29 maio, 2012

O Mito do Governo Neo-Liberal

O MITO DO GOVERNO
NEO-LIBERAL

O Liberalismo económico preconiza a liberdade individual, um menor intervencionismo estatal, acredita que o sector privado deve ser o dínamo da economia e, consequentemente, defende uma menor carga fiscal para que indivíduos e empresas tenham mais capital para investir e consumir, assim desenvolvendo a economia. Implica também, maior responsabilidade do indivíduo na assunção dos riscos, custos e benefícios das suas opções.

Espanta-me, pois, ver pessoas indignadas acusando o actual governo de ser Neo-Liberal. Na verdade, este Governo é muito pouco liberal. Senão vejamos:


·         A prioridade do Governo é reduzir o déficit orçamental.

·         Para tal, o Governo optou por aumentar as receitas, exaurindo a economia.

·         Dessa forma, aumentou o IRS 3 vezes; aumentou o IVA 2 vezes; vão aumentar o IMI; forja toda a sorte de artifícios para retirar dinheiro às pessoas; cortou o 13º mês de 2012; executou um corte brutal e, aparentemente permanente, dos salários dos funcionários públicos.

·         Corolário desta política, a indicação que o combate ao déficit no ano corrente será feito com um esforço de 78% do lado das receitas, com destaque para as tributárias.

Ora isto é tudo menos Liberalismo. Em Portugal, como noutros países europeus, o Estado tenta salvar as suas contas sangrando até ao limite os cidadãos e as empresas. Em resultado disso, a economia contrai-se catastroficamente, as falências aumentam e o desemprego dispara.

Não se assiste a uma maior liberdade económica dos privados, nem se vê um Estado ao serviço dos cidadãos e da sociedade. Inverteram-se os valores, e são os cidadãos que têm de se sacrificar e servir um Estado incapaz de se regenerar e de encolher significativamente.

A única área em que se assiste a uma liberalização (??) é no conferir maior margem de manobra às empresas nos seus relacionamentos laborais, enquanto que os trabalhadores por conta de outrem perdem direitos e remunerações e ganham tempo de trabalho extra gratuito e maior vulnerabilidade. Esta política remete para um tempo de efectivo maior Liberalismo: a Revolução Industrial no século XIX. Ou, porventura com mais actualidade, para o modelo chinês do século XXI, cujo sucesso assenta na exploração impiedosa de uma mão-de-obra abundante, ignorante e, até ver, submissa.

Concluindo, a política do Governo não é Liberal, nem Neo-Liberal, nem tampouco Para-Liberal. É, isso sim, uma política autoritária, centralista e estatizante, que atropela os direitos das pessoas em nome de um programa não sufragado e que sufoca a economia privada em nome de uma visão estreita e redutora de salvação de um Estado falido e das respectivas clientelas políticas, económicas e financeiras. A Liberdade, essa jaz esquecida.

27 maio, 2012

No Fio da Navalha

NO FIO DA NAVALHA


As rotas clandestinas entre o Líbano e a Síria.

O Líbano nas décadas de 1960 e 70 era encarado como um oásis no Médio Oriente. Um oásis de paz, prosperidade, empreendedorismo, comércio, turismo e diversão. Havia quem lhe chamasse a Suíça do Médio Oriente.

A chegada da OLP (expulsa da Jordânia) em 1970, a eclosão da Guerra Civil (1975-1990), a intervenção da Síria (1976) e os raids punitivos de Israel, incluindo a invasão de 1982, literalmente espatifaram o país.

Na última década, o Líbano parece ter encontrado alguma paz e establidade, mas quer uma, quer a outra, são sempre precárias. Ainda em  2006 houve uma guerra entre Israel e a milícia xiita do Hezbollah e o Líbano vivei crises político-sectárias graves em 2005, 2008 e 2011.

O Líbano sofre de dois problemas fundamentais:

1-   É o elo mais fraco da região. Tem por vizinhos Israel e a Síria. Israel é a potência militar mais forte e frequentemente ataca o Líbano porque, aproveitando a fraqueza libanesa, diversos grupos anti-isarelitas aproveitam o território libanês para lançar ataques contra o Norte de Israel. A Síria é uma potência militar do mundo árabe que vê o Líbano como um território que lhe foi indevidamente retirado. Consequentemente, na impossibilidade de o conquistar, tenta controlá-lo e manipulá-lo, o que conseguiu com êxito entre 1975 e 1995.

2-   O Líbano é um país sectariamente pulverizado: Cristãos (aos quais está alocado o cargo de Presidente da República), Muçulmanos Sunitas (Primeiro-Ministro), Muçulmanos Xiitas (Presidente do Parlamento), Druzos, Alawitas e outros grupos. Esta repartição de cargos e poderes é baseada no último censo realizado no Líbano…. em 1932. Volvidos 80 anos, é grande o receio das convulsões que poderiam resultar dos resultados, necessariamente muito diferentes, de um novo censo.

Como se compreende, por fraquezas e divisões próprias e por pressões alheias, o Líbano vive uma existência de permanente vulnerabilidade.

O conflito na Síria entre a minoria Alawita (derivada do xiismo), apoiada pela minoria cristã e a maioria sunita, reflecte parcialmente o próprio mosaico libanês, o que gera apoios e preferências conflituantes no seio do Líbano relativamente ao conflito sírio.

Finalmente, esta semana circularam com maior insistência informações que apontam para uma utilização mais intensiva do Líbano, especialmente a zona de Tripoli no Norte, como plataforma e rota de apoio aos rebeldes sírios. Este apoio virá principalmente da Arábia Saudita e do Qatar e, talvez, dos Estados Unidos. Esta situação já mereceu resposta da Síria que terá activado os seus apoiantes libaneses para combater este influxo de armas e de material de apoio.

A Síria é hoje um campo de batalha na guerra mais vasta pela hegemonia do Médio Oriente entre Sunitas (liderados pela Arábia Saudita) e Xiitas (Irão). Sempre no fio da navalha, o Líbano está sendo arrastado para um conflito dentro de outro conflito. E mais uma vez, pouco há que possa fazer para mudar o seu destino…

21 maio, 2012

ANGIE


ANGIE



Angela Merkel

Rolling Stones’ “Angie” is a beautiful, superb song written by Mick Jagger and Keith Richards. It was not dedicated to Angie Merkel, but I decided to adapt the lyrics to make them fit Angie Merkel, who’s been ruling Europe’s suicidal austerity with a tight fist.

At the end of the lyrics you can listen to the real thing. It’s worth it!

Mick Jagger – Keith Richards, 1973   My Version, 2012
Angie, Angie                                         Angie, Angie
When will those clouds all disappear?
  When YOU and your lackeys disappear
                                       
Angie, Angie
Where will it lead us from here?
           To the abyss
With no loving in our souls
And no money in our coats
           Oh, so very true!!!
You can't say we're satisfied         We’re definitely not!
But Angie, Angie
You can't say we never tried
 YOU demanded, WE tried!
Angie, You're beautiful         (Joking!)
But ain't it time we said goodbye           YES IT IS!!!
Angie, I still love you                  NOOOO. I never did!
Remember all those nights we cried?You don’t cry, do you?
All the dreams we held so close 
YOUR dreams, OUR nightmares.

Seemed to all go up in smoke   Like our salaries…
Let me whisper in your ear      More like banging in your ear.
Angie, Angie
Where will it lead us from here?
   To total destitution
Angie, don't you weep         You don’t have to. We do!
All your kisses still taste sweet   AAARGH!
I hate that sadness in your eyes Lying. I would love to see that!
But Angie, Angie
Ain't it time we said goodbye?
                   YEEES!
With no loving in our souls
And no money in our coats     Nor in the wallet, nor in the bank....money nowhere.
You can't say we're satisfied              As if you cared…
But Angie, I still love you, baby      
No, no, no! I never did and never will!!!
Everywhere I look I see your eyes  What a nightmare!
There ain't a woman that                  
comes close to you               You just set a new (negative) standard!              

Come on baby dry your eyes        They were never wet.
But Angie, Ain't it...
Ain't it good to be alive?          
     Not with you around
Angie, Angie
You can't say we never tried
        Just buzz off! Get lost!


"Angie" by Rolling Stones

17 maio, 2012

Desemprego em Passos Acelerados

DESEMPREGO A PASSOS ACELERADOS

O desemprego em Portugal bateu nos 15%. O desemprego entre os jovens cifra-se nos 35%. Há 820.000 desempregados. Números gravíssimos e nunca vistos.
Sobre este problema e sobre a crise, Passos Coelho foi-nos deixando declarações como estas ao longo dos últimos 6 meses:
Dezembro de 2011: Sugere que os professores desempregados emigrem para Angola ou para o Brasil
Fevereiro de 2012: Apela aos Portugueses para serem menos piegas.
Março de 2012: Marcelo Rebelo de Sousa e outros analistas notam e criticam a ausência de referências ao desemprego nas intervenções de Passos Coelho no Congresso do PSD. Marcelo acrescenta que, certamente o fará na intervenção final. A custo, Coelho lá fez a referência no discurso de encerramento.
Abril de 2012: Declara que estão (o Governo e a Troika) a tentar perceber as razões deste crescimento acelerado do desemprego.
Maio de 2012: Afirma que estar desempregado não é necessariamente negativo e que tal pode representar uma oportunidade.
Maio de 2012: Confrontado com os novos números do desemprego, Passos Coelho recusa pronunciar-se.
Eu sei que há quem faça interpretações benfazejas daquilo que Passos Coelho disse. Admito que algumas sejam verosímeis. Contudo, como sou céptico em relação às coincidências, especialmente quando são em série, tenho de me inclinar para outras explicações possíveis:
1-   O homem denota insensibilidade social e ainda escarnece cinicamente daqueles que passam dificuldades.
2-   Trata-se de um trapalhão que mete os pés pelas mãos, tendo dificuldade em articular uma ideia escorreita e unívoca sobre temas de grande sensibilidade.
3-   Não tem a menor ideia do que é o desemprego, ou do que é estar numa situação altamente precária, porque sempre viveu da política, do partido e dos padrinhos, pelo que sempre teve bons cargos, independentemente das qualidades e qualificações, ou falta delas.
4-   Ele faz o que a Troika manda e quer lá saber das consequências. De qualquer forma, a responsabilidade será sempre da Troika.
5- Tem boas intenções, mas é mal compreendido ou mal interpretado.
Em suma, há 820.000 Portugueses com um mar de oportunidades pela frente, muitos dos quais podem/devem emigrar e outros são uns piegas inúteis. Nós é que não queremos ver!
A propósito das últimas declarações de Passos, e porque rir faz bem, deixo o link para o último (17/05/2012) sketch de Ricardo Araújo Pereira na Rádio Comercial. É hilariante! http://www.xicapenico.org/mixordia-tematicas/ *
Certo mesmo, é que o desemprego acelera a largos passos e o Passos desacelera a nossa economia até à asfixia.
 
* A gravação é do “Programa da Manhã da Rádio Comercial”, pelo que o início é uma conversa que não tem a ver com a rúbrica de RAP.

P.S. O INE divulgou uma estatística segundo a qual, 57.000 jovens portugueses emigraram durante o 1º trimestre de 2012. Se anualizarmos esta cifra, poderemos chegar ao final do ano com menos 228.000 jovens. Mais do que seguir o conselho de Passos, estes jovens concluiram que estamos perto do abismo e seguindo em frente. Esta estatística é potencialmente trágica, porque é o futuro de Portugal que vai saindo e batendo com a porta.

P.P.S. A OCDE divulgou as suas previsões económicas. Relativamente as Portugal, as previsões são estas:

  * Recessão em 2012 e 2013.
  * Evolução do PIB em 2012: -3.2%; e em 2013: -0.9%.
  * Desemprego: 16.2% em 2013
  * Consumo privado em 2012: -6.8%; e em 2013: -3.2%.
  * Déficite orçamental em 2012: 4.6%; e em 2013: 3.5% (objectivo é 3.0%.
  * Exportações em 2012: +3.4%; e em 2013: +5.1%.

Palavras para quê? Depois o Governo e a Troika espantam-se com o aumento do desemprego! Estão a sangrar a economia do país como se da matança de um porco se tratasse e estavam à espera de quê?
 

14 maio, 2012

O Czar Vladimir

O CZAR VLADIMIR


Vladimir Putin no Kremlin para tomar posse como Presidente da Federação Russa pela 3ª vez.
in “The Economist”

Vladimir Putin é a figura dominante da Rússia do século XXI. Foi Primeiro Ministro da Federação Russa entre 1999 e 2000, foi Presidente durante 8 anos (2000-2008), escolheu o seu sucessor (Dmitri Medvedev), foi Primeiro-Ministro nos 4 anos subsequentes (2008-2012) e foi eleito para o que serão, provavelmente, mais 12 anos de Presidência (2012-2024).
Neste período, a Rússia renasceu das cinzas e do caos pós-imperial, para se tornar novamente numa potência influente, tendencialmente hegemónica no seu espaço vital, economicamente dinâmica (muito à custa dos seus vastos recursos energéticos) e ressurgente militarmente.
Na realidade, Putin prosseguiu uma via que lhe permitiu alcançar os seus objectivos para a Rússia: torná-la forte, credível e influente. Tal não foi fácil num país que sofreu o impacto da perda da componente soviética do seu Império em 1989, que logo depois, em 1991, com a implosão da URSS, perdeu o Império construído pela Rússia czarista entre os séculos XVII e XIX, viveu uma traumática década de 1990, durante a qual esteve a saque internamente, foi tratada como um actor menor externamente e foi minada pelas revoltas no Cáucaso.
Vladimir Putin atingiu os seus objectivos investindo em múltiplas frentes:

·         Evidenciando uma atitude de firmeza e fiabilidade na defesa dos interesses dos Russos.
·         Centralizando e reforçando o poder do Estado para obter segurança e estabilidade.
·         Projectando força e poder: Segunda Guerra na Chechénia, Guerra Russo-Georgiana de 2008, e forte investimento nas Forças Armadas (equipamento e pessoal).
·         Colocando a Rússia no caminho do crescimento económico, sem o qual as outras dimensões seriam inatingíveis.
·         Afirmando uma política externa autónoma, frequentemente definida por oposição aos EUA e na prossecução de interesses próprios.
·         Projectando poder e influência no near abroad (denominação que Moscovo aplica aos países da antiga União Soviética), usando um mix de hard power (força militar, coacção energética) e soft power (integração económica, apoio militar, subsidização de gás e petróleo).
A reafirmação da Rússia, o seu recurso à Real Politik, o uso pontual de Hard Power, o contra-vapor efectuado em relação a algumas importantes iniciativas de política externa e de defesa do Ocidente e a centralização de poder em prejuízo da democracia, desgraçaram a imagem de Vladimir Putin na Europa e nos Estados Unidos.
Tipicamente, a reacção foi a demonização de Putin e a promoção dos movimentos oposicionistas na Rússia. No entanto, os relatos que nos chegam de grandes manifestações contra Putin, normalmente ficam pelos 5.000 a 20.000 participantes, numa capital com 10.000.000 de habitantes, num país com 150.000.000 de cidadãos. Também são algo pífias as alegações de vagas irregularidades numas eleições que Putin venceu com 64% dos votos.
No entanto, o novo ciclo do Czar Vladimir não será fácil. São vários e significativos os desafios que a Rússia tem pela frente.
No plano interno precisa de diversificar a sua economia evoluindo em sectores hi-tech e explorando novas jazidas de hidrocarbonetos para compensar as que já estão em fase adiantada de maturação, para manter a economia e o emprego em crescimento. Estas duas frentes implicam know-how e investimentos brutais que terão de vir, pelo menos em parte, do exterior.
Externamente, a prioridade será integrar progressivamente os Estados da antiga URSS na esfera de influência de Moscovo, usando para tal as estruturas que a Rússia já criou, como a União Aduaneira (Rússia, Bielorrússia e Kazaquistão), a União Euroasiática (moldada na União Europeia e que supostamente entrará em vigor em 2015, integrando pelo menos a Rússia, Bielorrússia, Kazaquistão, Kirguizistão e Tajiquistão) e a Organização do Tratado de Segurança Colectiva (CSTO) no âmbito da defesa e segurança e que já inclui a Rússia, Bielorrússia, Kazaquistão, Uzbequistão, Kirguizistão, Tajiquistão e Arménia. A inclusão da Ucrânia nesta arquitectura regional será o objectivo primeiro do Kremlin, pois garantiria segurança, homogeneidade e poder ao projecto, consolidando a hegemonia russa a níveis nunca vistos desde 1991.
Goste-se ou não, Putin veio para ficar e as suas prioridades serão a manutenção do edifício de poder que construiu e a afirmação da Rússia. Se Putin vingar no plano económico, fará o que for necessário para assegurar os interesses da Rússia nos planos político e militar, o que inclui a sua oposição à instalação do sistema de Defesa Anti-Míssil Balístico na Europa. Com razões substantivas, ou como pretexto, este é o campo de batalha em que a Rússia de Putin enfrentará a NATO e os EUA a curto prazo.