LÍBIA, SÍRIA, EUA E RÚSSIA
Os flash
points do conflito na Síria.
O Ocidente andou atarefado, preocupado, agitado, com a
Líbia em 2011. Tanto porfiou, especialmente a França e o Reino Unido, que
conseguiu fazer aprovar uma Resolução no Conselho de Segurança das Nações
Unidas (Resolução 1973, disponível em http://daccess-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/N11/268/39/PDF/N1126839.pdf?OpenElement
) que visava a protecção de civis dos confrontos militares na Líbia,
especialmente de ataques do exército líbio.
O Ocidente andou atarefado, preocupado, agitado, com a
Síria em 2012. E também anda frustrado. Isto porque, apesar do empenho dos EUA,
não conseguiu fazer a tal Resolução no Conselho de Segurança. A que foi
apresentada foi vetada pela Rússia e pela China.
Porquê?
Bem, a resposta sintética é: Resolução 1973 do Conselho de Segurança.
A resposta completa pode começar por uma remissão para um post de 29 de
Março de 2011 “Farsa na Líbia” em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2011/03/farsa-na-libia.html que cito:
Porém,
a farsa que trago hoja à colação é a da intervenção dos EUA, França, Reino
Unido et al, a coberto da Resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU.
A
referida Resolução permite a imposição de uma no-fly zone, que foi garantida ab
initio com bombardeamentos e superioridade aérea e a protecção de civis sob
ataque.
A
realidade, é que a coligação tem bombardeado insistentemente as forças armadas
da Líbia para permitir o avanço dos rebeldes armados.
[…]
A
realidade, é que a coligação decidiu derrubar Kadhafi e levar os rebeldes (com
protagonistas e agenda difusos) ao poder. Daí, bombardear posições
anteriormente ocupadas por forças do regime, neutralizar os seus carros de combate
e peças de artilharia e atacar posições por ele defendidas, mesmo que aí
residam civis.
Aqui está o
cerne do problema: a Rússia e a China perceberam que foram enganadas quando
pensaram permitir a aprovação (abstiveram-se) uma Resolução que seria um mero
paliativo e que manteria o statu quo na Líbia. A Resolução 1973 foi um mero
pretexto legalista para alguns países da NATO levarem a cabo o derrube político
e a eliminação física do Coronel Kadhafi.
Este foi um precedente que Russos e Chineses dificilmente deixariam
repetir, pois poderia abrir uma caixa de Pandora que significava que os EUA e
os seus aliados teriam rédea livre para derrubar os regimes que não lhes
interessavam (e que poderiam ser do agrado de Moscovo e/ou de Pequim), impondo
uma ordem internacional à medida de Washington, Londres e Paris.
Além do mais, a Rússia e a China sempre foram muito ciosos da preservação
da soberania e da rejeição de acções que qualifiquem como ingerência nos
assuntos internos de um país.
Era óbvio pois, que confrontados com uma situação na Síria com muitos
paralelos com a da Líbia, a Rússia e a China não cairiam no logro de uma
Resolução que era light no papel. Ingénua terá sido desta vez a Secretária de
Estado Hillary Clinton que teve um ataque de fúria contra Russos e Chineses,
como se tal impressionasse Putin ou Hu Jintao. O que conta realmente é que,
especialmente a Rússia, tradicionalmente próxima de Damasco, não quis que os
EUA fizessem na Síria o que haviam feito na Líbia.
Resumindo, a Resolução sobre a Síria foi vetada devido ao uso abusivo da
resolução sobre a Líbia. What goes around, comes around.
Post Scriptum:
No post scriptum do supra-referido post, manifestava
surpresa pela abstenção da Rússia e da China na Resolução 1973, sublinhava a
crítica de Putin à Resolução e alertava para a possibilidade da situação se
repetir a breve prazo noutros países, tal como a Síria. Passado
um ano …. Está a acontecer.
1 comentário:
Sometimes when I read about the state of our world and all the dishonesty in order to gain power I want to find my own little island and hide away! Does that make me a moral coward or a defeatist or am I just battle weary? Was the world ever any different? I suspect not. Sigh!
Elaine
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