DELÍRIO EM BAGDAD
Já se sabia que Hitler tinha passado uma boa parte dos seus últimos dias a congeminar planos de contra-ataque da Wehrmacht Alemã e de renascimento do III Reich, quando o Exército Vermelho já estava às portas de Berlim e os Exércitos dos Estados Unidos e do Reino Unido já tinham atravessado o Elba. Esses momentos finais do desvario nazi são exemplarmente retratados no filme “Der Untergang” (“The Downfall”).
Agora ficou a saber-se que os últimos dias de Saddam Hussein no poder tiveram semelhanças notáveis com os do Fuehrer. Rodeado de um círculo de políticos e militares apavorados com a perspectiva de ter de dar más notícias ao líder (em 1982 um Ministro da Saúde foi esquartejado por sugerir que Saddam se devia afastar temporariamente para o Iraque poder fazer a paz com o Irão), o “Senhor de Bagdad” viveu na ilusão de que as tropas dos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália podiam ser detidas e que ele poderia permanecer no poder.
O US Joint Forces Command (USJFCOM) encomendou um trabalho sobre o funcionamento do regime iraquiano antes e durante a guerra. Com acesso a centenas de milhares de documentos e entrevistando dezenas de antigos líderes político e militares, os autores escreveram um extenso relatório, que foi parcialmente disponibilizado no mês passado. A revista Foreign Affairs publica um resumo de 12 páginas na sua edição de Maio/Junho 2006, mas que já está disponível online.
Este trabalho permite confirmar que Saddam Hussein contava com a simpatia da França e da Rússia (leia-se os milhões de Dólares de lucrativos negócios que os dois países tinham com o Iraque) para travar os ímpetos belicosos de Washington e de Londres ou, pelo menos, para pressionar para o final das hostilidades antes que as tropas da coligação liquidassem o regime. Diga-se que a complacência de Paris e de Moscovo para com Saddam já era sobejamente conhecida.
Saddam Hussein também caiu noutro pecadilho recorrente dos regimes opressivos: a estrutura militar e de segurança estava mais orientada para a prevenção de ameaças internas (revoltas de Curdos no Norte ou de Xiitas no Sul, golpes de estado) do que para as funções primordiais de umas forças armadas: fazer a guerra. Já as forças anglo-saxónicas rompiam pelo Iraque e Saddam ainda se preocupava com eventuais rebeliões internas, porventura pensando que a Guerra de 2003 ia ser como a Guerra do Golfo de 1991: os Aliados pararam muito antes de chegarem a Bagdad e Saddam reprimiu com violência as revoltas internas que se seguiram. Enganou-se.
Engano é, aliás, pouco para descrever o que se passava na liderança iraquiana. O impagável Ministro da Informação do Iraque, Muhammed Al-Sahaf que tanto nos divertiu durante a Guerra com as suas bazófias e proclamações de vitória não era, afinal, um caso isolado de alucinação ou de comédia. A liderança iraquiana acreditava que os EUA estavam em sérias dificuldades, o que só se pode explicar ou por loucura, ou pelo pavor que os comandos militares tinham em transmitir relatórios verdadeiros. Com os carros de combate americanos a cerca de 160km da capital, o governo iraquiano transmitia a Moscovo, Paris e Pequim a sua disponibilidade para aceitar a retirada incondicional das tropas da Coligação do Iraque!
Na Primavera de 2003, o delírio em Bagdad era colectivo, e começava no próprio Saddam Hussein.
Já se sabia que Hitler tinha passado uma boa parte dos seus últimos dias a congeminar planos de contra-ataque da Wehrmacht Alemã e de renascimento do III Reich, quando o Exército Vermelho já estava às portas de Berlim e os Exércitos dos Estados Unidos e do Reino Unido já tinham atravessado o Elba. Esses momentos finais do desvario nazi são exemplarmente retratados no filme “Der Untergang” (“The Downfall”).
Agora ficou a saber-se que os últimos dias de Saddam Hussein no poder tiveram semelhanças notáveis com os do Fuehrer. Rodeado de um círculo de políticos e militares apavorados com a perspectiva de ter de dar más notícias ao líder (em 1982 um Ministro da Saúde foi esquartejado por sugerir que Saddam se devia afastar temporariamente para o Iraque poder fazer a paz com o Irão), o “Senhor de Bagdad” viveu na ilusão de que as tropas dos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália podiam ser detidas e que ele poderia permanecer no poder.
O US Joint Forces Command (USJFCOM) encomendou um trabalho sobre o funcionamento do regime iraquiano antes e durante a guerra. Com acesso a centenas de milhares de documentos e entrevistando dezenas de antigos líderes político e militares, os autores escreveram um extenso relatório, que foi parcialmente disponibilizado no mês passado. A revista Foreign Affairs publica um resumo de 12 páginas na sua edição de Maio/Junho 2006, mas que já está disponível online.
Este trabalho permite confirmar que Saddam Hussein contava com a simpatia da França e da Rússia (leia-se os milhões de Dólares de lucrativos negócios que os dois países tinham com o Iraque) para travar os ímpetos belicosos de Washington e de Londres ou, pelo menos, para pressionar para o final das hostilidades antes que as tropas da coligação liquidassem o regime. Diga-se que a complacência de Paris e de Moscovo para com Saddam já era sobejamente conhecida.
Saddam Hussein também caiu noutro pecadilho recorrente dos regimes opressivos: a estrutura militar e de segurança estava mais orientada para a prevenção de ameaças internas (revoltas de Curdos no Norte ou de Xiitas no Sul, golpes de estado) do que para as funções primordiais de umas forças armadas: fazer a guerra. Já as forças anglo-saxónicas rompiam pelo Iraque e Saddam ainda se preocupava com eventuais rebeliões internas, porventura pensando que a Guerra de 2003 ia ser como a Guerra do Golfo de 1991: os Aliados pararam muito antes de chegarem a Bagdad e Saddam reprimiu com violência as revoltas internas que se seguiram. Enganou-se.
Engano é, aliás, pouco para descrever o que se passava na liderança iraquiana. O impagável Ministro da Informação do Iraque, Muhammed Al-Sahaf que tanto nos divertiu durante a Guerra com as suas bazófias e proclamações de vitória não era, afinal, um caso isolado de alucinação ou de comédia. A liderança iraquiana acreditava que os EUA estavam em sérias dificuldades, o que só se pode explicar ou por loucura, ou pelo pavor que os comandos militares tinham em transmitir relatórios verdadeiros. Com os carros de combate americanos a cerca de 160km da capital, o governo iraquiano transmitia a Moscovo, Paris e Pequim a sua disponibilidade para aceitar a retirada incondicional das tropas da Coligação do Iraque!
Na Primavera de 2003, o delírio em Bagdad era colectivo, e começava no próprio Saddam Hussein.