30 abril, 2012

Economist: Too Liberal, Not Democratic Enough


ECONOMIST: TOO LIBERAL,
 NOT DEMOCRATIC ENOUGH



The French picnic The Economist abhors.
(adapted from Edouard Manet’s “The Picnic”)

in “The Economist”, 31 March 2012


“The Economist” is a prestigious British journal and a staunch defender and promoter of liberty and Liberalism. I used to be a subscriber and still am a regular on-line reader.

A few reasons shifted me away from “The Economist”. The relevant one for the purposes of this post, relates to what I view as being a fundamentalist drift on the journal’s defence of its ideals.

It started by The Economist’s 2008 endorsement of Barack Obama’s candidacy for the office of President. Although the candidate espoused several views that ran counter The Economist’s convictions, especially on trade, this journal expressed its confidence that Obama would flip flop on these issues once elected. Besides this odd conviction, there was the funny detail that John McCain was not awarded the same confidence, or lack hereof.

However, it is another election that drives me to write this post: the 2012 French Presidential election. In fact, “The Economist” has run an interesting series of articles and analysis of the French political and especially economic situation, as well as the potential impact of the elections on other European states and on the euro.

The problem is that “The Economist” has fallen into trading democratic accountability, loyalty and the need for a honest relationship between the elected and the elected for the blind pursuit of its own agenda:

Many business leaders cling to the hope that a certain worldly realism will emerge. [….] once elected, the new president will ditch his extravagant promises and pursue a sensible agenda of reform, [….]. But is that really possible? It would be hard for Mr Sarkozy suddenly to propose deep public-spending cuts, given all the things he has said. It would be harder still for Mr Hollande to drop his 75% tax rate.

Besides, there is a more worrying possibility than insincerity. The candidates may actually mean what they say. And with Mr Hollande, who after all is still the most likely victor, that could have dramatic consequences.
in “The Economist”, A Country in Denial,

So, “The Economist” recommends and hopes that French politicians scrap everything they said on the campaign trail and follow The Economist’s agenda, or Merkel’s, or whoever’s. Worse than lying, the elected candidate could be tearing The Economist’s bible apart! Dear God!

And this was not just an unfortunate tirade by an overzealous journalist. A month later, they were at it again:
Optimists [….]  dismiss as symbolic Mr Hollande’s flashy promises to impose a 75% top income-tax rate and to reverse Mr Sarkozy’s rise in the pension age from 60 to 62, arguing that the 75% would affect almost nobody and the pension rollback would benefit very few. They see a pragmatist who will be corralled into good behaviour by Germany and by investors worried about France’s creditworthiness.
If so, no one would be happier than this newspaper. But it seems very optimistic to presume that somehow, despite what he has said, despite even what he intends, Mr Hollande will end up doing the right thing.
in “The Economist”, The Rather Dangerous Monsieur Hollande, at http://www.economist.com/node/21553446  

It is amazing! Corralled, tamed, maybe chained and enslaved to “The Economist” and to a foreign power, that is what would make “The Economist” happy after the May runoff! How undemocratic and arrogant!

25 abril, 2012

O Idiota Útil

O IDIOTA ÚTIL
 


António José Seguro
Foto in Rádio Renascença

Nunca tive boa opinião de António José Seguro. Trata-se de mais um apparatchik partidário cuja única actividade conhecida é a política, ou spin-offs dos conhecimentos partidários. Nesse aspecto, é um pouco da mesma cepa de José Sócrates e Passos Coelho.
A melhor caracterização de Seguro foi feita pelo “Contra-Informação”: o Jovem Mais Velho de Portugal, isto quando era Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros com António Guterres.
A única coisa virtuosa que lhe conheci foi a reforma parlamentar, que visava conferir mais autonomia e capacidade de trabalho e intervenção aos deputados. O resto do tempo, passou-o a marinar para se candidatar a Secretário-Geral do PS. Candidatura que veio a concretizar sobre o “cadáver fumegante” de Sócrates, como caracterizou de forma precisa e mordaz Miguel Sousa Tavares na noite eleitoral de Junho de 2011.
Esta avidez incontida, encarnada numa falsa partida descarada e insensível, foi o seu primeiro momento de liderança. Muito mau. Se aqui mostrou falta de carácter e solidariedade partidária, como líder partidário e da oposição mostrou outra: falta de jeito, incoerência e incompetência.
Como é possível um indivíduo malhar constantemente no Governo e depois votar ou abster-se em todos os projectos legislativos fundamentais apresentados pela maioria?
O PS subscreveu o Memorando da Troika e portanto tem um compromisso assumido. Portanto, das duas uma, ou o PS vota as medidas e Seguro está calado, ou o PS renega o Memorando e Seguro pode disparar em todas as direcções e vota contra as medidas que forem apresentadas no Parlamento.
Enquanto continuar com a postura actual, Seguro será um idiota útil, fingindo fazer oposição ao Governo e legitimando com o voto socialista as decisões governamentais. Será também um idiota útil para outros aspirantes à liderança do PS, aos quais não interessará dar a cara nesta fase de conluio com o PSD, o CDS e a Troika.
Escusado seria acrescentar que, de Seguro, nada mais se espera. Afinal, trata-se de um indivíduo que veio com bravata anunciar que a posição do PS sobre o Orçamento de Estado de 2012 seria uma “abstenção violenta”. E nesta imbecilidade começa e acaba a coragem e a determinação do ex-Jovem Mais Velho de Portugal.

20 abril, 2012

Líbia, Síria, EUA e Rússia

LÍBIA, SÍRIA, EUA E RÚSSIA

Os flash points do conflito na Síria.

O Ocidente andou atarefado, preocupado, agitado, com a Líbia em 2011. Tanto porfiou, especialmente a França e o Reino Unido, que conseguiu fazer aprovar uma Resolução no Conselho de Segurança das Nações Unidas (Resolução 1973, disponível em http://daccess-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/N11/268/39/PDF/N1126839.pdf?OpenElement ) que visava a protecção de civis dos confrontos militares na Líbia, especialmente de ataques do exército líbio.
 
 
O Ocidente andou atarefado, preocupado, agitado, com a Síria em 2012. E também anda frustrado. Isto porque, apesar do empenho dos EUA, não conseguiu fazer a tal Resolução no Conselho de Segurança. A que foi apresentada foi vetada pela Rússia e pela China.
 
 
Porquê?
 
 
Bem, a resposta sintética é: Resolução 1973 do Conselho de Segurança.
A resposta completa pode começar por uma remissão para um post de 29 de Março de 2011 “Farsa na Líbia” em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2011/03/farsa-na-libia.html que cito:
Porém, a farsa que trago hoja à colação é a da intervenção dos EUA, França, Reino Unido et al, a coberto da Resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU.
A referida Resolução permite a imposição de uma no-fly zone, que foi garantida ab initio com bombardeamentos e superioridade aérea e a protecção de civis sob ataque.
A realidade, é que a coligação tem bombardeado insistentemente as forças armadas da Líbia para permitir o avanço dos rebeldes armados.
[…]
A realidade, é que a coligação decidiu derrubar Kadhafi e levar os rebeldes (com protagonistas e agenda difusos) ao poder. Daí, bombardear posições anteriormente ocupadas por forças do regime, neutralizar os seus carros de combate e peças de artilharia e atacar posições por ele defendidas, mesmo que aí residam civis.
 Como os rebeldes armados não são população civil e a Resolução 1973 não os inclui no grupo a proteger, a verdadeira agenda da coligação é regime change: derrubar Kadhafi e substitui-lo pelos rebeldes.
Aqui está o cerne do problema: a Rússia e a China perceberam que foram enganadas quando pensaram permitir a aprovação (abstiveram-se) uma Resolução que seria um mero paliativo e que manteria o statu quo na Líbia. A Resolução 1973 foi um mero pretexto legalista para alguns países da NATO levarem a cabo o derrube político e a eliminação física do Coronel Kadhafi.

Este foi um precedente que Russos e Chineses dificilmente deixariam repetir, pois poderia abrir uma caixa de Pandora que significava que os EUA e os seus aliados teriam rédea livre para derrubar os regimes que não lhes interessavam (e que poderiam ser do agrado de Moscovo e/ou de Pequim), impondo uma ordem internacional à medida de Washington, Londres e Paris.
Além do mais, a Rússia e a China sempre foram muito ciosos da preservação da soberania e da rejeição de acções que qualifiquem como ingerência nos assuntos internos de um país.
Era óbvio pois, que confrontados com uma situação na Síria com muitos paralelos com a da Líbia, a Rússia e a China não cairiam no logro de uma Resolução que era light no papel. Ingénua terá sido desta vez a Secretária de Estado Hillary Clinton que teve um ataque de fúria contra Russos e Chineses, como se tal impressionasse Putin ou Hu Jintao. O que conta realmente é que, especialmente a Rússia, tradicionalmente próxima de Damasco, não quis que os EUA fizessem na Síria o que haviam feito na Líbia.
 
 
Resumindo, a Resolução sobre a Síria foi vetada devido ao uso abusivo da resolução sobre a Líbia. What goes around, comes around.

Post Scriptum:
No post  scriptum do supra-referido post, manifestava surpresa pela abstenção da Rússia e da China na Resolução 1973, sublinhava a crítica de Putin à Resolução e alertava para a possibilidade da situação se repetir a breve prazo noutros países, tal como a Síria. Passado um ano …. Está a acontecer.

19 abril, 2012

Índia: China na Mira

ÍNDIA: CHINA NA MIRA

  
Lançamento do Agni V.
in “The Wall Street Journal”

Em Janeiro a Índia tornou-se o 6º país no mundo a operar um submarino de propulsão nuclear: o INS Chakra da classe Akula II adquirido à Rússia (onde era o K-152 Nerpa).
Em 2013, a Índia lançará ao mar o INS Arihant, de concepção e construção indiana, e que transportará mísseis balísticos com capacidade nuclear.
Ontem a Índia testou o míssil Agni V. Disparado da Baía de Bengala, o Agni V cumpriu todos os parâmetros previstos e atingiu o seu alvo no Oceano Índico a 5000km de distância.
Estes desenvolvimentos mostram-nos que a Índia está a atingir aquilo que podíamos qualificar como a idade adulta da sua capacidade nuclear:
·        A que a Índia está na fase final de desenvolvimento de um ICBM (Inter-Continental Ballistic Missile), o que representa a capacidade de atingir alvos com ogivas nucleares, a longa distância e com precisão.
·        A Índia está em vias de alcançar a tríade nuclear: capacidade nuclear terrestre, naval e aérea.
O que é que isto significa em termos geopolíticos?
Normalmente, quando se soma “Índia” e “capacidades militares”, o resultado é “Paquistão”! Desta vez, o cálculo tem de ser outro. O arsenal nuclear indiano, incluindo os seus vectores, foi pensado tendo o Paquistão como alvo provável. Hoje, New Delhi tem mísseis de curto e médio alcance e meios aéreos que lhe permitem atingir qualquer alvo no Paquistão. Aliás, a prioridade indiana em qualquer conflito com o Paquistão passa por o resolver sem recurso a WMD (Weapons of Mass Destruction), dada a sua superioridade em armamento convencional.
Então temos de mudar a equação: “Índia + capacidade nuclear de longo alcance = “China”!!!
A Índia e a China sustentam uma rivalidade que tem décadas: combateram uma guerra fronteiriça em 1962; têm uma fronteira comum de 4000km sobre a qual têm múltiplas pretensões conflituantes; e são hoje as principais potências ditas emergentes, com aspirações a tornarem-se grandes potências (a bem dizer, a China já o é). A China tem estendido a sua presença e influência no Índico (Paquistão, Birmânia) com o intuito principal de proteger as linhas marítimas de abastecimento da sua economia, enquanto que a Índia tem dado os primeiros passos para marcar presença no Mar do Sul da China (Vietname) que a China encara como sendo seu.
O Agni V faz com que a Índia adquira a capacidade de atingir praticamente a totalidade do território chinês, incluindo Pequim e Xangai. Embora tal não signifique ainda a obtenção de paridade estratégica com a China, representa indubitavelmente um incremento substancial da capacidade dissuasora indiana. Podemos dizer que o Agni V, quando estiver totalmente operacional, será uma seta potencialmente apontada ao coração da China.
A evolução da correlação de forças entre os principais players asiáticos (China, Japão e Índia) e os Estados Unidos, será das questões geopolíticas mais palpitantes dos próximos anos (ou décadas).