21 novembro, 2015

Questões Sobre Paris, o Sinai e Dabiq




QUESTÕES SOBRE PARIS, O SINAI E DABIQ

 

Destroços do Airbus A321 da companhia russa Metrojet, alvo de atentado quando sobrevoava a Península do Sinai.

Quando ocorre um ataque terrorista bem sucedido e de grande impacto, acometem-nos muitas questões e inquietações. Porquê? Quem? Como? O que correu mal?

Não há respostas únicas, infalíveis, ou que abranjam todas as situações, mas vamos tentar responder focando-nos nos atentados de 13 de Novembro em Paris e, também, no atentado contra o avião russo sobre o Sinai.

PORQUÊ?
Desconhecemos as motivações específicas e o processo decisório da liderança do Estado Islâmico (IS), mas há 3 justificações prováveis, que podem ser cumulativas.

1- Retaliar contra os ataques realizados pela Rússia e pela França contra os muçulmanos em geral e contra o Estado Islâmico em particular.
2- Demonstrar a capacidade de atacar interesses relevantes dos Cruzados (um avião de passageiros), bem como, no caso da França, atingi-la letalmente na sua capital.
3- Provocar os Estados atacados para que estes destaquem tropas para combater na Síria/Iraque e assim materializar as profecias apocalípticas de um confronto final entre o Islão e os Cruzados em Dabiq, no Norte da Síria.

QUEM?
A propaganda, a doutrinação, o exemplo e o sucesso são as armas do IS para cativar e mobilizar meios humanos. O recrutamento é feito no terreno (Iraque e Síria primordialmente) e no estrangeiro onde coexistam comunidades islâmicas, ressentimento e frustração, principalmente na Europa, Norte de África e na antiga URSS. Para este efeito, o uso inteligente da Internet, particularmente das redes sociais, tem-se revelado frutífero para o IS e mortífero para os sues inimigos. Uma vez mobilizados, os efectivos são treinados em missões de combate e (alguns) na montagem de engenhos explosivos eficazes e fiáveis (todos os que foram activados em Paris detonaram) e está montada a estrutura humana e técnica no terreno.

COMO?
Além do treino, da mentalização e dos meios, é preciso traçar objectivos e delinear um plano para os atingir. Tal requer tempo, organização e disciplina para seleccionar e estudar os alvos, analisar os riscos e as metodologias e garantir a coordenação quando, como foi o caso em Paris, se trate de múltiplos ataques desencadeados simultaneamente. Concomitantemente, tem de haver instalações para alojar os terroristas e preparar as operações, veículos para o transporte, aquisição de documentos, armas e explosivos. É, pois, uma operação morosa e elaborada e durante a qual existem diversos momentos vulneráveis à detecção.
 
Ataques em simultâneo e/ou em rápida sucessão exigem planeamento e coordenação apurados.
in STRATFOR at www.startfor.com

ALGUÉM FALHOU?
Tendo em conta que houve participantes nos ataques que já estavam referenciados pelos serviços de segurança da França, Bélgica e Turquia, alguns dos quais vieram da Síria, acostaram na Grécia e atravessaram mais de meia Europa para chegar a França e outros transitavam entre a França e a Bélgica e ainda o tempo, pessoas e meios mobilizados para os ataques, tudo indica que algo falhou na prevenção dos atentados. Mais a mais quando a França foi alvo de ataques mortíferos há 10 meses, quando foi prometido um reforço da segurança. Tal como agora….

No que respeita à destruição do A-321 russo sobre o Sinai, parece claro que a segurança do aeroporto de Sharm El-Sheikh falhou na detecção dos terroristas, dos explosivos, e da sua colocação a bordo do avião; os serviços de segurança egípcios devem ter muito que explicar. Embora os ataques de Paris tenham desviado a atenção do atentado do Sinai, a verdade é que este foi mais mortífero (224 mortos, cerca de 90 a mais do que em França) e com consequências graves para o Egipto dado o impacto negativo no crucial sector do turismo.

Contudo, é bom ter presente que os recursos dos serviços de segurança são limitados e é impossível proteger tudo e todos e vigiar todos os perigos potenciais em permanência. Por isso, continuará a haver ataques terroristas.

PODE ACONTECER AQUI E A MIM?
Sim e sim. Pode acontecer a qualquer pessoa em qualquer lugar. É óbvio que um habitante de Celorico de Basto, de Trancoso, ou de Serpa corre um risco quase nulo. Aliás, Portugal é um país de baixo risco. Porém, a improbabilidade de tal acontecer ode maximizar o efeito surpresa e a destruição num eventual ataque.

PARA QUÊ?
O IS alcançou diversos objectivos com estes ataques. Conseguiu um golpe publicitário que focou em si a atenção de todo o mundo. Aumentou o seu prestígio, reputação e a aura que exerce um fascínio entre aqueles que a ele aderiram ou que por ele sentem alguma simpatia. Atingiu fortemente o inimigo e logo potências como a Rússia e a França. Lançou o medo e até a paranóia em milhões de pessoas, o que é um dos objectivos essenciais do terrorismo – provocar o terror. Do ponto de vista do IS, os atentados do Sinai e de Paris constituíram um sucesso em toda a linha.

OS ATAQUES DO IS SERÃO A SUA PERDA?
É possível. Os ataques a diferentes alvos e a multiplicidade de inimigos que vai criando e atingindo, aumentam a reacção contra o e a vulnerabilidade do Estado Islâmico.

E TAL NÃO REPRESENTA INCOMPETÊNCIA OU ESTUPIDEZ?
Não necessariamente. Estou convencido que a liderança do Estado Islâmico não é uma coisa nem outra. A liderança do IS encontra-se imbuída de uma crença messiânica de que tem de restaurar o Califado Abássida e levar até às últimas consequências as profecias do triunfo global do Islão sobre o Infiel.

Como tal, não procuram alianças, entendimentos, ou cooperação. O objectivo é destruir quem se oponha aos seus desideratos, mesmo que tal acarrete uma proliferação de inimigos e que conduza à sua destruição e ao martírio dos seus membros. Tratados de paz, cedências, acordos não são opção. É uma luta sem quartel, de vida ou de morte.

Será fanático e imprudente, mas tal é o Estado Islâmico e é com isso que temos de contar Luta sem tréguas até ao fim. Em Dabiq ou noutro sítio qualquer…



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