04 março, 2006

Cobardia e Apaziguamento

COBARDIA E APAZIGUAMENTO


É vulgar dizer-se que toda a gente muda. O Dr. Mário Soares, na altura Primeiro-Ministro, chegou a dizer que só os burros é não mudavam. Mesmo dando de barato que tal seja verdade, certo é que uma pessoa mudar é uma coisa, transfigurar-se é outra bem diferente. E o Prof. Freitas do Amaral, homem político transfigurou-se: saltou de um posicionamento democrata-cristão tendencialmente conservador para um esquerdismo militante que o levou a dançar nas ruas com Soares, Carvalhas e Louçã. Até trocou a pose de estadista soturno por um estilo truculento e trauliteiro. Mas, enfim, cada um dança com quem lhe apraz.

O que me incomoda é o facto de a pessoa em causa ser o Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal. E incomoda-me profundamente por vários motivos: porque o revoltam umas caricaturas de Maomé publicadas num jornal dinamarquês; porque não foi capaz de condenar de forma veemente os ataques a instalações diplomáticas de países amigos e aliados de Portugal como a Dinamarca e a Noruega; porque não percebeu (ou fingiu não perceber) que grande parte das manifestações de rua em Teerão, Damasco e outras cidades do Médio Oriente eram orquestradas e apadrinhadas pelos respectivos governos que tinham interesse em desviar a atenção das respectivas populações de outros problemas bem mais graves; porque, passadas umas semanas, continua a laborar no mesmo erro; porque menorizou a questão central da liberdade de expressão, pedra de toque das democracias ocidentais desde a Glorious Revolution de 1689 em Inglaterra; porque revelou cobardia ao solidarizar-se com os que respondiam às caricaturas à pedrada e com ameaças de morte e ao condenar a parte mais frágil, cujo pecado foi o de desenhar e publicar umas sátiras.

Finalmente, incomoda-me a tibieza com que as democracias europeias lidam com quem as ameaça, pressiona e violenta. O espírito de Munique de 1938 já nos devia ter mostrado sobejamente os limites e os riscos do apaziguamento.

2 comentários:

Diogo Mendes Silva disse...

De facto, a postura do Ministro dos Negócios Estrangeiros não tem sido a melhor. Prova disso são as suas declarações que só receberam o apoio do Embaixador do Irão, o que é preocupante. É inaceitável que um homem com a experiência e o curriculum de Freitas do Amaral, tenha este tipo de comportamento.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Nem mais.