20 abril, 2012

Líbia, Síria, EUA e Rússia

LÍBIA, SÍRIA, EUA E RÚSSIA

Os flash points do conflito na Síria.

O Ocidente andou atarefado, preocupado, agitado, com a Líbia em 2011. Tanto porfiou, especialmente a França e o Reino Unido, que conseguiu fazer aprovar uma Resolução no Conselho de Segurança das Nações Unidas (Resolução 1973, disponível em http://daccess-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/N11/268/39/PDF/N1126839.pdf?OpenElement ) que visava a protecção de civis dos confrontos militares na Líbia, especialmente de ataques do exército líbio.
 
 
O Ocidente andou atarefado, preocupado, agitado, com a Síria em 2012. E também anda frustrado. Isto porque, apesar do empenho dos EUA, não conseguiu fazer a tal Resolução no Conselho de Segurança. A que foi apresentada foi vetada pela Rússia e pela China.
 
 
Porquê?
 
 
Bem, a resposta sintética é: Resolução 1973 do Conselho de Segurança.
A resposta completa pode começar por uma remissão para um post de 29 de Março de 2011 “Farsa na Líbia” em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2011/03/farsa-na-libia.html que cito:
Porém, a farsa que trago hoja à colação é a da intervenção dos EUA, França, Reino Unido et al, a coberto da Resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU.
A referida Resolução permite a imposição de uma no-fly zone, que foi garantida ab initio com bombardeamentos e superioridade aérea e a protecção de civis sob ataque.
A realidade, é que a coligação tem bombardeado insistentemente as forças armadas da Líbia para permitir o avanço dos rebeldes armados.
[…]
A realidade, é que a coligação decidiu derrubar Kadhafi e levar os rebeldes (com protagonistas e agenda difusos) ao poder. Daí, bombardear posições anteriormente ocupadas por forças do regime, neutralizar os seus carros de combate e peças de artilharia e atacar posições por ele defendidas, mesmo que aí residam civis.
 Como os rebeldes armados não são população civil e a Resolução 1973 não os inclui no grupo a proteger, a verdadeira agenda da coligação é regime change: derrubar Kadhafi e substitui-lo pelos rebeldes.
Aqui está o cerne do problema: a Rússia e a China perceberam que foram enganadas quando pensaram permitir a aprovação (abstiveram-se) uma Resolução que seria um mero paliativo e que manteria o statu quo na Líbia. A Resolução 1973 foi um mero pretexto legalista para alguns países da NATO levarem a cabo o derrube político e a eliminação física do Coronel Kadhafi.

Este foi um precedente que Russos e Chineses dificilmente deixariam repetir, pois poderia abrir uma caixa de Pandora que significava que os EUA e os seus aliados teriam rédea livre para derrubar os regimes que não lhes interessavam (e que poderiam ser do agrado de Moscovo e/ou de Pequim), impondo uma ordem internacional à medida de Washington, Londres e Paris.
Além do mais, a Rússia e a China sempre foram muito ciosos da preservação da soberania e da rejeição de acções que qualifiquem como ingerência nos assuntos internos de um país.
Era óbvio pois, que confrontados com uma situação na Síria com muitos paralelos com a da Líbia, a Rússia e a China não cairiam no logro de uma Resolução que era light no papel. Ingénua terá sido desta vez a Secretária de Estado Hillary Clinton que teve um ataque de fúria contra Russos e Chineses, como se tal impressionasse Putin ou Hu Jintao. O que conta realmente é que, especialmente a Rússia, tradicionalmente próxima de Damasco, não quis que os EUA fizessem na Síria o que haviam feito na Líbia.
 
 
Resumindo, a Resolução sobre a Síria foi vetada devido ao uso abusivo da resolução sobre a Líbia. What goes around, comes around.

Post Scriptum:
No post  scriptum do supra-referido post, manifestava surpresa pela abstenção da Rússia e da China na Resolução 1973, sublinhava a crítica de Putin à Resolução e alertava para a possibilidade da situação se repetir a breve prazo noutros países, tal como a Síria. Passado um ano …. Está a acontecer.

1 comentário:

Anónimo disse...

Sometimes when I read about the state of our world and all the dishonesty in order to gain power I want to find my own little island and hide away! Does that make me a moral coward or a defeatist or am I just battle weary? Was the world ever any different? I suspect not. Sigh!

Elaine