ROUHANI: O IRANIANO MODERADO?
Hassan Rouhani, Presidente do Irão.
Há 6 meses
atrás, quando a triagem do Conselho dos Guardiães reduziu a hoste de candidatos
a candidatos presidenciais no Irão a 5, os media ocidentais criticaram
acerbamente a exclusão dos moderados e a aprovação de 5 conservadores.
Volvidos dois
meses, durante a campanha eleitoral, os mesmos media reviam a sua triagem e ficamos com 3 conservadores da linha dura e dois conservadores
moderados, sendo que estes estavam condenados a perder.
Contados os
votos, um destes ganhou: Hassan Rouhani. A imprensa ocidental exultou e completou a acelerada evolução da rotulagem
de Rouhani: conservador em Março, conservador moderado em Junho, moderado em
Agosto. A este ritmo, sabe Deus o que ele será em Novembro….
Os leitores de
Tempos
Interessantes sabem o que eu penso destas excitações (seguidas de
depressões) dos media (“Wishful Thinking”
em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2013/08/wishful-thinking.html
), mas realmente os primeiros sinais parecem animadores.
O que podemos esperar
de Rouhani?
Começo pelo que não
podemos esperar: que Rouhani
rompa com a linha condutora da política interna e externa do Irão. Hassan
Rouhani pertence ao establishment há
mais de 30 anos e não se manteve e ascendeu no aparelho do Estado Iraniano por
ser um revolucionário. Ou seja, o que se
pode esperar ele é que actue dentro dos limites estabelecidos pelo poder último
do Irão, o Supremo Líder, Ayatollah Ali Khameney.
Posto isto, vai ficar
tudo igual?
Não. Há dois factores
que empurram o Irão para uma atitude
mais conciliadora e disponível
para negociações substantivas que efectivamente terminem o longo período de
tensão e conflito. São eles:
1- As sanções
económicas que estão a exaurir o
Irão e que poderão a médio prazo pôr o próprio regime em cheque. Tal ainda não
aconteceu porque os Iranianos vivem sob alguma forma de sanções e boicotes
desde 1979 e portanto habituaram-se e adaptaram-se, vivendo com menos e
aprendendo a contorná-los. Contudo, os sucessivos agravamentos do regime de
sanções impostos desde 2006 têm feito mossa, nomeadamente no sector vital dos
hidrocarbonetos (petróleo e gás natural), e a situação tem-se deteriorado e tende
a piorar. Voltar a ter uma relação económica normal com o mundo em geral e com
o Ocidente em particular, tornou-se mais do que uma prioridade, uma necessidade
imperativa.
2- O programa nuclear, principal fonte de discórdia, progrediu de forma notável
nos últimos anos, malgrado as sanções e as sabotagens. Após mais de 20 anos
de aprendizagem e crescimento, o Irão
não estará longe da bomba. Creio que nesta altura tal dependerá mais da
vontade da liderança iraniana do que da capacidade técnico-científica. Assim
sendo, mesmo que o Irão suspenda parte
do seu programa nuclear e desmantele outra, o breakout nuclear estará sempre à distância de uma decisão política
e de alguns meses.
Resumindo, o
Irão precisa urgentemente de terminar ou atenuar as sanções para não entrar em
rotura económica. Por outro lado, sente que pode ter atingido um estádio de
evolução no nuclear que lhe permita fazer as cedências de que o Ocidente também
precisa desesperadamente, sem hipotecar as suas opções futuras relativamente ao
nuclear.
Esta mudança
táctica de Teerão não era possível com Mahmoud Ahmadinejad, cujo radicalismo
retórico em relação aos EUA e a Israel e estilo troglodita disparando ameaças e
dislates em várias direcções inviabilizavam a nova abordagem. Terminado o mandato
de Ahmadinejad, a estrutura de poder em Teerão e Qom (sede do poder religioso),
substituiu o lobo pelo cordeiro. As
promessas gritadas de aniquilamento de Israel deram lugar a uma conversa
conciliadora num tom calmo e tranquilizador. Aqui temos o Rouhani provável e
mais credível.
Contudo, mesmo
neste enquadramento, as negociações não serão fáceis e o que se pode esperar do
Irão e de Rouhani é que dê sempre menos do que aquilo que está a receber, como
se viu nos discursos da Assembleia Geral da ONU. Moderado ou não, Rouhani é Presidente do Irão e ainda tem de prestar
contas a Khameney; não vai por isso chegar à mesa de negociações humildemente
de chapéu na mão. Pelo contrário, quem evidencia maior ânsia em chegar a um
acordo são os Estados Unidos. Os Iranianos de todas as estirpes (moderados,
conservadores, liberais, militaristas, teocráticos ou socialistas) agradecem.