GOING AROUND IN CIRCLES
O Director
da Agência Internacional de Energia Atómica (IAEA), o Japonês Yukiya Amano,
declarou numa reunião dos governadores da Agência que, relativamente ao
processo do programa nuclear do Irão, “To
be frank, for some time now we have been going around in circles.”
in Al Arabyia em http://english.alarabiya.net/en/News/world/2013/06/03/IAEA-head-says-going-around-in-circles-with-Iran.html
Embora pronunciado numa reunião restrita, este terá sido a mais
cândida e certeira aferição do processo negocial sobre o programa nuclear
iraniano feito até hoje por um alto responsável envolvido no processo.
O mapa do Irão nuclear.
Eis um breve ponto da situação:
Programa
Nuclear do Irão:
Segue de vento em popa. Na verdade, tudo indica que o Irão já
domina quase todos os elementos técnico-científicos que lhe permitirão
construir uma arma nuclear. Existem provas e fortes indicações que mostram que
ao longo da última década, Teerão adquiriu, desenvolveu e testou know-how não
apenas relativamente ao tratamento e enriquecimento de urânio, como também
detonadores, explosivos de elevada potência, ogivas e mísseis balísticos
utilizados em armas nucleares.
Negociações
P5+1*-Irão:
A diplomacia é, neste caso, cada vez mais um fim em si mesma, ou
seja, uma inutilidade. Novas rondas negociais foram desencadeadas este ano.
Resultados: menos que zero. Isto porque, zero seria se tudo estivesse igual.
Mas não está, porque as negociações não atingem resultados e o Irão continua a
enriquecer urânio (agora não apenas até 5%, mas também a 20%), como continua a
criar novas infra-estruturas e a instalar nova maquinaria e ainda se dá ao luxo
de travar certas inspecções da IAEA.
Sanções:
É verdade que as sanções são duras, que têm sido agravadas e que
têm acarretado sérios custos económicos para o Irão. É igualmente verdade que
não têm tido qualquer resultado em parar ou abrandar o programa nuclear do
Irão. Consequentemente, são um falhanço.
Infelizmente, não há volta a dar.
As
potências ocidentais sabem que as negociações não resultaram, não estão a
resultar e não resultarão, a não ser que façam enormes cedências
a Teerão. Sabem também que se assumirem
o fracasso e a inutilidade da diplomacia terão de escolher entre a guerra e o
reconhecimento do Irão como a 10ª potência nuclear mundial. Aquela aterra-os.
Esta deixa-os ficar mal. A solução é
continuar a fingir que estão a negociar a sério.
A Rússia e a China não têm, nem alguma vez tiveram, interesse e
vontade em pressionar e sancionar seriamente Teerão para parar o programa
nuclear. Por isso, a pressão exercida sobre os Persas é limitada e estes têm
sempre um campo de manobra extra.
O Irão está ciente das realidades supra-referidas, não só porque
são evidentes, mas também porque a evolução dos acontecimentos nos últimos anos
as comprovam. Consequentemente, a partir
do momento em que o Irão aceitou
pagar o preço infligido pelas sanções, o caminho é muito claro: negociar sem
ceder e prosseguir o programa até ao fim com determinação inabalável.
A outra chave do processo são os EUA. O que se escreveu em relação
às potências ocidentais é-lhes inteiramente aplicável. A grande diferença é que
Washington tem o poder militar para rebentar com o programa nuclear iraniano.
Como já aqui escrevi antes, o Irão só
fará verdadeiras cedências quando e se for realmente pressionado e sentir que
sobre ele pende uma ameaça real e credível de ataque militar. Os ayatollahs
sabem que as probabilidades de Obama o fazer são diminutas e portanto,
fruto da incompetência e cobardia do Presidente, o ascendente negocial americano
é, também ele, diminuto.
Concluindo, a não ser que Israel jogue todas as fichas que tem e
bombardeie o Irão, é tempo de mudar as apostas. Em vez de apostarem sobre SE o Irão irá ter armas nucleares, é
melhor apostarem QUANDO é que o Irão
irá ter armas nucleares.
* P5+1
= 5 Membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, Rússia, Reino
Unido, França e China) + Alemanha.
Links relacionados:
As Quatro Potências do Médio Oriente – O Irão
A Pergunta do Ano
Ilusões Persas
A Cavalgada Atómica do Irão
UNSC
Resolution 1696
2 comentários:
Muito interessante o post. Já o conteúdo é deveras preocupante.
Já agora, qual é a sua aposta?
Cristina
Obrigado Cristina.
Desafio complicado. Diria 2015/16.
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