DEMOCRACIA
MUSCULADA I
TURQUIA: THE BEAUTY AND THE
BEAST
Democracia musculada era uma designação
benévola para regimes que tinham uma democracia formal, mas aos quais faltava
democracia substantiva. Exemplos actuais, com bastantes diferenças entre eles,
podiam ser apontados a Rússia e o Irão.
Pois a musculatura
democrática chegou à Europa. Deixo três exemplos: na Turquia, na Grécia e em
Portugal (estamos sempre em boa companhia). Comecemos em Istanbul.
Ceyda Sungar,
Professora na Universidade Técnica de Istanbul, atacada por um hooligan vestido
de polícia.
in Daily Mail, em http://www.dailymail.co.uk/news/article-2335924/Turkey-Protests-Horrifying-image-woman-red-doused-pepper-spray-symbol-Turkish-protests.html
Eis a bestialidade
em acção. De um lado, uma
mulher que não representa qualquer risco ou ameaça para a polícia ou para
outras pessoas, calma e sem agressividade a exercer os seus direitos. Do outro
lado, um pelotão de polícias, aparentemente em maior número do que os manifestantes,
liderados por um psicopata que esguicha gás pimenta directamente sobre a
senhora de vermelho e depois sobre outros manifestantes.
Para lá da
bestialidade policial, há outros níveis de intolerância e violência, que
começam e acabam no Primeiro-Ministro Recep Erdogan, que cultivou ao
longo das semanas de protestos a linguagem da ameaça, da violência, da coacção
e da brutalidade. Aqui não há Israel, nem Gaza, nem sequer o PKK (Partido
Curdistão), mas a mesma concepção de poder absoluto, incontestável e
interminável: o seu, doa a quem doer, mesmo que sejam cidadãos turcos,
maioritariamente pacíficos e desarmados.
Numa era globalizada
que vive muito (e por vezes mal) de ícones gráficos, este tem uma potente carga
simbólica: The Beauty and the Beast.
Ela, the Lady in Red, simboliza os que defendem as suas ideias exercendo os
seus direitos. Ele, o monstro, representa um poder crescentemente autocrático
que tem no vértice um homem tomado pela vertigem do poder e pela ambição
desmedida.
2 comentários:
Tem muita razão : a brutalidade num pais "democrático", onde a defesa dos direitos do Homem é um exercício perigoso. Perigoso para as populações ou as categorias de populações que reclamam o respeito dos seus direitos fundamentais, mas igualmente para aqueles que, advogados, põem o talento e competências ao serviço duma causa, expondo-se à retorsão e à brutalidade da policia.
Quando a luta se exerce contra o aparelho estatal, a resposta é judiciária : os adversários são terroristas, aqueles que os defendem também!
A Turquia é hoje , através da questão kurda particularmente, um dos tristes exemplos. Esta mesma Turquia que deseja tão ardentemente ajudar os rebeldes sírios, que deseja tão intensamente integrar a UE, põe na prisão 40 advogados, detidos por terem cometido como único delito : exercer a sua profissão.
Semear o terror, fazer calar os cidadãos, aniquilar toda forma de resistência à islamizaçao fascisante da sociedade, intimidar os democratas por todos os meios, privà-los dos direitos fundamentais, eis o panorama da Turquia actual, que visitei há dez meses atrás.
O poder criou uma máquina tentacular fundada sobre um nepotismo terrível, atrás duma ideologia retrograda enfeitada pelo relativo sucesso economico destes últimos dez anos.
O activismo islamista, financiado por numerosas fraternidades muçulmanas que aparecem por todo o lado, utilizam todos os meios para dividir o pais em dois campos : os crentes, fieis servidores de Deus e da Pátria, e os outros, considerados infiéis, perigosos inimigos do Islão.
Joaquim de Freitas
Estes indivíduos querem integrar a UE ! E são nossos aliados na NATO !
Sr. Freitas Pereira,
Há anos que penso isso mesmo de Erdogan e do AKP. Eu acho que ele já não quer a UE para nada. Já a NATO dá-lhe jeito.
Mas palpita-me que ele não vai ter um bom fim....
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