ALLEZ Y SARKOZY!
Nicolas Sarkozy e Tony Blair em 10 Downing Street. Um sinal de mudança?
Como se esperava e como eu desejava, Nicolas Sarkozy ganhou as duas voltas das Eleições Presidenciais Francesas e sucedeu a Jacques Chirac no Elysée.
São boas notícias.
Em primeiro lugar, significou o (penoso) fim da linha para Jacques Chirac, um embaraço e um contra-peso económico, social e político para a França que crescia a cada mês que passava.
Em segundo lugar, foi a derrota da extrema direita de Jean-Marie Le Pen que não percebeu que o êxito de 2002 era o timing para a reforma política em alta; assim, sai pela direita baixa. Foi a derrota do centrismo oportunista de Bayrou que tentou captar os votantes que não suportavam Sarkozy e que não eram capazes de votar no PSF; a primeira volta deu-lhe uma vitória pírrica – teve 18% dos votos que a segunda volta provou que “não eram dele”, mas sim do bloco político da direita UMP(RPR)/UDF, cujo representante era Sarkozy.
Foi, finalmente, a derrota da esquerda elegante, bem apresentada, visualmente atraente, mas vazia de ideias, projecto e coerência. Acredito que a boa aparência de Ségolène Royal tenha conseguido alcançar um resultado superior ao que os seus estafados adversários no PSF conseguiriam, mas a vacuidade e o anti-Sarkozismo primário têm um limite e este fica abaixo dos 50% (47%). Infelizmente, Ségolène nem a elegância conseguiu manter quando a derrota se avizinhava, optando por um discurso agressivo e até mal educado no debate televisivo com Sarkozy. Podia ter-nos deixado um sorriso simpático, mesmo que fosse de plástico, optou por deixar um azedume de vinegrette fora de prazo.
Em terceiro lugar, last but not least, os Franceses elegeram o único candidato que dava uma esperança de ser diferente para melhor que os seus três antecessores: tem um projecto reformador, porque percebeu que a França está, em muitas áreas, desfazada da realidade sócio-económica do século XXI, que o peso económico da França é cada vez menor, que a sua influência e peso políticos na Europa e no mundo é uma fracção do que era há 30 anos, que o seu PIB p/c foi ultrapassado, entre outros, pelo Reino Unido e pela Irlanda. Sarkozy percebeu também que este estado de coisas não se ultrapassa com paninhos quentes e contemporizações e muito menos com um poder refém das ruas, do Maio de 68, da CGT congelada em 1970, dos bloqueios rodoviários dos agricultores com os seus tractores e dos motoristas com os seus camiões, dos estudantes que confundem idealismo com violência e das banlieues e da sua “escumalha” incendiária.
Menor carga fiscal, mais liberalismo económico, maior flexibilidade laboral e menor peso estatal são alguns dos objectivos de Sarkozy e requisitos para que possa ter sucesso.
Na política externa, uma maior abertura ao Reino Unido e uma diminuição drástica dos tiques anti-americanos, a concretizarem-se, só farão bem à França e ao Ocidente. Um sinal positivo nesta área seria um envolvimento mais sério e empenhado de Paris com a NATO no Afeganistão.
Allez-y Sarkozy! Tira a França do torpor e trá-la para o século XXI.
P.S. Como não há bela sem senão, as visitas imediatas a Berlim e a Bruxelas e o empenho em fazer um mini-Tratado Europeu e subtrai-lo ao julgamento de novo referendo poderá representar uma traição à vontade do eleitorado e ter um preço pouco simpático. No entanto, se for bem sucedido na Renaissance de la France, não sedrá isso que travará em 2012.