30 junho, 2013

Confidências e Confissões I

CONFIDÊNCIAS E CONFISSÕES I

Sensivelmente desde há um ano tenho recebido ocasionais críticas sobre os posts que escrevo sobre política nacional. Embora sejam muito poucas as pessoas que o fizeram, não merecem menos respeito e atenção e o facto de o terem feito mais do que uma vez e de forma convicta, justifica um feedback público.


As críticas prendem-se com facto de ser excessivamente crítico do actual governo e de ter entrado numa escalada verbal, que me terá conduzido a níveis menos próprios para este blog. O exemplo dado foi o adjectivo imbecil. Foi-me dito que eu ignorava o catastrófico governo anterior. Houve quem dissesse que os meus textos se tinham tornado mais ásperos e violentos e quem chegasse ao ponto de dizer que eu até parecia ter virado comunista.


Começando pelo fim, eu tenho horror ao Comunismo cuja experiência histórica de opressão, totalitarismo, de Estado omnipresente e omnipotente, de holocaustos, chacinas e repressão são sobejamente conhecidos de Havana a Beijing, passando por Moscovo, Gdansk, Praga, Budapeste e muitos outros sítios. Eu emocionei-me quando na manhã do dia 10 de Novembro de 1989 ouvi na BBC que o Muro de Berlim tinha caído.


Relativamente ao governo, eu reconheço que tem havido em Tempos Interessantes uma escalada crítica e verbal que foi, aliás, aqui anunciada em 6 de Abril de 2012 no post “Judas Coelho”: Poderão pensar que já são demais os epítetos que vou colando a Passos Coelho. Infelizmente discordo. […] movido pela época pascal e pela traição de Sexta-Feira Santa, resolvi optar por “Judas”.

Mais: não acredito que este tenha sido o último. Tenho a certeza que Coelho continuará a fazer judiarias aos Portugueses e por muitas que faça, hei-de encontrar sempre adjectivos para lhe aplica. (Em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2012/04/judas-coelho.html )


Porquê? Por vários motivos:


1- Sendo o governo do meu país, os seus erros, abusos e desmandos afectam a mim e aos meus de forma muito mais intensa do que aquilo que fazem no Irão, Coreia do Norte, Síria ou mesmo EUA e Reino Unido, para referir alguns dos clientes habituais deste blog.

2- Penso que aquilo que pensava do anterior governo foi amplamente referido em Tempos Interessantes (ver, a título de exemplo “Wanted” em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2010_10_01_archive.html publicado em 24/10/2010) e ainda agora menções negativas lhe são feitas. Uma coisa é ter memória curta, que nestes assuntos não tenho. Outra bem diferente, é esquecer que para se criticar a governação ou fazer oposição, faz-se ao governo que está em funções e não a quem as cessou há dois anos.

3- O actual governo não visa simplesmente superar a crise financeira. Fá-lo sacrificando as pessoas de forma deliberada, espatifando a economia sem escrúpulos nem pesar e mostrando uma olímpica indiferença perante o calvário que milhões de Portugueses vão passando. E isto é o pior de tudo.

4- Desculpem. Ainda há pior. Apesar do que referi no ponto anterior, o governo falha de forma ignóbil os seus objectivos.


Em Tempos Interessantes, eu procuro fazer uma análise honesta e racional dos acontecimentos que abordo, das motivações e objectivos dos principais actores e até arrisco previsões e avanço com a evolução que julgo ser a mais provável. A palavra-chave aqui é honesta. Nunca prometi isenção. Eu relato factos e opino sobre eles. Tenho um conjunto de ideias e convicções bem definidos e elas estão abundantemente plasmadas ao longo de 374 posts publicados durante 7 anos. Quando gosto isso é patente, quando não gosto, tal também é evidente.


Reconheço que nos posts sobre política nacional, atravessei algumas linhas que não imaginaria há 3 anos atrás. Tenho pena que tal desagrade a alguns amigos e leitores e respeito os seus sentimentos e opiniões. Admito que por motivos que vão para além do blog e da política me tenha tornado mais agreste.
No entanto, quem vive e labuta em Portugal e depende do rendimento do seu trabalho ou da sua pensão, excluindo uma pequena minoria, sabe bem as judiarias, mentiras e assaltos a que temos sido sujeitos nos últimos 2 anos. Se a isso somarmos a incompetência e acrescentarmos a arrogância de quem nos está a fazer um frete, podem crer que aquilo que escrevo fica aquém daquilo que amiúde me apetecia fazer.

28 junho, 2013

Caricatura de Ahmadinejad ou Ahmadinejad de Caricatura

CARICATURA DE AHMADINEJAD OU AHMADINEJAD DE CARICATURA


Programa nuclear iraniano: o gato escondido com o rabo de fora.

Hassan Rouhani foi eleito Presidente do Irão e o tempo de Mahmoud Ahmadinejad está a chegar ao fim.

Ahmadinejad foi um Presidente polémico e o que lançou mais polémica, receio e hostilidade no estrangeiro. O seu anti-semitismo exacerbado, colorido com ameaças de dizimar Israel e os Judeus, a prossecução tenaz do programa nuclear (que não é da sua autoria), o anti-americanismo, trademark da Revolução Iraniana, as polémicas eleições de 2009 e os atritos que teve com o clero, nomeadamente com o líder supremo do Irão, Ayatollah Ali Khamenei, valeram a Ahmadinejad a reputação de louco furioso.

 
Uma boa caricatura daquilo que tem sido a diplomacia com o Irão.

 
A mim preocupa-me mais o que faz um indivíduo como Ahmadinejad (ou os Kims da Coreia do Norte – ver A Riddle Wrapped in a Mistery Inside an Enigma em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2013/03/a-riddle-wrapped-in-mistery-inside.html) fazer de louco e parecer furioso, do que as suas pretensas loucura e fúria. Mesmo admitindo que tenha uns parafusos a menos, penso que muito do que ele fazia e dizia era pose e estratégia para fazer crer ao Ocidente e a Israel que ele era suficientemente desequilibrado para cometer uma loucura e daí retirar vantagens negociais. Afinal, ninguém quer contrariar um louco furioso, porque pode ser perigoso.

Assim, entre a Caricatura de Ahmadinejad e o Ahmadinejad de Caricatura, penso que a verdade encontra-se mais perto daquela.

Uma ou outra, espero que os cartoons os divirtam. Os cartoons visam ilustrar de forma divertida e mordaz alguns aspectos da presidência de Ahmadinejad. Mahmoud Ahmadinejad é a estrela deste show. Será a última vez?
Fantástico jogo de palavras…em Inglês.
 

A validação dos resultados das eleições de 2009 pelo Ayatollah Ali Khamenei.



Mahmoud Ahamadinejad e Kim Jong Il cooperaram no desenvolvimento dos respectivos programas nucleares. A Coreia do Norte já é uma potência nuclear. O Irão está perto.


 
Ahmadinejad e o Otário Obama que pensava que cativava a liderança iraniana com bonitas palavras.

23 junho, 2013

Intervir ou Não Intervir?

INTERVIR OU NÃO INTERVIR?


To Be, or Not To Be? O dilema shaksperiano em Hamlet, transposto para Obama e para a Síria.

Em 2011, Barack Obama proclamou solenemente que o Presidente da Síria Bashar Al Assad havia perdido a legitimidade para governar.


Em 2012 (primeira metade do ano), vários responsáveis governamentais dos EUA, França e Israel avisavam que a queda do regime sírio estava iminente e era irreversível.


Em 2013, o regime sírio sobreviveu ao 1º e ao 2º assaltos e está em vantagem no 3º.


Os recentes sucessos militares da Síria vieram colocar a política de Washington face à guerra civil na Síria debaixo de atenção e pressão interna e externa.


Para Obama, a questão fundamental que se coloca é: intervir ou não intervir (na Síria)? A segunda questão, subsidiária, é como intervir?


Sendo este blog frequentemente muito crítico do actual Presidente dos Estados Unidos, não nos custa reconhecer que a sua política em relação ao conflito na Síria tem sido fundamentalmente correcta.


Os EUA, ou qualquer outro país, no processo decisório sobre uma intervenção militar, deve ponderar antes de qualquer outro factor, o respectivo interesse nacional. Como é que o interesse nacional será afectado pela abstenção de actuar e como uma intervenção afectará (des)favoravelmente esse interesse.


Serão admissíveis intervenções militares em que o interesse nacional não o exige? Sim, se o interesse nacional não for prejudicado, se os ganhos forem substantivos e se as perdas e riscos não forem significativos.


Nada disto se passa na Síria.


O único interesse que os EUA têm na queda do regime do Partido Ba’ath é na perda por parte do Irão de um aliado estratégico no Médio Oriente (ver “Os Amigos de Assad“ em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2013/05/the-friends-of-assad.html). Após uma década de envolvimento militar no Afeganistão e no Iraque, os ganhos com a perda iraniana não justificam os riscos e perdas a incorrer no teatro sírio.


Se o argumento fosse a brutalidade do regime sírio, facto sobejamente conhecido há décadas, não faltariam países e regiões para os EUA intervirem.


Se o objectivo fosse, como parece ser para alguns, a implementação de um regime liberal, democrático e secular, a composição e confusão da miríade de grupos oposicionistas e os acontecimentos noutros estados árabes como a Líbia, o Iémen e o Egipto, deverá fazê-los pensar 10 vezes e desistir.


Porque é que então Obama está a ser pressionado e está em dificuldades nesta matéria? Por dois motivos:

1-      Uma facção do Partido Republicano liderada pelo Senador John McCain e os liberais do Partido Democrata entendem (por motivos um pouco diferentes) que os EUA têm de acudir a todos os trouble spots do mundo, castigando os maus e salvando os inocentes. O argumentário é algo apelativo e colhe o apoio dos principais media: os EUA têm de defender e promover os seus valores de liberdade e respeito pelos direitos humanos, só os EUA têm a capacidade e credibilidade para liderar essas intervenções e que milhares de pessoas estão a morrer fruto da inacção americana. A esta pressão interna, acresce a pressão exercida no mesmo sentido por alguns países da Europa (França e Reino Unido à cabeça) e do Médio Oriente (Turquia, Qatar e Arábia Saudita).

2-      O facto de a Administração Americana nunca ter assumido a sua posição de forma clara e fundamentada, deixa Obama vulnerável a acusações de hesitação e cobardia, que seriam evitadas caso assumisse ab initio de forma firme qual era a sua posição e as suas razões.


A divulgação por parte de Paris e de Londres do uso de armas químicas por Damasco em quatro ocasiões, coloca Obama entre a espada e a parede, visto que no Verão passado, e para resistir às pressões, anunciara que o uso de armas químicas era uma red line para Washington. As armas químicas têm um anátema porque são vistas (e são de facto) como armas horríveis. Contudo, o seu efeito militar é na maioria das vezes bastante limitado devido à dispersão do agente químico pela atmosfera. Daí não ser surpreendente que as estimativas francesas e britânicas apontem para cerca de 150 mortes com armas químicas num universo estimado pela ONU de 90.000 mortes na Guerra Civil da Síria.


E assim, sem querer, sem saber ao certo quem apoiar, sem saber o nível de envolvimento que os EUA acabarão por ter, sem saber as consequências, sem fazer a mínima ideia que regime sairá de uma eventual vitória dos rebeldes, Obama vai deslizando para a Síria, porventura dizendo desesperadamente para si mesmo: Intervir, ou não intervir, eis a questão.

18 junho, 2013

Portugal: Deriva Autoritária

DEMOCRACIA MUSCULADA III
PORTUGAL: DERIVA AUTORITÁRIA

 
Democracia musculada era uma designação benévola para regimes que tinham uma democracia formal, mas aos quais faltava democracia substantiva. Exemplos actuais, com bastantes diferenças entre eles, podiam ser apontados a Rússia e o Irão.

Pois a musculatura democrática chegou à Europa. Deixo três exemplos: na Turquia, na Grécia e em Portugal (estamos sempre em boa companhia). 

Na ausência de um ícone sobre as questões específicas aqui abordadas, escolhi o famoso episódio da Bandeira Nacional invertida no 5 de Outubro de 2012, símbolo da inversão de valores que vivemos e que conduz ao esvaziamento da Democracia.

Esta imagem já foi usada no post “Falência e Morte da III República” publicado em 05/10/2012 (http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2012/10/falencia-e-morte-da-iii-republica.html)

Na actividade política, em Democracia, ganha-se, perde-se e respeitam-se as regras e as leis. Uma das pedras basilares da Democracia, é a separação de poderes enunciada por Montesquieu no século XVII, que deverá garantir um equilíbrio e controle mútuo entre os poderes legislativo, executivo e judicial, o que implica independência de cada um face aos outros. Nunca tive esperança que Passos Coelho percebesse alguma coisa de Ciência Política ou de História das Ideias Políticas, mas daí até termos em Portugal, temos um governo e um Primeiro-Ministro que:

            * Pressiona e ameaça o Tribunal Constitucional.

* Apresenta orçamentos com importantes artigos inconstitucionais por 2 anos consecutivos.

* Culpa e ataca o Tribunal Constitucional por ter estragado o Orçamento de Estado.

* Ameaça o Tribunal Administrativo que altera a lei da greve, caso este não dê provimento às suas pretensões no caso da greve dos professores.

* Ameaça os professores com medidas ilegais para travar uma greve legal.

* Repreende a Presidente da Assembleia da República em sessão plenária por não castigar os deputados que o incomodam.

Os tiques autoritários são inequívocos. A intolerância rivaliza com a da extrema esquerda. A petulância é total. O desprezo pela Democracia é evidente. E já nem vou falar da fraude que constituiu o seu programa eleitoral.

Quando a separação de poderes é desrespeitada, quando o autoritarismo transparece de múltiplas situações e se agrava com o tempo, quando os cidadãos são tratados como uma inconveniência, a Democracia está em queda livre.

Grécia: Sem Sinal

DEMOCRACIA MUSCULADA II
GRÉCIA: SEM SINAL

Democracia musculada era uma designação benévola para regimes que tinham uma democracia formal, mas aos quais faltava democracia substantiva. Exemplos actuais, com bastantes diferenças entre eles, podiam ser apontados a Rússia e o Irão.
Pois a musculatura democrática chegou à Europa. Deixo três exemplos: na Turquia, na Grécia e em Portugal (estamos sempre em boa companhia).

Um cartaz genial, simbolizando o fim da televisão pública na Grécia, paralelamente com o esvaziamento da Democracia.
in STRATFOR, em http://www.stratfor.com/analysis/greece-bulgaria-political-protests-erupt

 
A governação na Grécia atingiu um novo nadir. O governo de Samaras decidiu, no dia 12 de Junho, fechar a ERT (televisão pública grega), avisou com umas horas de antecedência e fechou o sinal da TV (3 canais) às 24.00h desse mesmo dia. Na ERT trabalham (trabalhavam?) 2700 pessoas.


É difícil qualificar tal acto. O carácter repentino, drástico, arbitrário, castigador de milhares de pessoas, indiferente a milhões de espectadores, censório, somado à ameaça governamental de invadir o edifício para expulsar os funcionários da ERT, traz-me à mente o adjectivo stalinista. Só falta mesmo enviar os 2700 trabalhadores para a Sibéria.


O Primeiro-Ministro Antonis Samaras, tal como o seu antecessor, lá vai continuando a escavacar o país em nome de terceiros, ao arrepio dos interesses e direitos dos Gregos e com total desrespeito pelos seus direitos.
 
O sinal da democracia está cada vez mais fraco na pátria da Democracia. A continuar assim, ficará como a ERT, sem sinal. Os bárbaros tomaram Atenas.

Turquia: The Beauty and the Beast


DEMOCRACIA MUSCULADA I
TURQUIA: THE BEAUTY AND THE BEAST


Democracia musculada era uma designação benévola para regimes que tinham uma democracia formal, mas aos quais faltava democracia substantiva. Exemplos actuais, com bastantes diferenças entre eles, podiam ser apontados a Rússia e o Irão.
Pois a musculatura democrática chegou à Europa. Deixo três exemplos: na Turquia, na Grécia e em Portugal (estamos sempre em boa companhia). Comecemos em Istanbul.

Ceyda Sungar, Professora na Universidade Técnica de Istanbul, atacada por um hooligan vestido de polícia.


Eis a bestialidade em acção. De um lado, uma mulher que não representa qualquer risco ou ameaça para a polícia ou para outras pessoas, calma e sem agressividade a exercer os seus direitos. Do outro lado, um pelotão de polícias, aparentemente em maior número do que os manifestantes, liderados por um psicopata que esguicha gás pimenta directamente sobre a senhora de vermelho e depois sobre outros manifestantes.


Para lá da bestialidade policial, há outros níveis de intolerância e violência, que começam e acabam no Primeiro-Ministro Recep Erdogan, que cultivou ao longo das semanas de protestos a linguagem da ameaça, da violência, da coacção e da brutalidade. Aqui não há Israel, nem Gaza, nem sequer o PKK (Partido Curdistão), mas a mesma concepção de poder absoluto, incontestável e interminável: o seu, doa a quem doer, mesmo que sejam cidadãos turcos, maioritariamente pacíficos e desarmados.


Numa era globalizada que vive muito (e por vezes mal) de ícones gráficos, este tem uma potente carga simbólica: The Beauty and the Beast. Ela, the Lady in Red, simboliza os que defendem as suas ideias exercendo os seus direitos. Ele, o monstro, representa um poder crescentemente autocrático que tem no vértice um homem tomado pela vertigem do poder e pela ambição desmedida.