QUESTÕES SOBRE PARIS, O SINAI
E DABIQ
Destroços do Airbus
A321 da companhia russa Metrojet, alvo de atentado quando sobrevoava a Península
do Sinai.
in ABC News Australia at http://www.abc.net.au/news/2015-11-05/uk-says-russian-plane-possibly-brought-down-by-explosive-device/6913660
Quando ocorre um
ataque terrorista bem sucedido e de grande impacto, acometem-nos muitas
questões e inquietações. Porquê? Quem? Como? O que correu mal?
Não há respostas
únicas, infalíveis, ou que abranjam todas as situações, mas vamos tentar
responder focando-nos nos atentados de 13 de Novembro em Paris e, também, no
atentado contra o avião russo sobre o Sinai.
PORQUÊ?
Desconhecemos as
motivações específicas e o processo decisório da liderança do Estado Islâmico
(IS), mas há 3 justificações prováveis, que podem ser cumulativas.
1- Retaliar contra os ataques realizados pela Rússia e pela França
contra os muçulmanos em geral e contra o Estado Islâmico em particular.
2- Demonstrar a capacidade de atacar interesses relevantes dos Cruzados (um avião de passageiros), bem
como, no caso da França, atingi-la letalmente na sua capital.
3- Provocar os Estados atacados para que estes destaquem tropas para
combater na Síria/Iraque e assim materializar as profecias apocalípticas de um
confronto final entre o Islão e os Cruzados em Dabiq, no Norte da Síria.
QUEM?
A propaganda, a
doutrinação, o exemplo e o sucesso são as armas do IS para cativar e mobilizar
meios humanos. O recrutamento é
feito no terreno (Iraque e Síria primordialmente) e no estrangeiro onde
coexistam comunidades islâmicas, ressentimento e frustração, principalmente na
Europa, Norte de África e na antiga URSS. Para este efeito, o uso inteligente
da Internet, particularmente das redes sociais, tem-se revelado frutífero para
o IS e mortífero para os sues inimigos. Uma vez mobilizados, os efectivos são
treinados em missões de combate e (alguns) na montagem de engenhos explosivos
eficazes e fiáveis (todos os que foram activados em Paris detonaram) e está
montada a estrutura humana e técnica no terreno.
COMO?
Além do treino,
da mentalização e dos meios, é preciso traçar objectivos e delinear um plano
para os atingir. Tal requer tempo,
organização e disciplina para seleccionar e estudar os alvos, analisar os
riscos e as metodologias e garantir a coordenação quando, como foi o caso
em Paris, se trate de múltiplos ataques desencadeados simultaneamente.
Concomitantemente, tem de haver instalações para alojar os terroristas e
preparar as operações, veículos para o transporte, aquisição de documentos,
armas e explosivos. É, pois, uma operação morosa e elaborada e durante a qual
existem diversos momentos vulneráveis à detecção.
Ataques em
simultâneo e/ou em rápida sucessão exigem planeamento e coordenação apurados.
in STRATFOR at www.startfor.com
ALGUÉM FALHOU?
Tendo em conta
que houve participantes nos ataques que já estavam referenciados pelos serviços
de segurança da França, Bélgica e Turquia, alguns dos quais vieram da Síria,
acostaram na Grécia e atravessaram mais de meia Europa para chegar a França e
outros transitavam entre a França e a Bélgica e ainda o tempo, pessoas e meios
mobilizados para os ataques, tudo indica
que algo falhou na prevenção dos atentados. Mais a mais quando a França foi
alvo de ataques mortíferos há 10 meses, quando foi prometido um reforço da
segurança. Tal como agora….
No que respeita à
destruição do A-321 russo sobre o Sinai, parece claro que a segurança do
aeroporto de Sharm El-Sheikh falhou na detecção dos terroristas, dos
explosivos, e da sua colocação a bordo do avião; os serviços de segurança
egípcios devem ter muito que explicar. Embora
os ataques de Paris tenham desviado a atenção do atentado do Sinai, a verdade é
que este foi mais mortífero (224 mortos, cerca de 90 a mais do que em França)
e com consequências graves para o Egipto dado o impacto negativo no crucial
sector do turismo.
Contudo, é bom
ter presente que os recursos dos serviços de segurança são limitados e é
impossível proteger tudo e todos e vigiar todos os perigos potenciais em
permanência. Por isso, continuará a haver ataques terroristas.
PODE ACONTECER AQUI E A
MIM?
Sim e sim. Pode
acontecer a qualquer pessoa em qualquer lugar. É óbvio que um habitante de
Celorico de Basto, de Trancoso, ou de Serpa corre um risco quase nulo. Aliás,
Portugal é um país de baixo risco. Porém, a improbabilidade de tal acontecer
ode maximizar o efeito surpresa e a destruição num eventual ataque.
PARA QUÊ?
O IS alcançou
diversos objectivos com estes ataques. Conseguiu
um golpe publicitário que focou em si a atenção de todo o mundo. Aumentou o seu prestígio, reputação e a
aura que exerce um fascínio entre aqueles que a ele aderiram ou que por ele
sentem alguma simpatia. Atingiu
fortemente o inimigo e logo potências como a Rússia e a França. Lançou o medo e até a paranóia em milhões
de pessoas, o que é um dos objectivos essenciais do terrorismo – provocar o
terror. Do ponto de vista do IS, os atentados do Sinai e de Paris constituíram
um sucesso em toda a linha.
OS ATAQUES DO IS
SERÃO A SUA PERDA?
É possível. Os
ataques a diferentes alvos e a multiplicidade de inimigos que vai criando e
atingindo, aumentam a reacção contra o e a vulnerabilidade do Estado Islâmico.
E TAL NÃO REPRESENTA
INCOMPETÊNCIA OU ESTUPIDEZ?
Não
necessariamente. Estou convencido que a liderança do Estado Islâmico não é uma
coisa nem outra. A liderança do IS encontra-se imbuída de uma crença messiânica
de que tem de restaurar o Califado Abássida e levar até às últimas
consequências as profecias do triunfo global do Islão sobre o Infiel.
Como tal, não
procuram alianças, entendimentos, ou cooperação. O objectivo é destruir quem se
oponha aos seus desideratos, mesmo que tal acarrete uma proliferação de
inimigos e que conduza à sua destruição e ao martírio dos seus membros.
Tratados de paz, cedências, acordos não são opção. É uma luta sem quartel, de
vida ou de morte.
Será fanático e
imprudente, mas tal é o Estado Islâmico e é com isso que temos de contar Luta
sem tréguas até ao fim. Em Dabiq ou noutro sítio qualquer…
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