são, genericamente recomendáveis,
as mais organizadas e eficazes são islamitas radicais, algumas pertencentes à
Al Qaeda; e ter a pretensão de que do seu triunfo resulte um país democrata e
liberal só pode ser fruto de ignorância, delírio, ou de interesses obscuros.
Estão em causa duas realidades neste clamor guerreiro:
A primeira é a
pressão constante que a maioria da intelligentsia norte-americana e alguns
destacados congressistas de ambos os partidos têm exercido sobre Barack Obama
para que este intervenha militarmente na Síria. Curiosamente este grupo que
domina a opinião publicada/transmitida nos media, junta a ala intervencionista
do Partido Republicano, com a esquerda internacionalista do Partido Democrata.
Em comum, têm a crença obstinada que a política externa e militar dos EUA deve
ser guiada por princípios morais (os deles, bem entendido) e que isso inclui,
primordialmente, atacar, derrubar e substituir os regimes de que não gostam.
Além de errado, é perigoso e impraticável, mas o certo é que este grupo de
iluminados tem palco e não fala de outra coisa senão de atacar a Síria há mais
de 2 anos.
A segunda foi o
estabelecimento de uma red line pelo Presidente Obama no ano passado, que
determinava o uso de armas químicas como despoletador de uma acção armada pelos
EUA: “A red line for us is we start seeing
a whole bunch of chemical weapons moving around or being utilized.”2 Obama claramente pensava que dessa forma passava uma imagem de
força para consumo interno e externo, sem correr riscos, dado que não seria
verosímil que Assad infringisse a única red line de Washington.
Somando as duas realidades, o resultado é uma pressão
avassaladora para intervir, acrescida de pressões
externas advindas principalmente do Reino Unido, da França, da Arábia Saudita,
do Qatar e da Turquia.
Tal como aconteceu na Guerra da Líbia, Obama vai cedendo
à pressão. E tal como na Líbia, ao mesmo tempo que faz soar os tambores da
guerra, vai recorrendo a manobras pouco claras: primeiro exige uma inspecção da
ONU; quando ela é aceite pela Síria, diz que já é tarde e que os seus
resultados não serão válidos. Em vez de denunciar porque é que os resultados
não serão válidos, anuncia as suas próprias provas “irrefutáveis”, com números
exactos das vítimas; com um pouco de sorte, a NSA terá os nomes, nº de
telefone e endereços postal e electrónico das vítimas. Não aguarda pelo
regresso da equipa da ONU que, curiosamente, segundo a Reuters e a Agence
France Press terá abandonado mais cedo a Síria com receio de um ataque
norte-americano.
O cerco aero-naval à Síria aperta-se.
Enfim, os EUA já têm o pretexto, a narrativa e o cardápio
de opções militares. Aparentemente, Obama já só se debate com dois problemas:
* Dar
um aspecto de legitimidade interna e externa à intervenção.
* Escolher a modalidade de ataque que pareça punitivo,
mas que exponha o menos possível os EUA.
Em relação à primeira, tal como na Guerra da Líbia,
Obama recusa-se a ir ao Congresso obter o apoio parlamentar para a guerra, algo
que, ironicamente, o seu vilipendiado antecessor, George W. Bush, fez e
conseguiu, quer para a Guerra do Afeganistão, quer para a Guerra do Iraque. Na
frente externa, o Conselho de Segurança parece estar bloqueado. Comme d’habitude,
nestes assuntos.
Em relação à segunda, Obama contorce-se entre a vontade
de se envolver o menos possível (hit and run) e a necessidade de fazer algo de
credível, sob pena de se ridicularizar.
De mãos atadas por terceiros e num beco sem saída por
sua própria iniciativa, a Obama falta-lhe a coligação, o mandato, o plano, a
racional estratégica para o ataque e a vontade. Tem o pretexto e os tambores quand
même.
1- Ver:
Amuos de Washington com
Moscovo em
Síria: A Guerra Está
Para Durar em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2013/07/siria-guerra-esta-para-durar.html
Intervir ou Não
Intervir em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2013/06/intervir-ou-nao-intervir.html
The
Friends of Assad
em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2013/05/the-friends-of-assad.html
The
Friends of Syria
em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2013/05/the-friends-of-syria.html
A Estrada de Damasco em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2012/07/estrada-de-damasco.html
Líbia, Síria, EUA, e Rússia em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2012/04/libia-siria-eua-e-russia-osflash-points.html
2- “Uma
linha vermelha, para nós, é quando começarmos a ver um monte de armas químicas
a ser movimentadas ou utilizadas”. A forma aligeirada, para não dizer
bacoca, como Obama aborda esta questão, diz bastante sobre a forma pouco
consciente e responsável como ele estabeleceu a red line que hoje o persegue.
Então a expressão “a whole bunch” (um monte de), é uma preciosidade de precisão
métrica e de elevação retórica!