(WO)MAN OF THE YEAR 2012:
ANGELA MERKEL
TEMPOS INTERESSANTES’
(WO)MAN OF THE YEAR 2012
Haverá muitos leitores surpreendidos com a escolha de Angela Merkel como
(Wo)Man of the Year 2012 para o “Tempos Interessantes”, dado que ela foi alvo
de duras críticas e de vários posts*
negativos neste blog ao longo do ano.
Porém, esta selecção não se pauta necessariamente pela simpatia granjeada
pelo nomeado, mas sim pelo seu destaque e pelo seu mérito no ano que finda.
Assim sendo, mantenho que Angela Merkel tem um papel malfazejo sobre países
como Portugal, Grécia, Irlanda, ou Espanha.
Não obstante,
entendo que Angela Merkel promoveu e defendeu os interesses da Alemanha no
teatro europeu, consolidando de forma significativa o seu poder e liderança no
continente. Sendo ela Chanceler Federal da Alemanha e eleita para defender os
interesses alemães, considero que foi bem sucedida.
Actualmente a Alemanha domina a maior parte da Europa a seu bel-prazer e
as principais razões têm a ver com a vulnerabilidade económica e fragilidade
política da Europa Meridional e também de parte da Europa Central; com a crise
financeira que se arrasta há 4 anos; e com a política desenvolvida por Angela
Merkel.
O mais recente relatório de actividades da Alemanha é deveras impressionante:
·
Conseguiu impor o pacto fiscal.
·
Conseguiu restringir o campo de acção do futuro regulador bancário
europeu, deixando de fora a maioria dos bancos germânicos.
·
Travou todos os esforços para mutualizar a dívida dos Estados Europeus.
·
Conseguiu colocar no poder em
Roma e em Atenas chefes de governo do seu agrado, contornando o normal processo
democrático.
·
Conseguiu colocar de cócoras, de chapéu
na mão e ainda por cima atentos, veneradores e obrigados, os governos de
Lisboa, Madrid e Atenas.
·
Conseguiu impor a sua receita fiscal e económica a grande parte da Europa.
·
Conseguiu impor haircuts aos
privados com créditos sobre a Grécia, sem mexer nos créditos soberanos da Alemanha.
·
Conseguiu prescindir do Eixo Franco-Alemão em termos minimamente
paritários, reduzindo Paris a pouco mais do que um ajudante de campo de Berlim.
·
Conseguiu que a Alemanha atravessasse a crise financeira mantendo o
crescimento económico e a forte vertente exportadora, assim reforçando o papel
de líder económico incontestado da Europa.
·
Conseguiu, em suma, afirmar a Alemanha como líder incontestada da Europa
Continental, não só no plano económico, como no plano político.
67 anos volvidos da derrota esmagadora na II Guerra Mundial e
correspondente destruição, seguidos de 45 anos de divisão forçada e perda
substancial de soberania e apenas 22 anos após a Reunificação, a Alemanha
afirma-se novamente como potência imperial na Europa.
Não se trata obviamente de uma reedição literal do III Reich, mas é um
facto que a Alemanha domina o processo de decisão económico-financeiro e também
o político na Europa. Há países que se tornaram dependentes e subservientes da
Alemanha, cujos governantes se deslocam a Berlim em busca da bênção, do apoio,
ou da orientação. Outros há, que esperam a tomada de posição da Alemanha para
tomarem a sua, que é quase sempre a mesma. As tradicionais potências europeias,
como a França e a Itália, foram decapitadas de autonomia e vontade própria, não
conseguindo arregimentar a coragem e a determinação para enfrentar o gigante
germânico.
Confesso que chego a pensar se a Guerra da Líbia em 2011 não terá sido,
também, uma tentativa desesperada de Paris para demonstrar as fraquezas e
vulnerabilidades da Alemanha. Se foi,
conseguiu e…falhou. Conseguiu provar o que já se sabia: as limitações
militares da Alemanha contemporânea comparadas com as capacidades da França e
do Reino Unidos. Falhou, porque a
Guerra na Líbia não era vital, nem sequer importante, para o Ocidente e, como
tal, tudo ficou igual na Europa quando os combates cessaram. Não existiu na
Europa a percepção tangível da importância próxima do poder militar, pelo que o
poder de Berlim continuou a ser mais relevante do que o de Paris ou de Londres.
Após a tarefa
ousada e hercúlea da Reunificação lançada por Helmut Kohl, podemos ver na
recriação da Alemanha como a Mittel Europa (a Europa do Meio) a conclusão
lógica do processo de reconstrução da potência continental historicamente dominante
na Europa.
Angela Merkel: Kaiserin da Alemanha, líder da Europa.
in “The
Economist”
Curiosamente,
a renovada preponderância geopolítica da Alemanha é euro-cêntrica, isto é, não
tem ainda uma dimensão global; resume-se à Europa. Há
duas razões para tal: por lado, penso que a Alemanha não tem de momento esse
tipo de ambição, preferindo consolidar a sua hegemonia na Europa; por outro
lado, faltam-lhe argumentos para se impor numa escala mais alargada.
Haverá quem se
regozije por o Reich 4.0 ser eminentemente pacífico, porém, o cariz imperial e
dominador está presente. O esmagamento das soberanias e da
autonomia de cada um também. O recentramento da Europa em Berlim já acontece. A
ausência de Panzer, SS e campos de concentração não equivale a um sentimento de
regozijo. Não é preciso estar no epicentro do inferno para se estar
insatisfeito. Este é o grande risco que corre este Reich soft. O ressentimento
e a ocasional revolta existem. Se a crise se prolongar, vão aumentar os
protestos e os castigos eleitorais contra os comissários políticos e a demonização
da Alemanha.
Como já aqui escrevi, a crescente associação da Alemanha ao III Reich é
uma ameaça para Berlim porque pode levar outros estados europeus a rejeitarem a
Alemanha. E a Alemanha precisa dos outros como mercados e ainda não tem os Panzer
(hoje os Leopard) para esmagar as revoltas. A convicção alemã de que o seu
poder actual é totalmente benigno é falsa, porque as pessoas sentem opressão,
mesmo sem serem fisicamente agredidas.
Por agora,
contudo, o tempo é de sucesso e de abrir garrafas de champagne no Reichtag. O
domínio da Europa pela Alemanha vai crescendo e se acentuando. A resistência
britânica e mais uns pequenos focos, não põem em causa o controle sobre o
continente.
Foi um grande
ano para Angela Merkel e os Alemães concordam, conferindo-lhe uns
impressionantes 68% de popularidade. A estratégia de afirmação da Alemanha,
tirando partido das forças próprias e das fraquezas alheias num contexto de
grande crise económica foi executada com sucesso quase total. Aí
temos o IV Reich e a Kaiserina Merkel: Woman of the Year 2012!!!
* Posts anteriores com
referências relevantes a Angela Merkel:
“SIE SIND NICHT WILLKOMMEN KAISERIN” em
“ANGIE” em
“DISLATE OU PROVOCAÇÃO” em
“HERR KOMMISSAR” em
“O
LUGAR-TENENTE” em
“DEUTSCHLAND
UBER ALLES” em
“PROJECTO
EUROPEU (?)” em
“ATENTO,
VENERADOR E OBRIGADO” em
“O
EIXO” em
“DIKTAT” em